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Trabalhador com filhos é mais feliz no emprego, diz pesquisa

Na pandemia, pais e mães acumularam o emprego remunerado com o cuidado dos filhos em tempo integral - valentinrussanov/Getty Images
Na pandemia, pais e mães acumularam o emprego remunerado com o cuidado dos filhos em tempo integral Imagem: valentinrussanov/Getty Images

Denyse Godoy

do UOL, em São Paulo

02/04/2021 04h00

Muitas empresas enxergam com desconfiança os trabalhadores que têm filhos - quanto mais crianças, pior. O temor dos gestores é de que o cuidado com a família desgaste o funcionário, que ficaria estressado e renderia menos no emprego. Mas dados da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), realizada em pela Fundação Instituto de Administração (FIA) em parceria com o UOL para o Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar, indicam o contrário. Segundo a edição 2020 do levantamento, feito em outubro passado com a participação de mais de 200 empresas e cerca de 107 mil funcionários, quanto mais filhos o colaborador tem, melhor é a sua visão do trabalho.

As respostas do questionário a perguntas sobre temas como perspectivas de carreira, comunicação interna, educação corporativa, participação e autonomia, reconhecimento, relações interpessoais, saúde, segurança e diversidade, que formam na pesquisa um índice de clima organizacional, são mais positivas conforme a aumenta a quantidade de filhos do funcionário.

Na média, o índice de clima organizacional foi de 87,7 pontos (de 100 possíveis, sendo o nível mais alto o que indica maior satisfação). Para os colaboradores com nenhum filho, o índice ficou em 86,6; para os que têm um, 88,4; entre os que têm dois, 89,3; para os que têm três, 89,8. Entre os funcionários com quatro filhos ou mais, o índice ficou em 90,8 pontos.

Entre as explicações possíveis para esse fenômeno está a de que o colaborador que tem uma família maior para bancar se sente mais grato por ter um emprego. Os resultados da pesquisa sustentam essa hipótese. Na questão acerca de quão justo é o salário pago pela organização para seus colaboradores, a maior nota foi dada pelos trabalhadores com quatro filhos ou mais: 81,4 - contra média de 78,1. O mesmo se deu no quesito sobre a estabilidade e a tranquilidade que a empresa dá ao funcionário e sua família: uma nota de 92,7 pontos entre os que têm quatro filhos ou mais e de 89,4 na média.

E não só os colaboradores com mais filhos vêem com melhores olhos o trabalho como também encaram de forma mais positiva os eventuais aspectos ruins.

Perguntados sobre quanto estresse o trabalho gera, 34% dos colaboradores com quatro filhos ou mais responderam que na realidade o trabalho alivia o seu estresse do dia a dia, a maior porcentagem entre todos os grupos. Dos funcionários sem filhos, apenas 11% acham que o trabalho alivia o estresse, comparados com 15% dos que têm um filho, 17% entre os que têm dois, e 24% entre os que têm três. Essas porcentagens são ainda mais impressionantes considerando que a pesquisa foi realizada no meio da pandemia, quando boa parte dos profissionais estava trabalhando em casa, convivendo com os filhos por um tempo maior do que o habitual e tendo que fazer as vezes de professor.

Lina Nakata, professora da FIA, levanta algumas possíveis razões para esse resultado. "Entendo que quem tem filhos acha que o cuidado e a educação deles são um desafio maior do que os encontrados no trabalho", diz. "Outra hipótese é de que os pais e mães tenham desenvolvido mais qualidades como paciência, resiliência e flexibilidade. Têm maturidade maior para lidar com os desafios do trabalho."

Fernanda Bastos: esforço para conciliar a vida pessoal e a profissional  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fernanda Bastos, advogada, fundadora da plataforma Conexão Legal
Imagem: Arquivo pessoal

Os especialistas apontam outras vantagens que os filhos podem ter sobre o trabalho. Para ficar com eles, especialmente quando são crianças, muitos pais e mães se tornam mais produtivos, realizando mais em menos tempo.

Há sete anos, a advogada Fernanda Bastos, especializada em direito corporativo, achou que não daria conta de conciliar o trabalho com suas filhas gêmeas. "Elas tinham muita dificuldade de dormir. Trabalhava o dia todo e à noite ficava com elas", conta. "Eu, que tenho raciocínio rápido, fiquei muito devagar." Embora reconheça que, com filhos, é difícil encontrar equilíbrio entre vida profissional e pessoal, Bastos percebeu uma melhora à medida que as meninas cresceram. "A fase mais difícil foi até os dois anos e meio".

Hoje dona de seu próprio negócio, uma plataforma de informações e cursos para advogados chamada Conexão Legal, ela admite que trabalha mais do que quando era sócia de um grande escritório no Rio de Janeiro. Mesmo assim, sente-se mais feliz por fazer seus próprios horários e lidar com metas mais realistas.

O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2021 estão abertas e vão até 15 de junho.