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Com pandemia, é possível morar em hotel a partir de R$ 2.800 por mês

Giulia Fontes*

Do UOL, em São Paulo

05/05/2021 04h00

Para enfrentar a queda na demanda, por causa da pandemia da covid-19, hotéis estão ampliando ou até implementando pela primeira vez a oferta de estadias de longa permanência (chamadas no setor de long stay). Comprando os pacotes, os hóspedes podem passar meses morando no hotel, usufruindo de estruturas como piscina e academia. Veja opções nas fotos acima ou aqui.

O UOL encontrou pacotes partir de R$ 2.800 por mês, com água, luz, TV a cabo e internet incluídos. Serviços de limpeza, lavanderia e até café da manhã são pagos à parte. Alguns têm cozinha mais equipada, mas outros só dispõem de micro-ondas.

Flexibilidade e preços melhores

A rede Accor, dona de hoteis como Adagio, Ibis, Mercure e Novotel, ampliou a oferta de estadias longas na pandemia, dando mais flexibilidade aos contratos.

Os valores começam em R$ 2.800 mensais, para apartamentos com cozinha americana. A rede informa que os pacotes variam de acordo com o hotel, mas que o padrão inclui luz, água, gás, internet e TV a cabo. Em alguns casos, piscina e academia também são liberados na mensalidade.

Estacionamento, lavanderia e limpeza são serviços à parte.

O hóspede não precisa assinar um contrato por um ou dois anos. No long stay, a duração da estadia é entre três e seis meses. É diferente da hotelaria normal porque temos preços superagressivos. Normalmente, uma diária [nesses hotéis] custa entre R$ 300 e R$ 400 [hoje estão a partir de R$ 93 no long stay].
Olivier Hick, COO Midscale e Econômico da Accor Brasil

Você compra o pacote sem compromisso de renovar

Para alguns hotéis, o long stay é uma novidade que começou na pandemia. Há três meses, o EZ Aclimação Hotel, em São Paulo, reservou 50 dos 270 quartos para longa permanência. No final de abril, 40% dos quartos de long stay estavam ocupados.

O hotel disponibiliza três tamanhos de apartamentos: de 28, 36 e 48 metros quadrados. Os pacotes mensais -que incluem água, luz, internet e IPTU- saem por R$ 3.000, R$ 3.300 e R$ 4.000 por mês, respectivamente.

Pelo preço do pacote, os hóspedes podem usar piscina, academia e um espaço de coworking. É possível acrescentar à conta um pacote com serviços de limpeza, que custa R$ 1.200 para os dois apartamentos menores e R$ 1.600 para o de 48 metros quadrados. O café da manhã também pode ser incluído, ao custo de R$ 490 por mês, por pessoa. O estacionamento para um carro sai por R$ 290 mensais.

O pagamento é antecipado, e a renovação é mensal. O hóspede pode ficar só 30 dias no hotel, sem compromisso de prolongar a estadia.

A gente tinha uma demanda muito boa para estadias mais curtas. Com a queda assustadora na demanda, por causa da pandemia, tivemos que nos reinventar. Como alguns apartamentos já tinham cozinha americana, a adaptação para a oferta de longa permanência foi bem simples.
Marisa Oliveira, gerente-geral do EZ Hotel

Diárias a partir de R$ 100

Outra rede de hotéis, o Louvre Hotels Group-Brazil começou a oferecer a possibilidade de long stay em agosto de 2020. As ofertas valem para 15 hotéis distribuídos pelo país.

Os hóspedes podem morar em cidades como Brasília, Natal, Goiânia, Vitória e São Paulo por diárias a partir de R$ 100 no pacote de mensalista. Os apartamentos têm entre 25 e 35 metros quadrados. Em Maceió (AL), o pacote inclui até café da manhã.

Casas de campo e na praia são atrações no Airbnb

Há opções também no Airbnb. Um dos anfitriões que anunciam na plataforma, Oskar Kedor afirma que os hóspedes mais comuns são os que querem passar apenas um final de semana longe de casa. Mas, segundo ele, está crescendo o número de pessoas que desejam passar mais de um mês em uma casa alugada pelo Airbnb.

A tendência é confirmada pelo próprio Airbnb, que afirma que a demanda está crescendo principalmente por casas inteiras no campo e em cidades menores, de praia, a até 300 quilômetros de centros urbanos. Devido à covid-19, a plataforma reforçou os protocolos de higiene e proibiu a realização de festas e eventos em acomodações anunciadas no site.

As casas oferecidas por Kedor ficam na Serra da Mantiqueira, com diárias de R$ 270 a R$ 3.271. Os hóspedes podem negociar serviços de alimentação e limpeza.

Quem são os hóspedes que procuram o long stay

De acordo com os hotéis, o público que procura as estadias de longa duração é variado: estudantes, profissionais de saúde, casais, pessoas que acabaram de se divorciar ou que estão fazendo reformas em casa são alguns exemplos.

Adriano Marson, que trabalha na área de TI, se mudou para o EZ Aclimação Hotel com a mulher há pouco mais de um mês. Como os dois estão em regime de home office, precisavam de um lugar com estrutura para o trabalho. Enquanto ela trabalha no quarto, ele passa o expediente no espaço de coworking do hotel.

Quando viemos para o hotel, imaginávamos ficar um mês. Era para ser um período de transição, enquanto não encontrávamos um lugar definitivo. Mas agora não temos prazo para sair.
Adriano Marson, hóspede do EZ Aclimação Hotel

Concentração em grandes centros

De acordo com Alexandre Sampaio, do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o aumento das ofertas de long stay não é uma tendência, mas uma forma de adaptação do mercado em algumas cidades.

Em cidades como São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre, os hotéis baseados em eventos corporativos, entendendo que a situação estava muito difícil, passaram a se adaptar para oferecer o long stay. Eles potencializaram isso com preços competitivos, anunciando que as pessoas poupariam com IPTU e condomínio, por exemplo.
Alexandre Sampaio, da CNC

Olivier Hick da rede Accor, afirma que os hábitos dos clientes vão mudar mesmo quando a pandemia passar. Ele diz que ofertas de coworking e long stay vieram para ficar.

Cada vez que temos quartos vazios, vemos uma oportunidade para desenvolver novas ofertas. Antes, o modelo hoteleiro era mais fixo. Agora fomos obrigados a pensar diferente, a rever a oferta e ter mais flexibilidade.
Olivier Hick, COO Midscale e Econômico da Accor Brasil

*Com informações de Josi Gonçalves, colaboradora do UOL no Rio Grande do Norte.