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Execução de plano econômico vai custar caro à reeleição, diz Gustavo Franco

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central - Alexandre Severo/Folhapress
Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central Imagem: Alexandre Severo/Folhapress

Colaboração para o UOL

21/05/2021 11h42

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco disse acreditar que as promessas e execução das ideias econômicas pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) podem "custar caro" à reeleição do presidente. Isso porque, segundo ele, há uma "decepção evidente" dos que o apoiaram.

"Na [eleição] anterior, as ideias liberais tiveram muita importância na disputa, e há uma decepção evidente sobre a execução dessas ideias, que foi enfim, inferior ao que se esperava, e isso vai custar caro, eu creio, a esse presidente ao concorrer à reeleição", disse, em entrevista ao jornal O Globo.

Para Franco, o mercado financeiro e o empresariado que apoiaram a candidatura de Bolsonaro em 2018 vão "aparecer no debate eleitoral trazendo seus pleitos de reformas". Por isso, para ele, os políticos vão precisar formular diretrizes e políticas para atrair o voto deles, que "votam com o bolso" e sem "nenhuma lealdade a políticos A, B ou C".

"Pode ser Bolsonaro, como pode ser Dilma. A questão é quem vai melhor conduzir as agendas econômicas de interesse dessas pessoas. E essa é a natureza da competição política que nós vamos ter na próxima eleição, como tivemos na anterior", opinou.

Questionado sobre o cenário eleitoral da disputada pela presidência no ano que vem, o ex-presidente do Banco Central disse torcer por uma terceira via que dispute espaço com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Bolsonaro. Porém, diz não vislumbrar um nome específico.

"Há vários nomes capazes, a questão é se vão se tornar nomes eleitoralmente fortes e viáveis nos próximos meses. É impossível responder nesse momento. O que é muito claro é o desconforto com a polarização que vai viabilizar a terceira via qualquer que ela seja. A rejeição aos outros dois", disse. Para Franco, caso não haja outra opção além dos que hoje lideram as pesquisas eleitorais, o voto nulo será a opção, o que seria "uma vergonha".

'Pária econômico'

Na entrevista, o ex-presidente do Banco Central disse, ainda, que o Brasil deu passos decisivos para se tornar um "pária econômico", por ter ignorado relações internacionais e consensos, como os relacionados ao meio ambiente. Mesmo assim, Franco diz acreditar que a situação é reversível. .

Para ele, padrões internacionais passaram a ser importantes "para tudo nas negociações internacionais", assim como o dinheiro de investidores. Franco ressalta que "fundos que investem nos países emergentes vão querer que certos princípios de investimento responsável, inclusive os de meio ambiente, sejam obedecidos" e que isso está "absolutamente correto", já que são os donos do dinheiro.

"Se você se considera ofendido por uma intromissão estrangeira nas suas políticas ambientais, ok. Está ofendido, continua isolado, eles investem em outro lugar. São US$ 103 trilhões de dinheiro que vão ser investidos no mundo conforme critérios ESG. Estamos vendo, a partir do lado negativo infelizmente, o que é desobedecer a esses consensos e viver as consequências: as multinacionais vão embora, os investidores financeiros vão embora, muitos investimentos não acontecem. E o Brasil fica um pária econômico", afirmou.