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Itens da ceia disparam e deixam Natal de 2020 mais caro; pernil sobe 31%

Preços em Campinas (SP) são maiores que os do ano passado; pernil suíno chega a R$ 36/kg - Felipe de Souza/UOL
Preços em Campinas (SP) são maiores que os do ano passado; pernil suíno chega a R$ 36/kg Imagem: Felipe de Souza/UOL

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

19/12/2020 04h00

Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE) aponta que 16 itens consumidos na ceia de Natal tiveram aumento, em média, de 15%. O pernil de porco subiu 31%, e arroz atingiu 62%, caso do arroz. O Índice de Preço ao Consumidor (IPC) foi calculado no período entre dezembro de 2019 e novembro deste ano. Para o economista responsável pelo estudo, a desvalorização do real frente ao dólar é um dos motivos para a alta.

Foram avaliados os chamados "itens de mesa", comuns nos pratos de brasileiros, como arroz, batata inglesa, cebola, ovos, carne suína, azeite, sucos de fruta e refrigerantes, e outros mais consumidos nessa época, como bacalhau, azeitonas em conserva, bolos prontos e vinhos.

Primeiro item: arroz

O arroz, que disparou no meio do ano e chegou a custar mais de R$ 30 o saco com 5 kg, aparece como líder no ranking do aumento: 62,08%. Para o economista responsável pelo estudo, André Braz, além da alta do dólar (que ultrapassou R$ 5,80 este ano), a falta de produto no mercado interno afetou os preços.

"Houve uma diminuição da área plantada. Isso causou uma redução na oferta do produto aqui no país e pressionou a cadeia produtiva até chegar ao consumidor", declarou ao UOL.

Agora, os pratos principais

A desvalorização do real também é apontada como fator para o aumento nos preços das carnes de porco. O pernil suíno subiu 30,55% no período de 12 meses, enquanto o lombo suíno teve aumento de 20,14%.

O UOL mostrou, em outubro, que o aumento nas exportações do milho e soja causou a subida nos preços.

"A exportação cresceu muito, especialmente para a China, após a recuperação do país asiático por causa da pandemia de coronavírus. Isso, mais o dólar alto na época, fez com que lá fosse mais vantajoso vender para fora do que aqui. O preço do produto aumentou muito no mercado interno, o que aumentou também os custos de produção nas fazendas", afirmou Braz.

A mesma situação foi detectada no preço do frango inteiro (que inclui peru): alta de 14,51%. Por consequência, os ovos também aumentaram: 14,21%.

O bacalhau aumentou 10%, pressionado pelo dólar.

Os complementos também subiram:

  • Batata inglesa: 10,67%
  • Frutas: 14,99%
  • Bolo pronto: 3,53%
  • Azeite: 9,72%
  • Azeitona em conserva: 13,29%
  • Refrigerantes e água mineral: 3,73%
  • Sucos de fruta: 3,37%
  • Vinho: 3,94%

Apenas dois itens tiveram redução de preço durante esse período: os refrescos de fruta em pó, que caíram pouco (0,12%), e a cebola, com queda de 15,7%.

"Apesar de o aumento das exportações ter sido muito bom para a balança comercial, é um desafio para a inflação, porque pressiona o mercado interno. Para dezembro, os preços ainda continuam altos, até por causa da demanda, e quem sabe em 2021 uma estabilidade cambial maior e safras maiores podem fazer com que os preços diminuam", disse Braz.

O rombo no bolso é grande

Em Campinas (SP), o UOL encontrou o pernil sendo vendido a R$ 36,90/kg este ano. Em 2019, a reportagem pagou aproximadamente R$ 27/kg.

Para o empresário campineiro Ademir dos Reis, que tem uma família de 12 pessoas que passa o Natal junto, as festas este ano não serão marcadas pela fartura de comida. "E nem tem condição, não é? Quem recebe cesta de fim de ano leva o que tem para fazer, e as demais coisas nós vamos comprando aos poucos. Não vai mais ter tanto arroz, vamos partir para uma salada, coisas assim", disse.

Essa troca de ingredientes também vai ser vista na mesa da ceia da dona Natalina de Paula, que mora em Assis (SP). Uvas, pêssegos e ameixas vão aparecer bem pouco —e mais por insistência da aposentada de 74 anos, que tem uma superstição com as uvas. "Mas o preço que tá, é impossível. Vai ser só um pouquinho para garantir a minha promessa", afirmou.

"Foi um ano bem difícil. Cheguei a ficar sem comer arroz alguns meses por causa do preço. Mas é Natal, né? Tenho que levar um pouco que seja", declarou a dona de casa Maria das Lourdes Garcia, de Sumaré (SP).