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Para analistas, fusão de Lojas Americanas e dona do Submarino ajuda cliente

Fusão deve aumentar oferta de produtos nas Lojas Americanas e na B2W - Wikimedia Commons
Fusão deve aumentar oferta de produtos nas Lojas Americanas e na B2W Imagem: Wikimedia Commons

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

24/02/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Lojas Americanas e B2W, dona do Submarino, anunciaram planos para combinar operações
  • Lojas Americanas já são donas da B2W, então combinação não deve afetar concorrência, segundo advogada
  • Integração de lojas físicas e comércio eletrônico vai ampliar ofertas de produtos e serviços, dizem analistas

A combinação das operações das Lojas Americanas com a B2W, dona de lojas online como Submarino, deve aumentar a oferta de produtos e serviços aos clientes dos dois negócios e melhorar a experiência do consumidor, dizem especialistas em varejo.

As Lojas Americanas já são a controladora da B2W, detendo 62,5% do capital da empresa. Mas as duas companhias operam de forma separada, tendo cada uma sua própria diretoria, cada qual com ações em Bolsa. Segundo analistas, essa divisão acaba afetando o atendimento ao consumidor final.

Para o consumidor, isso pode representar alguma dor de cabeça em determinadas situações. Por exemplo, se tiver problemas com a entrega de um produto adquirido nas Americanas.com, o cliente não consegue resolver a pendência numa loja física das Americanas.

Pouco ainda se sabe sobre a possível fusão, mas o foco, a princípio, é unificar as operações digitais das Americanas.com com as das milhares de lojas físicas da rede. Tal integração já ocorreu em marcas concorrentes e, do ponto de vista do consumidor, os impactos se mostraram positivos.
Marcela Cavallo, advogada do Zilveti Advogados

Segundo a advogada especialista em direitos do consumidor, o cliente poderá optar pela proximidade de um atendimento físico ou pela praticidade de um atendimento online sem se preocupar com fatores como diferença de preços, qualidade do produto, entre outros. "A integração também é vantajosa para a experiência deste cliente com a marca. Um exemplo disso é a possibilidade de trocar em uma loja física um produto adquirido via e-commerce, e vice-versa. O pós-venda se torna mais prático também", afirma Marcella.

Juntas, as empresas possuem hoje uma rede de 1.700 lojas físicas em 750 cidades do país e um shopping online, o chamado marketplace, com mais de 87 mil vendedores.

Exemplo do Magazine Luiza

A decisão tomada pelas Lojas Americanas mostra que o objetivo maior é mesmo colocar o consumidor no centro das decisões, dizem profissionais de mercado.

Segundo o analista da Reach Capital, Maurício Rahmani, especialista em varejo, quando a B2W foi criada, havia a mentalidade de que o comércio seria dominado por empresas puras de e-commerce e que a operação física não seria competitiva junto com uma operação online - e por isso, o melhor era manter tudo separado.

Com o tempo, as empresas viram que fazia sentido buscar sinergias entre as operações online e física. Ao combinar operações, é possível tomar decisões com uma cabeça única. Todos os acionistas no mesmo barco, as decisões tendem a ser mais acertadas. E o caso da Magazine Luiza mostrou isso.
Maurício Rahmani, analista da Reach Capital

Consolidação é risco no longo prazo?

A decisão de Lojas Americanas e B2W juntarem as operações em uma mesma empresa, com comando único, mostra que o futuro é o da consolidação de vários negócios em uma mesma plataforma, onde o consumidor poderá adquirir produtos, contratar serviços financeiros, fazer pagamentos, comparar preços, afirma o sócio diretor da Gouvêa Consulting, Jean Paul Rebetez, da Gouvêa Ecosystem, especializada em varejo.

O que vemos é a configuração de um ecossistema que busca ganhar eficiência operacional e ao mesmo tempo acesso a um universo de dados consolidados de consumidores. As empresas conseguem mais dados centralizados e, assim, o poder para oferecer serviços, produtos. Para o consumidor, isso é superpositivo. Mas claro que tem a questão da consolidação.
Jean Paul Rebetez, sócio diretor da Gouvêa Consulting da Gouvêa Ecosystem

A consolidação de negócios em que os dados de milhões de consumidores podem ser acessados, analisados e usados por um mesmo grupo enfraquece, no médio e longo prazo, os pequenos negócios.

Os pequenos varejistas terão que aderir a essas plataformas, para vender via marketplaces como os do Magazine Luiza, ou o do Universo Americanas ou Mercado Livre. Se esse ambiente, no longo prazo, pode levar a menor espaço para ofertas e preços baixos, é um ponto que permanece no radar, admitem analistas.

Mas hoje, o impacto para o consumidor é positivo. E a operação não deve ser impedida pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), dizem especialistas.

Nos dias de hoje, a junção entre estruturas físicas já existentes com o crescente mercado digital, resultando em mercados integralizados, se mostra mais cada vez mais necessária. Portanto, avalio que o Cade não deverá criar maiores empecilhos, tomando em conta que tanto o varejo físico, como o eletrônico, encontra-se bastante pulverizados, ainda mais com a entrada de grandes players internacionais, tais como a Amazon, mitigando a possibilidade monopólio de preços e/ou mercado.
Douglas de Oliveira - sócio do Oliveira, Vale, Securato & Abdul Ahad Advogados
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O que muda para quem comprar numa das empresas antes da união? Segundo a advogada do Zilveti Advogados, os direitos do consumidor devem ser sempre resguardados. Além dos direitos básicos previstos nas relações de consumo pelo Código de Defesa do Consumidor, que valem tanto para o comércio físico, quanto para o eletrônico, os contratos e condições de compra devem ser mantidos da forma como foram estabelecidos, não podendo ser impactados por operações das empresas que o atendem, muito menos alterados por conta de uma mudança nas operações da marca.

"Caso exista um dano a ser reparado, tanto material como moral, o consumidor deve propor ação judicial buscando, além da correção da prática abusiva, indenização pelos danos" diz Marcela Cavallo, advogada do Zilveti Advogados.