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Oposição de criador dos EUA à carne brasileira é "esperneio", diz entidade

Eliane Silva

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

25/03/2019 12h46

O presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Bovinas), Antônio Jorge Camardelli, afirmou que a oposição dos pecuaristas norte-americanos à possível retomada das importações de carne in natura do Brasil não passa de "esperneio".

Em comunicado nesta sexta-feira (22) no Facebook, a Associação dos Criadores de Gado dos EUA afirmou que considera o Brasil um país marcado por escândalos e que a volta das importações compromete a saúde do rebanho bovino americano.

Brasil fez correções, diz Abiec

Para Camardelli, o esperneio faz parte do jogo comercial, mas o governo americano fez a lição de casa e sabe que o Brasil fez todas as ações corretivas. O dirigente disse ainda que os criadores estão trabalhando contra si mesmos porque quanto mais o país comprar carne do Brasil, mais eles poderão exportar.

A possível retomada foi acordada nesta semana pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que integrou a comitiva do presidente Jair Bolsonaro em viagem aos EUA. Aplaudida pelo setor, a ministra trouxe do seu colega americano, Sonny Perdue, a promessa de que técnicos virão ao Brasil para inspecionar as plantas industriais a fim de retomar as exportações.

Carne com pus

O envio de carne in natura para os EUA foi paralisado em junho de 2017, após os americanos encontrarem abscessos (espécie de caroço com pus) em cortes dianteiros enviados ao país, resultado de reações da vacina contra a febre aftosa. Foram apenas sete meses de exportação, após cerca de 17 anos de negociação. Na época, o Brasil estava inserido no grupo de exportadores da América Central, com cota de 64 mil toneladas por ano.

"Por erro, irresponsabilidade nossa, exportamos carne com abscesso. Mas era apenas sujeira e não doença. Em momento algum colocamos em risco a saúde dos americanos", afirmou o pecuarista e vice-presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), Pedro de Camargo Neto.

Problema foi fato isolado, diz instituto

Para o presidente do Imac (Instituto da Carne do Estado do Mato Grosso), Guilherme Nolasco, a exportação com abscesso foi um fato isolado, divulgado de maneira equivocada, que trouxe graves consequências para o mercado interno e também externo na época.

O Mato Grosso, com 30 milhões de cabeças e 31 plantas com inspeção federal que exportam para a Europa e outros países, é responsável por cerca de 20% das exportações de carne brasileira.

Camargo Neto disse que a volta das exportações pode ser rápida, desde que os americanos queiram, já que eles conhecem bem as indústrias brasileiras. Há mais de 20 anos, o Brasil exporta para os EUA carne enlatada, que passa por processo de cozimento.

Carne brasileira para hambúrgueres

O mercado americano para a carne in natura brasileira é estimado em 50 mil toneladas de dianteiro, que devem ser usadas na fabricação de hambúrgueres e almôndegas. Isso não afeta o mercado interno, porque cerca de 80% da carne produzida fica no país.

O volume a ser exportado não importa tanto, segundo pecuaristas, dirigentes e especialistas do setor. Ricardo Nissen, assessor técnico da Comissão de Bovinocultura de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), disse que a reabertura é importante porque a gestão sanitária dos EUA é muito rigorosa.

Seria um aval, uma chancela para o Brasil abrir outros mercados importantes, como Canadá, México, Japão e Coreia do Sul.

No ano passado, o Brasil bateu recorde de exportações totais de carne com 1,643 milhão de toneladas, crescimento de 11% em relação a 2018, e receita de US$ 6,57 bilhões (aumento de 7,9%).

No primeiro bimestre deste ano, os embarques somaram 262.418 toneladas, um aumento de 6,7% em relação ao mesmo período de 2018. Em receita, o valor atingiu US$ 979,34 milhões, uma queda de 2,8%. Hong Kong e China são os principais compradores.

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