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Imprimir dinheiro não é a melhor saída contra crise, diz presidente do BC

Do UOL, em São Paulo

09/04/2020 16h29Atualizada em 09/04/2020 19h17

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse em entrevista ao vivo ao UOL que imprimir dinheiro para conter a crise do coronavírus, como tem sido defendido, não é uma boa saída (veja a íntegra da conversa no vídeo acima, a partir de 1min50).

"Eu acho que o argumento de imprimir dinheiro porque a inflação está relativamente baixa é perigoso porque se temos um sistema de meta de inflação que tem assimetrias, se você imaginar que, quando você está embaixo, você vai imprimir dinheiro para atingir a meta, você vai fazer com que o seu equilíbrio de juros neutros seja um pouco mais alto", disse durante entrevista nesta quinta-feira (9) ao UOL.

"Eu acho que a saída não é por aí. É uma ideia, estamos sempre dispostos às ideias, mas hoje nós não entendemos que é a melhor saída não".

Entre os que sugeriram essa medida, está o secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, durante entrevista à BBC News.

Brasil precisa "voltar aos trilhos" após crise

Campos Neto também declarou que o compromisso do governo com o ajuste fiscal será mantido. Para ele, é importante sinalizar para o mercado que as reformas serão realizadas após a pandemia.

"Aqui o mais importante não é a saída do trilho, o desvio. O mais importante é mostrar para o mercado que você vai voltar pro trilho na frente. Então quanto mais separada for a administração, quanto mais separados forem os orçamentos de crise, quanto mais claro ficar que nós vamos voltar (para o trilho), menor vai ser o custo", afirmou o presidente do BC.

Ele também declarou que o Congresso deve ter cuidado na análise de propostas que podem ter forte impacto nos cofres públicos e exigir gastos exagerados. Ele afirmou que isso traz incertezas e preocupa o mercado.

"À medida que você tem essas medidas fiscais e, por exemplo, dias em que aparecem projetos muito criativos no Congresso, o que acontece com a curva de juros? Ela sobe, exatamente porque volta a precificar [incorporar] essa incerteza", disse.

Evitar concentração bancária

O presidente do BC disse saber que existe o risco de haver concentração bancária nesta crise como ocorreu em crises anteriores, mas que está trabalhando para evitar.

"Todas as grandes crises trocaram a estabilidade do sistema financeiro por um sistema mais concentrado. A gente está tomando todas as medidas para que isso não aconteça. Principalmente no que tange à continuação dos nossos programas de competição bancária", disse.

"Obviamente quando você tem essa corrida por liquidez e o preço do dinheiro fica mais caro, você tende, pela forma como o BC opera, a colocar mais liquidez nos bancos maiores, então sim, isso tem uma consequência. Eu acho que a nossa tarefa aqui é não deixar que essa crise nos leve ao ponto anterior, onde as pessoas estavam relativamente tranquilas com o sistema que nós tínhamos e não provocavam a competição".

"O nosso sistema, apesar de ser concentrado é até relativamente competitivo, o que eu preciso fomentar é essa continuação do processo de fintechs, cooperativismos, essas empresas simples de crédiio, tudo isso a gente vai continuar fazendo".

"Inclusive grande parte das medidas que fizemos foram para que essa concentração não acontecesse na forma de simplesmente dar mais liquidez para quem tem mais. Estamos fazendo medidas para cooperativismo, para continuar a portabilidade, a competição bancária. De fato existe essa preocupação".

Oportunidade para fintechs

Questionado sobre os 9 milhões de brasileiros que não têm acesso a contas bancárias, mas que se inscreveram para receber o coronavoucher - é o caso de 40% dos inscritos -, Campos Neto respondeu ver uma oportunidade de não só os bancos, mas também as fintechs, incluírem essas pessoas no sistema financeiro.

"Eu acho que é uma oportunidade para quem tem esse nicho, essa capilaridade para entrar no mercado. De fato, 54% das classes D e E não têm conta em banco, isso é um fato. A gente vê que existe essa dificuldade. Entendemos que essas pessoas precisam ser atendidas."

"A Caixa Econômica tem uma capilaridade enorme, é o banco que tem mais capilaridade. Através das lotéricas você consegue ter um alcance incrível. Eu acho que foi demonstrado em termos de capacidade de processar e pagar que a Caixa de fato tem essa aptidão, mas a gente tem que atender os que estão embaixo também. Eu acho que é uma oportunidade para as fintechs, uma oportunidade grande".