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Problema do país são os juros, e não Previdência, diz ex-secretário de FHC

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

18/03/2019 17h33

Os juros pagos pelo governo, e não os gastos com a Previdência, são os principais responsáveis pelo rombo nas contas públicas, afirmou hoje Paulo Kliass, secretário de Previdência Complementar entre 1998 e 2000, na gestão Fernando Henrique Cardoso.

Em evento sobre a reforma da Previdência na FGV (Fundação Getúlio Vargas), no Rio de Janeiro, o economista foi aplaudido ao criticar a proposta de reforma do governo Jair Bolsonaro e chamar de "parasita" o pagamento de juros da dívida pública.

A conta que mais pesa na União ninguém mencionou aqui: é a conta dos juros. Só no ano passado foram pagos R$ 380 bilhões em juros da dívida pública
Paulo Kliass, ex-secretário do governo FHC

"O ministro Paulo Guedes vai à televisão e diz que vamos economizar R$ 1 trilhão em dez anos [com a reforma]. Por que não economizar [esse valor] em três anos [com o fim do pagamento dos juros]? A despesa com juros é a que menos colabora do ponto de vista de crescimento da economia", afirmou.

Especialista diz que reforma não combate privilégios

Especialista em políticas públicas e gestão governamental, Kliass criticou também o discurso do governo de que a reforma acaba com privilégios.

"Os privilegiados, que são 1% da população, estão intocados nesta reforma porque não pagam um tributo sobre a renda que recebem. Há uma lei que garante a isenção para lucros e dividendos [para acionistas]. No ano passado, foram R$ 50 bilhões gerados em lucros e dividendos, e nenhum centavo foi recolhido em tributo. E os privilegiados são os que recebem um BPC (Benefício de Prestação Continuada) de um salário mínimo?", questionou.

Kliass afirmou que não são os beneficiários da Previdência Social que estão quebrando o país, pois, segundo o economista, 99,2% deles recebem um salário mínimo por mês.

"80% dos benefícios urbanos é inferior a quatro salários mínimos. O trabalhador ganha R$ 3.600 por mês e é rico?", disse.

Capitalização seria "panaceia" e "enganação"

O ex-secretário chamou de "panaceia" e "enganação" o modelo de Previdência que prevê a criação do regime de capitalização.

Adotaram [capitalização] na reforma do Chile nos anos 80. Hoje, a população idosa no Chile está na miséria. Imaginem o Brasil daqui a 35 anos? O Brasil só vai retomar o equilíbrio nas contas na hora em que se retomar o crescimento econômico
Paulo Kliass, ex-secretário do governo FHC

Apesar das críticas à proposta do governo Bolsonaro, Kliass diz que reformar a Previdência é necessário. "Mas a reforma anterior [do governo Temer] e essa reproduzem os mesmos vícios e não solucionam os reais problemas", concluiu.

Entenda a proposta de reforma da Previdência em 10 pontos

UOL Notícias