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Moratória da Argentina afeta dólar e exportações no Brasil, dizem analistas

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

28/08/2019 21h27

Resumo da notícia

  • Moratória da Argentina deve ter reflexos no Brasil, principalmente no câmbio e nas exportações
  • Dólar pode bater seu recorde de preço do Plano Real, que é de R$ 4,196
  • Para especialista, BC deveria usar reservas internacionais para segurar o dólar
  • Em crise, Argentina deve importar menos produtos do Brasil
  • Investidores entendem diferenças entre Brasil e Argentina, dizem especialistas

A decisão da Argentina de pedir moratória ao FMI (Fundo Monetário Internacional) deverá respingar sobre o Brasil, principalmente no câmbio e nas exportações, afirmaram economistas ouvidos pelo UOL. O dólar poderá bater nesta quinta-feira (29) seu recorde de preço do Plano Real. A maior cotação é de R$ 4,196, registrada em 13 de setembro de 2018.

"A reação dos mercados será agressiva. Isso deve trazer mais pressão sobre o real, apesar das medidas anunciadas pelo Banco Central (BC) nos últimos dias para conter a alta do dólar. O mercado irá testar o BC. O volume de dólares que ele oferecer certamente será demandado pelo mercado", disse André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. Desde a semana passada, o BC começou a realizar leilões de dólar no mercado à vista, utilizando as reservas internacionais do país.

"O efeito é ruim para o Brasil, sem dúvida nenhuma. E, para piorar a situação no caso do câmbio, estamos no fim do mês. A sessão desta quinta e, principalmente, a de sexta, deverão ser muito nervosas no mercado porque há o vencimento de contratos futuros de dólar futuro e o fechamento da taxa Ptax do mês, que serve de referência para diversos contratos de câmbio", afirmou Alexandre Espirito Santo, economista da Órama.

BC deve usar mais reservas internacionais

Para o economista da Órama, o BC deverá aumentar o uso das reservas internacionais para tentar suavizar a alta do dólar frente ao real, mas considera que a valorização da moeda norte-americana é inevitável em momentos de grande turbulência externa.

"O câmbio já anda estressado por uma série de fatores. E certamente teremos o efeito psicológico da incerteza nesse momento. Eu acho que o BC precisa ter calma, mas deve utilizar a reservas, sim, abastecer o mercado para ajudar a aliviar o estresse", afirmou.

Pelos seus cálculos, a taxa de câmbio de equilíbrio (que corresponde a uma relação equilibrada das contas externas do país) deveria ser de R$ 3,70. "Como hoje a taxa está em R$ 4,20, então, significa que o BC está 'ganhando' dinheiro ao vender as reservas. É preferível ele gastar as reservas com um dólar 'caro' do que com um dólar 'barato'", disse Espirito Santo.

"O melhor que o Banco Central pode fazer agora é deixar o câmbio flutuar. Ele pode usar as reservas, mas precisa tomar cuidado para não gastar demais, porque tudo que ele oferecer de dólares o mercado vai aceitar", afirmou Perfeito.

Economia brasileira está mais saudável

Passado o impacto inicial da moratória argentina, os economistas acreditam que os investidores saberão diferenciar a situação da economia da Argentina e a do Brasil.

"Vai ficar claro que o Brasil não é a Argentina. Temos uma situação bem mais confortável, mais estável, a começar pelas reservas internacionais, que são muito maiores", disse Perfeito.

Exportações podem ser afetadas

Os economistas lembraram que a Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Uma crise econômica no país vizinho deverá prejudicar a procura por produtos brasileiros.

"O Brasil é muito diferente da Argentina no aspecto econômico. Não vejo possibilidade de acontecer um 'Efeito Tango' e contaminar o Brasil. Entretanto, você poderá ter alguma perda de crescimento por causa da redução da balança comercial. Algo como 0,2% ou 0,3% do PIB em 2020", declarou Espirito Santo.