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Do WhatsApp ao Uber: 1 em cada 5 trabalhadores usa apps para ter renda

Celular: aplicativos crescem como fonte de renda - Getty Images
Celular: aplicativos crescem como fonte de renda Imagem: Getty Images

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL, de Belém

12/05/2021 04h00

Com a alta do desemprego e o fechamento de vários negócios com a pandemia de covid-19, muitos brasileiros precisaram improvisar para garantir o sustento. Eles viram nos aplicativos uma alternativa de renda e passaram a depender dele parcial ou até totalmente.

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva mostrou um crescimento de sete pontos percentuais no número de trabalhadores que recorreram a essas ferramentas entre fevereiro de 2020 e março de 2021. Antes eram 13% e agora são 20% -um em cada cinco trabalhadores.

Hoje 20% da população adulta já faz parte desse grupo. No ano passado, antes da pandemia, eram 13%. São 32,4 milhões de pessoas que recebem renda por algum aplicativo, dos quais 11,4 milhões aderiram ao serviço após o início da pandemia.

Aplicativos mais usados

Quatro aplicativos lideram o ranking dos mais utilizados, segundo a pesquisa: redes sociais, como Facebook e Instagram (34% entre quem usou os apps para renda), apps de conversa, como o Whatsapp (33%), de transporte (28%), como Uber e 99, e de venda online, como Mercado Livre e iFood (26%).

Facebook e WhatsApp são usados para oferecer produtos e serviços.

Para 15,7% dos trabalhadores que usam os apps, essas plataformas são a única fonte de renda. Para 15%, os apps representam a maior fonte de renda e, para 14,6%%, metade dos ganhos. Para 30,8%, aplicativos representam a menor parte da renda, e 23,8% usam apps para um trabalho eventual.

Negócio não é só mais para os vizinhos

O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, explica as tendências. "As pessoas passaram a usar as suas redes sociais para potencializar suas vendas, como o lojista que passou a mandar a nova coleção pelo WhatsApp e a marmiteira, que passa as receitas do dia pelo WhatsApp ou pelo Instagram", diz.

"Elas deixaram de vender só para a vizinhança e passaram a vender para um número muito maior de clientes e restaurantes que se cadastraram no app de entrega e continuaram vendendo mesmo estando de portas fechadas."

Segundo Meirelles, o movimento de digitalização do trabalho e a utilização dos apps como fonte de renda não foi uniforme em todas as regiões. "[Pessoas que usam app para renda] obviamente estão mais presentes em regiões com maior participação das classes A e B, como grande São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, porque são cidades têm um grande mercado consumidor e foram afetadas por medidas de restrição."

Os pesquisadores entrevistaram 1.500 pessoas, entre homens e mulheres, com 16 anos ou mais e nas cinco regiões do país e de todas as classes sociais. Elas foram ouvidos por telefone, entre os dias 12 e 19 de março.

Tecnologia ajudou a sobreviver na crise

Aldemir e Glayce Silva: casal tem banca de hortifruti e passou a vender por delivery - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aldemir e Glayce Silva: casal tem banca de hortifruti e passou a vender por delivery
Imagem: Arquivo pessoal

Com pouca experiência em redes sociais, o casal Aldemir, 42, e Glayce Silva, 43, de Belém (PA), está entre os que recorreram a elas para alavancar seu negócio, depois que a sua banca de hortifruti fechou.

"Já tínhamos a ideia de começar com o delivery, mas juntamos essa vontade com a necessidade. Como ficamos sem trabalho, começamos a anunciar no Facebook, a enviar mensagens pelo WhatsApp e até a ligar para os clientes avisando que estávamos entregando", afirma Glayce.

Os pedidos cresceram e, mesmo depois da reabertura, eles precisaram de mais um box na feira só para organizar as entregas pedidas pelo aplicativo de mensagens. "Ganhamos mais clientes, e as vendas aumentaram 40%", diz a empreendedora.

Agora ganha o dobro como motorista de app

O motorista paraense Eduardo Rocha Soares, 44 anos, deixou a cooperativa de vans de transporte de passageiros, no município de Marituba, na região metropolitana de Belém, em dezembro do ano passado.

"Com a pandemia, o movimento caiu muito. A nossa renda vinha mais de estudantes e trabalhadores. As pessoas não estavam saindo com medo da doença. Tinha mais despesa do que lucro", declara.

Eduardo passou dois meses desempregado até que recebeu o convite de um amigo para dividir os turnos no veículo dele, trabalhando como motorista de aplicativo.

Assim, ele consegue tirar até o dobro do que ganhava com a van e diz que basta planejamento. Ele faz em média 30 corridas por dia e fatura R$ 270, sendo que R$ 100 são gastos com a gasolina.

Para aumentar a renda, o motorista dirige um carro com motor 1.0, que consome menos combustível, escolhe corridas mais curtas, cujo retorno financeiro é maior, e foge de congestionamentos para não perder outros clientes.

Cardápio reduzido para o delivery

Camila do Vale, franqueada da loja de alfajores Havanna: passou a vender por marketplaces - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Camila do Vale, franqueada da loja de alfajores Havana
Imagem: Arquivo pessoal

Para a empresária Camila do Vale, uma das franqueadas da loja de alfajores (doces argentinos) Havanna, em Belém, o digital foi uma das alternativas para escoar produtos durante quase três meses de fechamento da loja física, que fica em um shopping.

"Tivemos duas datas comemorativas de portas fechadas, a Páscoa e o Dia das Mães, então recorreremos a várias alternativas: venda pelo WhatsApp, drive-thru e iFood", diz.

Mas o rendimento do iFood não foi o esperado e ela elenca alguns fatores para isso: altas taxas de serviço, alguns produtos são sensíveis para transporte e é necessário passar esses valores para o consumidor final.

"Naquela época, optamos por vender pelo iFood porque fomos pegos de surpresa e não deu tempo nem de estudar o mercado, foi mais um desespero de tentar mais uma ferramenta de venda, mas não tínhamos a estrutura preparada para as entregas. De qualquer forma era mais uma opção de venda, numa época muito difícil", afirma.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
O nome do presidente do Instituto Locomotiva é Renato Meirelles, e não Roberto, como estava no sétimo parágrafo. A informação foi corrigida.