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Apesar de tragédias, mineradoras de fora mantêm interesse no nosso subsolo

Vladimir Goitia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/02/2019 04h00

As tragédias nas barragens da Samarco e da Vale em Brumadinho e Mariana, ambas em Minas Gerais, não devem afastar mineradoras estrangeiras interessadas em explorar as riquezas do Brasil. A empresa de consultoria KPMG estima que os empreendimentos no setor se mantenham neste ano.

As fusões e aquisições na mineração não tiveram grandes variações após os rompimentos em Mariana (2015). Foram registrados os seguintes negócios em cada ano: 2015: 16 fusões e aquisições; 2016: 11; 2017: 16; 2018: 16, segundo a KPMG. O volume das transações não costuma ser divulgado por se tratar de "negócios estratégicos".

Após Brumadinho, foi formado um comitê de crise pelo governo federal e estão sendo estudadas mudanças na regulação do setor. Até lá, pode haver uma desaceleração momentânea nas decisões de novos investimentos, mas não serão inibidos, na avaliação de Paulo Guilherme Coimbra, sócio da KPMG. "Não se sabe como será essa regulamentação. Daí o olhar um pouco mais cauteloso do investidor, mas os [empreendimentos] não serão retraídos", disse.

Mineração gera 2,2 milhões de empregos

O setor é responsável por cerca de 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto), pela geração de mais de 2,2 milhões de empregos diretos e indiretos e por quase 12% de todas as exportações brasileiras.

Em recente pesquisa sobre fusões e aquisições, a empresa de consultoria KPMG constatou que, no ano passado, houve uma inversão na participação de investidores na mineração: o interesse diminuiu por parte dos brasileiros, mas aumentou entre os estrangeiros.

"Potencial da mineração não pode ser ignorado"

Paulo Misk, presidente e chefe de Operações da mineradora canadense Largo Resources, disse que "o Brasil é um país com oportunidades adormecidas. Temos potencial expressivo de crescimento, de desenvolvimento e de consumo. Não há como ignorar isso."

Especialistas disseram que mineração é um negócio de risco e de longo prazo, e os estrangeiros são mais abertos ao risco financeiro do que os investidores brasileiros.

"Quando falamos em negócio de risco, a referência é a questão financeira. Um bom projeto de mineração pode levar até dez anos para se estruturar e somente após o licenciamento ambiental estar apto a produzir e gerar caixa", afirmou Cinthia Rodrigues, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

"Existem métodos seguros na mineração"

Sobre Brumadinho, Misk declarou que o lixo orgânico gerado num restaurante, por exemplo, é inerente a essa atividade, com responsabilidade de quem o explora. "Na mineração, onde existem métodos seguros para o armazenamento de rejeitos, idem", disse.

Ele disse que a Largo Resources utiliza bacias com altura máxima de 20 metros e totalmente revestidas, onde metade do rejeito é empilhada a seco. "Barragens têm custo reduzido, porém oferecem mais riscos. Mas existem métodos que permitem que fatores de segurança neles fiquem reforçados", afirmou.

Canadense quer aumentar produção em 14 vezes

Embora não cite números, Misk disse que a Largo Resources não apenas está executando e colocando em prática o que a pesquisa da KPMG constatou como está em plena expansão de sua capacidade de produção na mina Menchen Maracás (Bahia).

Atualmente, a Largo Resources extrai dessa mina cerca de 840 toneladas por mês de vanádio. O projeto da companhia canadense é multiplicar por 14 e chegar a quase 12 mil toneladas/ano.

Vanádio pode deixar carro leve e econômico

Apenas um quilo desse vanádio misturado a uma tonelada de aço permite aumentar em 30% a resistência deste. Na prática, isso significa que carros fabricados com essa liga podem ficar mais leves e econômicos.

Minerais x aquecimento global

O Brasil tem potencial porque possui minerais e metais para prover cidades sustentáveis, eficientes e inteligentes. Segundo Misk, o desenvolvimento de energias limpas e renováveis será o novo motor para o segmento de mineração.

Cinthia, do Ibram, disse que haverá aumento de demanda para:

  • Alumínio
  • Cobre
  • Chumbo
  • Lítio
  • Manganês
  • Níquel
  • Prata
  • Aço
  • Nióbio
  • Vanádio
  • Zinco
  • Terras raras: índio, molibdênio e neodímio

Um exemplo são as baterias de armazenamento de energia elétrica em grande escala, que usarão alumínio, cobalto, ferro, chumbo, lítio, manganês e níquel, segundo Misk.

O Brasil é fornecedor fundamental de nióbio, vanádio, bauxita e minério de ferro. As reservas de nióbio, principal componente para fabricação de turbinas de aviões, somam quase 850 milhões de toneladas.

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