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Turismo vai voltar com tudo, e não haverá 'novo' normal para setor, diz CVC

Leonel Andrade, presidente da CVC Corp: investimentos de R$ 170 milhões em tecnologia só este ano para transformar CVC em "turistech" - divulgação
Leonel Andrade, presidente da CVC Corp: investimentos de R$ 170 milhões em tecnologia só este ano para transformar CVC em "turistech" Imagem: divulgação

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

03/09/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Presidente da CVC Corp, Leonel Andrade, diz que embarques domésticos já melhoraram em junho e aceleraram passo em julho e agosto
  • Internacional ainda prejudicado por fronteiras fechadas a brasileiros, mas reabertura de Portugal já aquece demanda
  • Empresa foi salva pelos novos acionistas, diz presidente da CVC sobre pandemia e problemas de governança da gestão anterior

A maior empresa de turismo do Brasil e da América Latina já começa a ver pelo retrovisor duas crises que quase interromperam uma história de praticamente meio século: pandemia e problemas de contabilidade. Segundo o presidente da CVC Corp, Leonel Andrade, o grupo está saindo dessas crises mais forte e pronto para testar novos negócios.

O executivo diz que as vendas dentro do país já representam hoje cerca de 90% do que era registrado em 2019, antes da pandemia. Com a maior parte das fronteiras internacionais ainda fechadas a brasileiros, os destinos domésticos estão puxado essa retomada do setor.

Leonel Andrade diz que não haverá um "novo" normal no turismo. Será o normal de sempre, porque as viagens vão voltar à rotina das pessoas, assim como ocorreu depois dos atentados terroristas em 2001. O executivo diz que a CVC está investindo R$ 170 milhões só este ano em tecnologia para mudar a forma com que se relaciona com cada cliente.

"Seremos a primeira turistech do país", diz o executivo que assumiu a CVC Corp em abril do ano passado, após seis anos na Smiles -que se tornou a maior empresa de fidelidade do país em sua gestão.

Nessa conversa com o UOL, Leonel Andrade falou também sobre reforma tributária e sobre a outra crise que atingiu a companhia antes mesmo da pandemia: erros contábeis que teriam provocado prejuízos à empresa -e aos acionistas- superiores a R$ 360 milhões. "A companhia tem uma arbitragem em aberto contra alguns ex-executivos. Mas em termos de gestão, de visão atual, de sócios e de lideranças, hoje está tudo renovado", afirma Leonel Andrade.

Graças aos acionistas a empresa está viva, com caixa para honrar investimentos. Temos capacidade financeira e altíssima capacidade de distribuição.
Leonel Andrade

Veja abaixo então a entrevista com o presidente da CVC Corp, Leonel Andrade.

UOL: O pior do impacto provocado pela pandemia sobre o setor de turismo já passou?

Leonel Andrade: Como viemos de terra arrasada, em que o setor chegou a ter receita negativa, eu diria que a evolução atual já é grande. Mas ainda temos muito a evoluir. Então, as taxas de crescimento que teremos daqui por diante ainda serão muito fortes.

Os dados do segundo trimestre já apontaram alguma melhora?

Junho já foi de boa recuperação, após uma segunda onda que foi danosa, em março, abril e maio. Junho já foi uma sinalização positiva. E julho e agosto seguem fortes. Nas últimas semanas, já operamos no doméstico com mais de 90% das vendas que tínhamos em 2019. Vemos muita demanda reprimida. Nos destinos que estão abertos, as pessoas então comprando.

Apesar do internacional ainda fraco e prejudicado com as fronteiras dos Estados Unidos e Argentina fechadas, temos uma grande expectativa com a abertura de Portugal neste primeiro de setembro porque o país é a maior porta de brasileiros na Europa, representando 35% dos nossos clientes no continente

Que segmentos devem ser determinantes para a retomada?

Existe muita demanda reprimida para todas as classes sociais e destinos. Na classe alta, por exemplo, o turista que tem poucas opções no momento para o exterior está conhecendo mais o Brasil. E isso favorece hotéis de luxo, na praia ou campo, que estão indo muito bem agora. Foi pensando nesse perfil, inclusive, que nós lançamos a Travel Boutique, com produtos voltados ao público de alta renda e inserindo até novos parceiros em nosso portfólio para atingir esse nicho.

Vemos também muita demanda para destinos que têm espaços abertos, com as pessoas atentas e preocupadas com os protocolos, que de fato estão sendo seguidos. E por causa dessa atenção com os protocolos, a consultoria dos agentes de viagens na hora da venda tem sido determinante nessa retomada também, o que reforça o papel das nossas lojas.

O comportamento dos turistas será outro mesmo após a pandemia?

