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Para sobreviver, bares e salões de beleza dão desconto em compra antecipada

Salão do pub vietnamita Bia Hoi, em São Paulo - Divulgação
Salão do pub vietnamita Bia Hoi, em São Paulo Imagem: Divulgação

Renata Turbiani

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/03/2020 18h17

A drástica redução no movimento de consumidores, provocada pela pandemia do coronavírus, e a adoção de quarentena em alguns Estados estão levando restaurantes, bares e salões de beleza a fecharem as portas temporariamente.

Para não precisar demitir os funcionários e fechar de vez, alguns estabelecimentos de São Paulo tiveram a ideia de oferecer vouchers com descontos ou vantagens para as próximas visitas. O cliente compra o serviço agora, mas só vai usá-los no futuro, quando a crise estiver sob controle e os estabelecimentos reabrirem.

Pague R$ 30, leve R$ 40

É o que está fazendo o pub vietnamita Bia Hoi, instalado no bairro da República, na região central.

Fernando Brito, sócio-proprietário do local, conta que o movimento ainda era razoável até pouco mais de uma semana. Porém, entre os dias 16 e 20 de março, caiu 95%. "Em cinco dias, tivemos apenas 12 clientes presenciais, isso é menos de um terço do que recebemos normalmente em um dia fraco, como terça-feira."

Para tentar se manter, o pub passou a oferecer delivery com frete grátis pelos aplicativos iFood e Rappi. Mas também foi além. Desde o dia 19, vende créditos por R$ 30, R$ 50 e R$ 100. Quando a situação se normalizar, esses créditos darão direito de consumir, respectivamente, R$ 40, R$ 65 e R$ 140 no pub. Eles podem ser comprados pelo Instagram do pub.

Em menos de 24 horas, 25 clientes apoiaram a iniciativa. "Estamos bem felizes com o retorno, e esperamos que o boca a boca nos ajude a manter esse patamar", disse Brito, acrescentando que as vendas serão revertidas, principalmente, para o pagamento dos salários da equipe. "Temos, hoje, 12 funcionários, e nosso objetivo é que todos continuem com a gente depois que essa crise passar."

De drink e cerveja a foto na parede

Paulo Fioratti Filho, sócio do bar FFFront, em São Paulo - Divulgação - Divulgação
Paulo Fioratti Filho, sócio do bar FFFront, em São Paulo
Imagem: Divulgação

O FFFront, bar e casa de shows localizado no bairro Sumarezinho, na zona oeste, também está apostando na venda de vouchers. Fechado desde o dia 15 de março e com previsão de retornar apenas em 31 de julho, o bar dos sócios Paulo Fioratti Filho e Daniel Pereira iniciou uma promoção na semana passada, no site Abacashi.

As opções vão de R$ 20, que compram um drink, três cervejas ou entrada para um show, até R$ 10 mil, para a entrada em uma festa open bar para até cem convidados, além de foto emoldurada na parede do estabelecimento.

"Nosso negócio é pequeno, somos em apenas cinco, contando comigo e com meu sócio. Não temos fluxo de caixa e não conseguimos guardar dinheiro por muito tempo. Então tivemos essa ideia, espelhada em bares de amigos, para monetizar e sobreviver", relatou Fioratti Filho.

Até a publicação desta reportagem, o FFFront tinha arrecadado R$ 4.790. "Ressalto que esse sistema não é doação. As pessoas estão apenas comprando antecipadamente para usar depois. Assim, conseguiremos honrar os nossos compromissos, como sempre fizemos", disse o proprietário.

"Primeiro vamos pagar os funcionários"

Salão do bar Scar, em São Paulo - Divulgação - Divulgação
Salão do bar Scar, em São Paulo
Imagem: Divulgação

O bar Scar, na Barra Funda, está fechado desde o dia 17 de março e não tem previsão de retorno. . Lá, são quatro vales disponíveis: de R$ 20, R$ 50, R$ 100 e R$ 200. As compras podem ser feitas pelo Instagram do bar

"Foi a solução que encontrei no susto, algo emergencial mesmo. Por enquanto, tivemos 30 vendas, que ajudarão a pagar primeiro os funcionários, depois os fornecedores, começando pelos pequenos, o aluguel e os tributos. Meu gasto fixo mensal com a casa gira entre R$ 20 mil e R$ 25 mil", disse o proprietário, Guilherme Scarano.

