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Produtores do ES e PA ganham concurso nacional de qualidade de cacau

Eliane Silva

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

27/02/2019 17h48

A Bahia recuperou o título de maior produtora de cacau do Brasil em 2018, com 122,5 mil toneladas segundo o IBGE, mas quem venceu o 1º Concurso Nacional de Cacau Especial Qualidade e Sustentabilidade na última sexta-feira (22), em Ilhéus (BA), foram produtores do Espírito Santo e Pará. 

Marcia Fonseca, da Fazenda Santa Clara, de Linhares (ES), com o clone FJ02, ganhou na categoria varietal. Ervino Gutzeit, da Panorama, de Uruará (PA), foi o primeiro colocado na blend (mistura de variedades).

Na varietal, considerada a categoria mais importante porque exige que o produtor separe as variedades genéticas no plantio, colheita e fermentação, o segundo e terceiro lugares ficaram com os baianos Rogério Kamei (clone BN34) e João Tavares, com a variedade catongo, também chamada de chocolate branco. 

Tavares, pioneiro do cacau especial no Brasil, se tornou referência mundial em qualidade com o prêmio obtido em 2010 e 2011 no Salão do Chocolate de Paris, o maior evento do mundo ligado ao chocolate e ao cacau, considerado a "Copa do Mundo de Chocolate".

No blend, Elcy Gutzeit, filha de Ervino, ficou em segundo, e Gleibe Luis Torres Santos, da Bahia, em terceiro.

O concurso teve três etapas, com avaliação fisicoquímica em laboratório e análise sensorial de líquor. Na etapa final, que escolheu as amêndoas com mais potencial para bons chocolates, participaram chefs como Helena Rizzo, do Maní, a sommelier Carolina Oda e Diego Badaró, produtor e fabricante.

O evento foi realizado pelo CIC (Centro de Inovação do Cacau), em parceria com a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), a Câmara Setorial do Cacau do Brasil, indústrias moageiras e fábricas de chocolate.

Cacau gourmet para chocolates especiais

A maior parte da produção de cacau dos 53 participantes do concurso vai para venda commodity, mas eles investem cada vez mais na produção de amêndoas especiais, que requerem mais cuidado no plantio, manejo, colheita e fermentação, e são vendidas no Brasil e exterior como cacau fino ou gourmet, com maior valor agregado, para produção de chocolates de origem.

As amostras de amêndoas dos seis primeiros colocados e mais duas escolhidas pela Ceplac já seguiram para a França, onde vão passar por análises e, de 31 de outubro a 3 de novembro, representam o Brasil no Salão do Chocolate de Paris.

O último produtor brasileiro premiado em Paris foi Emir de Macedo Gomes Filho, em 2017. Ele é marido de Márcia Fonseca, a campeã do concurso nacional. Neto e filho de cacauicultores, Emir conta que, como ocorreu em Ilhéus, o fruto foi fundamental para a emancipação e desenvolvimento de Linhares, responsável por 90% do cacau do estado.

Queda de produção por causa de praga

A produção das fazendas do casal, que somam 385 hectares, sofreu uma queda vertiginosa em 2001, com a praga vassoura-de-bruxa, passando da média anual de 240 toneladas para 30 toneladas. 

"Foi devastador, mas renovamos 70 mil plantas, e hoje metade já está produzindo. Se não fossem os três anos consecutivos de seca que tivemos recentemente, já estaríamos colhendo 60 toneladas por ano." Cerca de 30% da produção hoje é de cacau fino, vendido a R$ 26 o quilo. Já o commodity vale R$ 8 o quilo.

Elcy Gutzeit, herdeira do pioneiro Ervino e chamada de "rainha do cacau do Pará", é quem administra as duas fazendas da família na região da rodovia Transamazônica, cada uma com 500 hectares.

Neste ano, ela plantou mais 10 mil pés de cacau no sistema agroflorestal, na sombra de bananeiras e outras árvores. No total, a produção feita em parceria com 30 famílias alcança 400 toneladas por ano, sendo 17 toneladas de cacau fino e potencial para subir a 30 toneladas neste ano. Os parceiros ganham 45% do que produzem.

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