As pessoas podem mudar as preocupações com higienização, por exemplo, mas não vejo um novo normal em termos de destinos, por exemplo. O turismo vai voltar com força.

Claro que alguns protocolos vão ficar, como ficaram os protocolos de segurança, que mudaram para sempre após os ataques terroristas. Mas o interesse pelo turismo e pelas viagens, isso não vai mudar.

A CVC Corp teve sua própria turbulência antes mesmo da pandemia, por conta de questões de governança. Isso também ficou para trás?

Temos uma arbitragem em aberto contra alguns ex-executivos, mas em termos de gestão, de visão atual, de sócios e de lideranças, hoje está tudo renovado. Do ponto de vista tanto de gestão, quanto de cultura organizacional, a CVC é 100% nova. Quem toma decisão hoje não tem relação com o que havia antes.

Tivemos um aporte de R$ 1,1 bilhão dos acionistas. E nesse processo de capitalização, 80% desses acionistas são novos. Graças aos acionistas a empresa está viva, com caixa para honrar investimentos. Temos capacidade financeira e altíssima capacidade de distribuição.

Considerando tudo isso, quais são as apostas da CVC Corp?

A CVC Corp tem o privilégio de ser completa, com todos os canais e todos os serviços, com 1,2 mil lojas da marca CVC, além da operação com 8 mil agências vendendo com RexturAdvance, da presença no mundo digital com o Submarino Viagens e no intercâmbio, com a Experimento. Então, seja qual for tendência de mercado, nossas vantagens competitivas são mais relevantes.

Tanto que estamos ganhando muitos produtos exclusivos. A CVC é único subagente para Copa, para o Rock in Rio, em setembro de 2022, para a Expo Dubai, já em outubro de 2021 até março de 2022, além do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, em novembro de 2021 em São Paulo. A gente se tornou muito mais relevante.

Qual o foco dos investimentos?

Estamos fazendo uma transformação muito grande no grupo. Nos anos anteriores à minha chegada, a empresa fez aquisições de várias empresas, mas não fez investimentos em integração e em tecnologia. Mudamos isso. Saímos de zero para 22 milhões de clientes que agora podemos contactar online, acompanhando e sugerindo viagens. Vamos chegar a 40 milhões de clientes interligados em nossos sistemas online.

Não adianta eu ter um ótimo aplicativo se eu não conheço o cliente. Então, seremos a primeira turistech. Estamos investindo R$ 170 milhões em tecnologia neste ano. Mais do que a empresa fez em dez anos.

É um investimentos em três frentes: gestão de dados, com inteligência artificial e algoritmos que vão seguir os clientes; transformação digital migrando aplicativos para uma nova plataforma, que passa a ser de serviço e conteúdo; modernização das lojas que serão sustentáveis e digitais.

Serão 15 lojas este ano e mais 400 no ano que vem, que terão vitrines eletrônicas e todo processo de venda online, tudo integrado aos aplicativos dos clientes. Com essa tecnologia e 40 milhões de clientes interligados, poderemos ser qualquer coisa.

A CVC pode ser também uma empresa financeira, operar com conta, cartão, crédito, para atender clientes e fornecedores e franqueados?

A definição de quais caminhos vamos seguir a gente vai definir ao longo dos próximos meses.

Outro tema que preocupa o setor de viagens no Brasil é o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) para remessas enviadas ao exterior, que atualmente tem alíquota de 25%. Esse tributo prejudica as operadoras brasileiras?

Potencialmente, isso prejudica sim. A gente perde competitividade. É um imposto sobre algo que não tem nada a ver com receita. É uma remessa para pagar fornecedores fora do Brasil. Com esse imposto, a gente perde competitividade porque a pessoa que compra direto paga o IOF do cartão, que é menor que a alíquota de 25%.

A CVC projeta contratações?

O ecossistema da CVC deve crescer porque as lojas estão começando a contratar pessoal e nós também estamos contratando pessoal, para as aéreas de tecnologia, de dados, por exemplo. Nós somos importantes geradores de empregos. Toda vez que envio turistas para o Ceará, por exemplo, eu fomento o emprego de diversas atividades. Então, o governo precisa criar uma política para o turismo, que representa 8% do PIB do Brasil.

Números da CVC Corp

  • Lojas no Brasil: 1.258
  • Agências independentes: 12 mil
  • Turistas embarcados 1º semestre de 2020: 3,1 milhões
  • Turistas embarcados 2020: 5,9 milhões
  • Turistas embarcados 2019: 13 milhões
  • Faturamento bruto 1º semestre 2021: R$ 2,7 bilhões
  • Receita líquida 1º semestre 2021: R$ 240 milhões