Momento é de criatividade, diz especialista

Para Percival Maricato, presidente da Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), essa é uma alternativa criativa e, a essa altura, todos devem olhar para algo do tipo.

"O que também sugerimos é fazer o incremento do delivery, divulgações nas regiões mais próximas e renegociar os contratos, tudo para manter os empregos e o setor vivos, destacando que hoje ele emprega seis milhões de pessoas e tem dois milhões de pequenos empresários."

Salões de beleza também aderem ao voucher

Anna Gadelha, do salão de beleza Galeria Recorte - Divulgação - Divulgação
Anna Gadelha, do salão de beleza Galeria Recorte
Imagem: Divulgação

No setor de serviços, os salões de beleza ficarão fechados até o dia 5 de abril por causa de um decreto da prefeitura de São Paulo. Alguns também viram na venda de vouchers a possibilidade de manter seus negócios. O salão Galeria Recorte, na rua Augusta, é um deles.

A ação funciona assim: a pessoa escolhe um cabeleireiro e o valor do voucher. O profissional recebe o dinheiro agora e, quando os trabalhos voltarem, basta o cliente agendar o horário. A compra pode ser feita por transferência bancária ou pelos aplicativos Rappi e AME —neste último, até o 31 de março, o cliente recebe 30% de volta em cashback.

"Nesta semana, foi muito perceptível a queda no movimento. Estávamos com uma agenda boa, e aí começaram os cancelamentos, mesmo com a gente tomando todas as providências recomendadas pelos órgãos de saúde. Reunimos, então, a equipe, e tivemos a ideia da ação", conta Anna Gadelha, que se define como idealizadora do local.

A jornalista Márcia Scapaticio comprou voucher do Galeria Recorte - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A jornalista Márcia Scapaticio comprou voucher do Galeria Recorte
Imagem: Arquivo pessoal

Em dois dias, o salão vendeu 22 vales. Um deles foi comprado pela jornalista Márcia Scapaticio, de 37 anos. "Frequento o Recorte há pelo menos cinco anos, uma vez por mês. O mínimo que eu podia fazer, neste momento, é apoiar o salão, até porque eu não sou uma trabalhadora informal e o meu salário do mês que vem está garantido, mas o do pessoal de lá, não", disse ela, que colaborou com R$ 100.

Anna afirmou que o valor arrecadado será usado para pagar, preferencialmente, os salários dos funcionários que atuam em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e as comissões dos autônomos. O que sobrar será destinado às demais despesas —o gasto fixo mensal do local é de cerca de R$ 30 mil.

Rosana Stievano, do salão de beleza Mássima Beleza e Bem-Estar, em São Paulo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rosana Stievano, do salão de beleza Mássima
Imagem: Arquivo pessoal

O Mássima Beleza e Bem-Estar, localizado na Vila Progredior, zona sul, é mais um salão que aderiu aos vouchers. O que ele está oferecendo é um crédito de R$ 400 com 20% de desconto nos serviços na hora do uso. Se o funcionamento não retornar até o final de maio, o salão devolverá o valor.

Por exemplo, o preço para fazer pé e mão cai de R$ 58 para R$ 46,40 com o voucher. O pacote de drenagem linfática passa de R$ 720 para R$ 576, e o corte, de R$ 78 para R$ 62,40.

"Com isso, as clientes terão um preço melhor quando voltarmos e eu ficarei em dia com os funcionários e não terei tanto prejuízo com o cheque especial, porque ainda preciso pagar aluguel, tributos, água e luz.", disse a dona do salão, Rosana Stievano. Em menos de 24 horas, ela conseguiu R$ 6.000 com a ação.

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