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Pacote de máscaras de proteção sobe até 900% e é vendido a R$ 500 na Itália

28.fev.2020 - Turistas usam máscaras na Galleria Vittorio Emanuele 2º, um dos principais pontos turísticos de Milão - Miguel Medina/AFP
28.fev.2020 - Turistas usam máscaras na Galleria Vittorio Emanuele 2º, um dos principais pontos turísticos de Milão Imagem: Miguel Medina/AFP

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

28/02/2020 17h07

Resumo da notícia

  • Pacotes que antes custavam cerca de dez euros agora custam 100 euros na internet
  • No comércio local, preço também disparou
  • Brasileira conta que levou máscaras e álcool gel de São Paulo para Milão
  • Chineses subiram menos os preços porque os italianos estão evitando suas lojas, diz paulista

Com a chegada do coronavírus na Itália, máscaras de proteção e álcool em gel sumiram das prateleiras de mercados e farmácias do país. Quem teve a sorte de conseguir algum, revende a preço de ouro, principalmente na internet.

Em plataformas de comércio eletrônico, como Amazon e eBay, usuários chegaram a oferecer pacotes com 50 máscaras protetoras por 100 euros (R$ 494), valor 900% superior ao preço normal, de dez euros, segundo a imprensa italiana e relatos de brasileiros. A Promotoria de Milão abriu uma investigação para apurar os preços exorbitantes.

O "amuchina" de 80 ml, um desinfetante que costuma custar em média três euros (R$ 14,80) e é usado por lá como álcool em gel, foi encontrado a 22,50 euros (R$ 111,18), 650% acima do preço normal, de acordo o Codacons, associação que defende os consumidores do país. A entidade diz que pesquisou preços nos principais sites de comércio eletrônico.

"É uma especulação vergonhosa, destinada a ganhar dinheiro com o medo das pessoas, o que pode constituir fraude", disse Carlo Rienzi, presidente do Codacons, ao jornal italiano "La Repubblica". Ele apresentou uma queixa ao Ministério Público de Roma e à Guardia di Finanza, polícia especial do país ligada ao Ministério da Economia.

No comércio local, máscara subiu até 500%

Quando disponíveis no comércio local, os produtos também estão salgados, segundo brasileiros que moram na região da Lombardia, a mais afetada pelo vírus.

"Os pacotes com cinco máscaras comuns, que antes encontrávamos por 1,50 euro (R$ 7,40), agora custam em média nove euros (R$ 44,40)", o que dá um aumento de 500%, disse a cuidadora de idosos Maria Isa do Santos, 53, que vive em Bollate, nos arredores de Milão.

Nascida em Sertaneja (PR), Maria falou que ainda não conseguiu encontrar itens nas prateleiras, mas já reservou uma máscara em uma farmácia próxima de sua casa. O produto, no entanto, só deve chegar no final da semana que vem.

Brasileira leva máscaras e álcool do Brasil

A tatuadora Patricia Pereira Puglielli, 30, que mora com a família na Itália faz cinco anos, retornou para Milão nessa quinta-feira (27), depois de passar alguns dias em São Paulo. Com medo de não encontrar itens de proteção na Itália, resolveu levar alguns na mala.

"Estive em várias farmácias na região de Pirituba [bairro da capital paulista] e não encontrei máscaras de proteção, então resolvi comprar 28 máscaras de pintura em um bazar. Além disso, comprei 25 potinhos de álcool em gel para trazer. Gastei R$ 200 com tudo", falou.

Italianos evitam lojas de chineses, diz brasileiro

Rafael Estephano Rodrigues, 32, que trabalha como motorista de aplicativo em Parabiago, perto de Milão, disse à reportagem que sempre precisa ter álcool em gel em seu carro para oferecer para os clientes.

"Paguei dez euros (R$ 49,40) no último pote de 'amuchina' que comprei. Até então, eu costumava gastar entre três e quatro euros", falou o paulista, de Araraquara.

Na manhã desta sexta-feira (28), Rodrigues conta que sua esposa descobriu preços "quase normais", de 4,50 euros (R$ 22,20), em lojas administradas por chineses.

"O pessoal não está indo em lojas de chineses por nada, pois está rolando muito preconceito. Acho que por isso os itens de proteção nesses locais ainda estão baratos, para atrair as pessoas", disse.

Turista usa máscara de proteção perto do Coliseu, um dos principais pontos turísticos de Roma - Andreas Solaro/AFP - Andreas Solaro/AFP
Turista usa máscara de proteção perto do Coliseu, um dos principais pontos turísticos de Roma
Imagem: Andreas Solaro/AFP

Ganhar com o pânico dos outros

A professora de microeconomia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Renata Moura Sena, disse que o aumento de preços em períodos de escassez de produtos segue o princípio econômico clássico da oferta e da procura.

"Quando há aumento da demanda, e a oferta não acompanha, os preços sobem, o que é normal do ponto de vista econômico. Então um produto passar de quatro euros para dez, por exemplo, está no padrão", disse.

Entretanto, falou Renata, quando o aumento é exagerado e ocorre no meio de uma situação de saúde pública, o cenário é outro.

"Nesses casos, quando os preços estão desproporcionais, como apontaram as autoridades italianas, então estamos diante de pessoas querendo ganhar em cima do pânico dos outros, e é essencial a interferência do poder público", afirmou.

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