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Campanha da Chevrolet defendida por ministro é boa ou ruim para a marca?

Renato Pezzotti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/07/2019 07h00

A nova campanha da Chevrolet Brasil tem feito barulho nas redes sociais após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicar o comercial em sua conta no Twitter, no sábado (27).

O comercial recebeu muitas manifestações de apoio e críticas. Para alguns, o anúncio celebra o momento de se fazer algo positivo para o país. Para outros, há uma concordância com a agenda governamental. A empresa diz que é preciso se posicionar no mundo de hoje. Especialista diz que o movimento é legítimo, mas arriscado.

"O mercado não tem mais espaço para marcas que não se posicionam. É uma decisão fria e técnica. Estaremos sempre ao lado do homem do campo e do agronegócio", afirma Hermann Mahnke, diretor-executivo de Marketing da Chevrolet.

Segundo o executivo da montadora, a repercussão da campanha tem sido positiva. "Estamos frequentemente monitorando o engajamento da campanha. Hoje (29) capturamos 87% de menções positivas. É um número alto, que mostra que a linha de comunicação é consistente com a audiência", declara Mahnke.

Estratégia legítima, mas arriscada

"A estratégia é legítima, apesar de ser eticamente criticável", afirma Luiz Peres-Neto, professor de ética do PPGCOM (Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo) da ESPM São Paulo.

O acadêmico declara que o tom é arriscado. "Como a maioria das marcas, ela vende para todos os consumidores. Assim, dependendo do lado político de quem acompanha a empresa, isso pode afastar compradores", diz.

Peres-Neto ainda lembra que a reputação da empresa pode ser arranhada. "A marca não tem controle do que se fala dela, ainda mais quando atrelada à polarização política", afirma.

Executivo defende escolha

"Nossa estratégia é de longo prazo. Acreditamos que problemas de imagem aparecem para quem é oportunista. A S10 foi lançada no Brasil em 1995 e nunca esteve tão bem em vendas. Com o tom correto, estamos angariando advogados da marca", afirma Mahnke.

A Chevrolet tem decidido ir por este caminho deste 2017, quando lançou a primeira campanha com um tom semelhante ao utilizado agora.

Para Peres-Neto, a linha de comunicação é contrária às das grandes montadoras globais. "A comunicação anda fora do contexto global, quando se fala em maior proteção ambiental e diminuição da poluição. Há dois anos, ela foi criticada, mas talvez isso fique mais latente agora, com a divisão política do país", declara o professor.

Muito comentado na época, o comercial reforça que "as pessoas sempre apontam o dedo para quem vive do campo", mas que eles continuam "zelando pelo futuro do país". "Se pararmos, este Brasil para. É hora de valorizar quem carrega o país nas costas", dizia o anúncio.

Durante todo o sábado (27), a Chevrolet esteve em destaque entre os assuntos mais comentados do Twitter. O comercial recebeu manifestações de apoio e críticas:

O filme, criado pela agência Commonwealth/McCann com o mote #FeitaPraQuemFaz, afirma que "as pessoas podem até reclamar, mas se depender do desempenho do trabalhador rural acompanhado da S10, irão sempre reclamar 'de boca cheia'".

Em outro trecho, diz que as pessoas "reclamam que o pasto só aumenta", mas também "vão reclamar se o churrasco ficar mais caro".

Chevrolet também adotou tom político nas eleições

O tom político em uma campanha da Chevrolet não é novidade. A menos de uma semana do primeiro turno das eleições de 2018, a empresa veiculou uma campanha na qual pedia que as pessoas deixassem o conformismo de lado e acreditassem que era "possível mudar o país".

O comercial pedia um Brasil "onde o progresso é visto nas ruas, e não apenas numa bandeira", "um lugar onde o seu dinheiro vai para onde deveria ir" e onde "as coisas funcionam do jeito que deveriam funcionar".