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Na pandemia, país bate recorde de fusões, mas estrangeiros evitam negócios

Leonardo Dell"Oso, sócio e líder da área de fusões e aquisições da PwC Brasil - Cleuber Dias Terrão/PwC Brasil
Leonardo Dell'Oso, sócio e líder da área de fusões e aquisições da PwC Brasil Imagem: Cleuber Dias Terrão/PwC Brasil

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

09/03/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Número de fusões e aquisições no Brasil cresce 14% em 2020 e bate recorde, mas atuação de estrangeiros é a menor desde 2009
  • Em 2020 foram fechadas 1.038 transações; recorde anterior era de 2019, com 912 negócios. Levantamento começou em 1993
  • Crise da pandemia criou oportunidades para empresas comprarem concorrentes, diz sócio da PwC
  • Andamento de reformas, retomada de processos de conceções e privatização são fatores que influenciam investimentos em fusões e aquisições

O Brasil bateu em 2020 o recorde de fusões e aquisições dos últimos 27 anos. Os dados são do relatório M&A 2020, da empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil, que faz esse tipo de apuração desde 1993. Em 2020, foram realizadas 1.038 transações. O recorde anterior era de 2019, com 912 negócios. Mas a participação dos estrangeiros nos negócios caiu. A política e a economia instáveis são as responsáveis por essa fuga, dizem analistas.

Em relação a 2019, a alta na quantidade de negócios foi de 14%. O desempenho de 2020 também superou em 48% a média de operações ao longo dos últimos cinco anos, que é de 701.

Crise acelerou as fusões

A crise acelerou os processos de aquisição e fusões. De um lado, alguns setores que foram negativamente afetados pela crise, como o aéreo, o turismo, o varejo de lojas físicas e serviços, precisam de capital para sobreviver. Por outro lado, empresas mais fortes de setores que ganharam com a crise, como o de tecnologia, o de fármacos e o comércio digital, fizeram aquisições para acelerar o crescimento aproveitando a oportunidade do momento.
Leonardo Dell'Oso, sócio e líder da área de Fusões e Aquisições da PwC Brasil

O setor de Tecnologia da Informação (TI) foi o líder em negócios em 2020. Foram 398 fusões ou aquisições, crescimento de 54% em relação a 2019 -e o correspondente a 38% do total transacionado.

Haveria mais estrangeiros se Brasil fosse estável

As transações envolvendo investidores nacionais corresponderam a 78% das aquisições e compras minoritárias, representando uma máxima histórica. Por outro lado, os investidores estrangeiros realizaram 221 transações, a menor atividade desde 2009.

Se o Brasil fosse menos instável do ponto de vista econômico e político, se as reformas estivessem andando mais rapidamente e se o nosso sistema tributário fosse mais simples, se o programa de concessões e privatização estivesse mais adiantado, haveria mais investidores, em especial os estrangeiros, atuando.
Leonardo Dell'Oso, sócio e líder da área de Fusões e Aquisições da PwC Brasil

Para o sócio da PwC Brasil, os fatores que influenciaram o crescimento das fusões e aquisições em 2020 continuam presentes em 2021 e, por isso, a expectativa é a de que o movimento de fusões e aquisições cresça novamente neste ano em relação ao anterior.

Veja abaixo os principais trechos da conversa do UOL com Dell'Oso.

UOL: Levando em conta que tivemos um ano de crise econômica provocada pelas medidas de isolamento social para conter a pandemia, não seria um paradoxo haver crescimento de negócios? Ou a crise acabou sendo um vetor para as fusões e aquisições?

Leonardo Dell'Oso: A crise acelerou os processos de aquisição e fusões. De um lado, alguns setores que foram negativamente afetados pela crise, como o aéreo, o turismo, o varejo de lojas físicas e serviços, precisam de capital para sobreviver. A falta de recursos naquele momento levou essas empresas a aceitarem ofertas de investidores, que atuaram comprando negócios.

Por outro lado, empresas mais fortes de setores que ganharam com a crise, como o de tecnologia, o de fármacos e o comercio digital, fizeram aquisições para acelerar o crescimento aproveitando a oportunidade do momento.

Levando em conta que os fatores determinados pela pandemia continuam presentes na economia, podemos esperar a continuidade desse ciclo em 2021?

De fato, alguns fatores continuam presentes, como o auxílio emergencial [ainda não concedido neste ano], o dólar valorizado, dinheiro ainda escasso. São fatores ainda presentes e vão ficar ainda por um bom tempo.

Por isso, acreditamos que o mercado de fusões e aquisições vai se beneficiar ainda neste ano novamente.

A onda de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais de ações) na Bolsa é um fenômeno de fusões e aquisições, porque várias empresas que estão abrindo o capital estão se comprometendo no processo a fazer aquisições para crescer.

Os setores que se destacaram em 2020 poderão seguir liderando o movimento de fusões em 2021, ou teremos novos setores aparecendo este ano?

Os setores que foram destaque em 2020 seguirão bem em 2021, com destaque para tecnologia e saúde. Mas existe a possibilidade de que outros setores afetados pela crise comecem a reagir. Por exemplo, o setor de lazer e entretenimento.

O Brasil teve recorde em número de negócio de fusões em 2020, mas poderia ser ainda mais intenso esse movimento se alguns obstáculos fossem removidos - burocracia, tributação, dinamismo do mercado de capitais, por exemplo?

Existe uma certa dissociação dos negócios de fusões e aquisições com mercado de capitais no curto prazo, já que as decisões de fusões são sempre olhando o longo prazo.

Dito isso, se o Brasil fosse menos instável do ponto de vista econômico e político, se as reformas estivessem andando mais rapidamente e se o nosso sistema tributário fosse mais simples, se o programa de concessões e privatização estivesse mais adiantado, haveria mais investidores, em especial os estrangeiros, atuando.

Isso explica a fraca participação de estrangeiros nos negócios em 2020?

Sim, isso explica em parte por que tivemos uma participação maior de locais nos processos de fusões e aquisições em 2020.

Os investidores e empresários locais conhecem mais o mercado brasileiro, enquanto o estrangeiro tem mais reticência com novos mercados emergentes, e preferiu focar nos mercados em que eles já têm relevância, como o americano.

Mas acredito que, se entramos em um ciclo de recuperação econômica, com as reformas começando a andar e com a vacinação ocorrendo, os estrangeiros voltam a ganhar espaço.

Processos de fusões e aquisições representam consolidação. Podemos ter como consequência de longo prazo da pandemia uma aceleração da concentração de mercados, com um avanço mais forte dos grandes grupos sobre pequenos e médios negócios?

Existe alguma concentração de negócios em alguns setores, como na saúde, com uma consolidação e centralização de mercado, mas também temos fusões e aquisições ocorrendo a partir da criação de novos negócios.

Então, em termos de impacto macroeconômico, eu diria que os processos de fusão neste momento ainda são limitados. Temos muita inovação sendo gerada nesses negócios.

O movimento de fusões tem um único propósito: gerar valor aos sócios e aos stakeholders [acionistas] de maneira geral.

Pode estar disfarçado de outras justificativas, como incorporar uma tecnologia nova de um concorrente, ou produto ou serviço, por exemplo, mas tudo isso representa no fim das contas formas de aumentar o valor da operação para os acionistas.

Posteriormente, isso gera novos produtos, melhores serviços, acelerando a economia.

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