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Com a compra do Grupo Big pelo Carrefour, o que muda para o consumidor?

Reuters
Imagem: Reuters

Renato Pezzotti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/03/2021 16h37

O Carrefour anunciou ontem (24) a compra do Grupo Big, ex-Walmart Brasil, por R$ 7,5 bilhões. Juntas, as duas empresas teriam vendas brutas de cerca de R$ 100 bilhões em 2020, considerando os resultados das empresas no ano passado.

Mas o que muda para o consumidor? Segundo especialistas, a negociação tem um forte lado estratégico para o Carrefour - e, ao menos num primeiro momento, mesmo com uma maior concentração, não deve encarecer os preços dos produtos. Isso porque a rede, agora, vai investir em regiões onde possuía penetração limitada, como o Nordeste e Sul do país.

Já o Instituto de Defesa do Consumidor aponta riscos com a maior concentração de mercado. Atualmente, o Carrefour é a maior rede varejista do país - e o Big é a quarta, segundo ranking do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo). Por isso, a operação precisa ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o que deve acontecer somente em 2022.

Uma mudança importante será nas marcas. O Carrefour deixará de usar as marcas do Grupo Big em quase todas as lojas. As lojas Maxxi se tornarão unidades do Atacadão. Parte dos supermercados Big e Big Bompreço virarão Atacadão ou Sam's Club - que continuará existindo, no mesmo formato. As demais lojas (Super Bompreço, Nacional e TodoDia) serão convertidas para a bandeira de hipermercado Carrefour.

Segundo Sebastien Durchon, vice-presidente de finanças do Carrefour, as mudanças serão estudadas caso a caso. "Temos que analisar o ponto de venda, qual cliente temos nos locais e o entorno de cada loja", afirma. Todo esse processo deve levar pouco mais de um ano depois do fechamento da operação.

"A transação vai muito além do que os números podem mostrar. Conectar os 15 milhões de clientes do Big às plataformas do Carrefour é espetacular. É uma oportunidade única de expandir a marca pelo país", declara Noël Prioux, CEO do Carrefour no país.

Preços podem subir?

Especialistas ouvidos por UOL analisam que a maior concentração de mercado nas mãos do Carrefour pode levar a serviços melhores, mas alertam para o aumento de preços, principalmente em itens essenciais.

"A rede ganha mais recursos e tende a levar um melhor atendimento, melhores serviços e estender processos de inovação que estão em andamento. O Carrefour, por exemplo, é um dos líderes da transformação digital no varejo", diz Ricardo Pastore, coordenador do Núcleo de Varejo da ESPM-SP.

Mas os preços podem subir com a aquisição? Para o professor da ESPM, não - principalmente por causa da presença regional do Grupo Big, espalhado por 18 estados brasileiros. "Na teoria, com a concentração dos players, os preços sobem. Mas essa aquisição é bem espalhada pelo país. O Grupo Big tem presença forte no Nordeste, em São Paulo e no Sul. É uma aquisição grande, mas espalhada regionalmente falando. A concentração aumenta nacionalmente, mas fica discreta regionalmente. Acredito que esse efeito direto, de aumento nos preços, não vai existir tão claramente", afirma Pastore.

Idec aponta concentração "preocupante"

Para o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), a situação é "preocupante".

"Tradicionalmente, uma maior concentração acarreta menores incentivos à redução de preços e ao aumento da qualidade. O supermercado é o elo final de chegada de produtos essenciais para os consumidores. Por isso, existe um maior risco de repasse de sobrepreço aos consumidores finais, inclusive com produtos básicos como a cesta básica", afirma Camila Leite, advogada do instituto.

Cade deverá analisar caso localmente

Ex-conselheiro do Cade, o economista Cleveland Prates ressalta que não há como apontar se o consumidor verá um aumento dos preços dos produtos nas lojas com a operação.

"É complicado dizer se haverá problema com preços. Não dá para antecipar. Isso vai depender de muitas informações e variáveis, inclusive do potencial de eficiência das redes. A concentração, por si só, não diz nada. Ela é só um dos aspectos que será analisado pelo Cade", afirma.

Cleveland diz que o conselho, antes de tomar a decisão, olhará do ponto de vista do processo de decisão do consumidor. "Se houver concentração, quais são as opções de que o consumidor teria? Existe sobreposição entre as redes? A análise nesse caso será muito local, caso a caso", diz o economista.

Oferta agressiva de produtos

Já para Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, os consumidores das regiões Nordeste e Sul do Brasil podem esperar uma oferta agressiva de serviços, produtos e até mesmo de preços com a operação.

"O Carrefour vai apostar em diferentes formatos, vai ampliar o ecossistema digital e oferecer uma melhor entrega de e-commerce, com toda a multicanalidade da rede. A oferta de produtos é gigante. O consumidor poderá comprar alimentos, efetuar pedidos pelo Rappi, ter crédito no banco Carrefour, com cadastro pré-aprovado em outras lojas e fazer até seguro de vida", diz Rebetez.

Para o diretor da Gouvêa, a capilaridade de lojas também irá melhorar as entrega dos pedidos feitos de forma online. Ele acredita que, em certos casos, o preço pode até ser melhor para o consumidor.

"A união dos centros de distribuição com os pontos físicos vai turbinar a venda digital de produtos do varejo de alimentos, melhorando as entregas locais. As diferentes frentes também têm autonomia pra se desenvolver e criar estratégias de negócios que sejam positivas para todo o ecossistema", diz.

Mais de 400 lojas pelo Brasil

O Grupo Big opera com cerca de 400 lojas. A empresa é o 3º maior conglomerado de varejo alimentar do Brasil, atrás do GPA e do próprio Carrefour, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). No varejo total, fica em 4º lugar, atrás também das Casas Bahia.

A companhia chegou ao Brasil em 1995, com a inauguração de uma loja Sam's Club em São Caetano do Sul (SP). No mesmo ano, inaugurou uma unidade da marca Walmart em Osasco (SP). Em junho de 2018, o grupo havia vendido uma participação de 80% nas operações no Brasil para a empresa de private equity Advent Internacional.

Até então, operava com sete bandeiras diferentes no país, entre hipermercados (Big e Bompreço), supermercados (Super Bompreço e Nacional), atacado (Maxxi Atacado), clube de compras (Sam's Club) e lojas de vizinhança (TodoDia), além de postos de combustíveis e farmácias.