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Venezuela e Cuba estão entre os países que mais importaram arroz brasileiro

10.set.2020 - Vista de plantação de arroz na zona rural de Araranguá (SC) - Guilherme Hahn/Estadão Conteúdo
10.set.2020 - Vista de plantação de arroz na zona rural de Araranguá (SC) Imagem: Guilherme Hahn/Estadão Conteúdo

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

11/09/2020 12h07

O aumento de 73% nas exportações do arroz brasileiro foi um dos motivos para a subida dos preços do produto nos supermercados. Mas para onde está indo o grão produzido aqui?

O Brasil exporta arroz para 109 países. Na lista dos dez maiores compradores, chama a atenção a Venezuela, que adquiriu 20% de todo o arroz exportado pelo Brasil. No ranking também constam países como Peru (11%), Cuba (7%) e Estados Unidos (4%).

Na lista dos compradores, 36 países aumentaram a importação do Brasil entre janeiro e agosto deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Outras 25 nações que não adquiram nada em 2019 agora engrossam a lista de compradores.

No total, as exportações de arroz passaram de 665 mil toneladas de janeiro a agosto do ano passado para 1,15 milhões de toneladas no mesmo período deste ano.

A Venezuela, que encabeça a lista, já comprava bastante arroz do Brasil e adquiriu 32% a mais neste ano —um acréscimo de 60 mil toneladas. Cuba também aumentou a compra do produto brasileiro, em 110%.

Segundo Tiago Barata, diretor-executivo do Sindarroz (Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul), os dois países são considerados compradores consolidados do Brasil e adquirem o produto daqui há mais de cinco anos. Mas também têm outros fornecedores, além do Brasil.

"Os países das Américas têm como opção de abastecimento duas regiões: países do Mercosul e os Estados Unidos", disse Barata.

O que eu vejo é que a relação entre Brasil e Venezuela é consolidada, influenciada por questões comerciais. Os operadores brasileiros têm know-how [conhecimento] de venda para a Venezuela, inclusive de outros produtos. Não é nada especial. Eles compram bastante do Uruguai e do Paraguai também.
Tiago Barata, Diretor-executivo do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul

A África do Sul teve um salto de quase 300 vezes no volume importado daqui. De 144,3 toneladas no ano passado, passou para 42,8 mil toneladas. Já os Estados Unidos registraram um aumento de 240% de um período para outro.

Montenegro ou México?

Também chama a atenção o caso de Montenegro, pequeno país europeu, de pouco mais de 620 mil habitantes, que do zero em 2019 saltou para 88 mil toneladas adquiridas do Brasil neste ano.

Barata explica que Montenegro aparece nas estatísticas só no papel, por questões burocráticas, porque a empresa que fez essa operação tem matriz lá. O destino desses grãos, na verdade, foi o México.

"O México é um país que compra muito arroz, 80% do que precisa consumir vem de fora. O principal fornecedor são os Estados Unidos. Nos últimos anos, Uruguai e Paraguai vem vendendo bem para o México, mas o Brasil não vendia nada porque existe uma tarifa de importação muito elevada", afirmou.

Valorização do dólar

O crescimento das exportações de arroz pode ser explicado pela valorização do dólar, somado ao baixo preço do grão no mercado interno.

Segundo a diretora-executiva da Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz), Andressa Silva, a saca de 50 quilos de arroz estava sendo vendida no Brasil por R$ 55 a R$ 60, no começo da pandemia. Mas nos portos chegou a ser comercializada a R$ 120. "O preço está muito defasado por aqui", disse.

Com o preço baixo no Brasil, muitos produtores decidiram exportar o grão. Com menos arroz no mercado interno, o preço acabou subindo nas gôndolas por aqui.

Grandes produtores mundiais reduziram exportações

Outro fator importante é que tradicionais países produtores do grão suspenderam ou diminuíram as exportações.

"Esses países tiveram que procurar outras fontes de oferta", disse Adalmir Marquetti, economista e professor da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

Considerada o maior produtor do grão no mundo, a China foi impactada por uma série de inundações que provocaram quebra na safra, forçando a redução das exportações.

A Índia —que ocupa a vice-liderança na fabricação do arroz— e a Tailândia suspenderam a venda para o exterior devido à pandemia e para valorizar o mercado interno desses países, segundo a diretora-executiva da Abiarroz. Com isso, o produto brasileiro passou a ser visado.

O arroz brasileiro é muito barato. O produtor estava muito desvalorizado, teve sequência de safras no prejuízo e alguns foram buscar outras culturas, como a soja. Entendo [o aumento nas exportações] como um movimento natural e circunstancial. É uma tempestade perfeita, com dólar alto e preço do produto em baixa.
Andressa Silva, diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz

Produção do Brasil caiu nos últimos anos

A produção de arroz no Brasil também vem diminuindo, segundo Marchetti. Em dez anos, caiu 11%, de 12,6 milhões de toneladas colhidas em 2009 para 10,5 milhões de toneladas no ano passado.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta recuperação na safra deste ano, com a colheita de 11,2 milhões de toneladas do grão.