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Henrique Meirelles: 'Resultado da política econômica de Guedes é ruim'

Meirelles rebate Guedes e diz que resultado da política econômica ?é ruim? - Reprodução/TV Cultura
Meirelles rebate Guedes e diz que resultado da política econômica ?é ruim? Imagem: Reprodução/TV Cultura

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

25/10/2021 22h36

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, atual secretário de Fazenda de São Paulo, afirmou hoje que o resultado da política econômica do governo Bolsonaro é negativo. A crítica deu-se depois do discurso em que o ministro Paulo Guedes (Economia) classificou como "conversinha" as previsões que apontam baixo crescimento da economia do país em 2022.

"Os resultados da atual política econômica são negativos. É possível que o ministro da Economia esteja até conseguindo fazer o melhor possível dentro da confusão que virou este governo e a área econômica, mas o resultado é ruim. O governo teria que dar uma sinalização muito séria de que vai respeitar o teto de gastos. Se quiser fazer despesa social para ajudar a população, muito bem. Mas é preciso cortar outras despesas", afirmou Meirelles, em referência ao lançamento em novembro do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que substituirá o Bolsa Família.

Mesmo com a piora nas projeções do mercado para o ano que vem, Guedes voltou hoje a falar que o Brasil está crescendo em ritmo acelerado, com retomada retomada em V (recuperação rápida e forte da economia)."Vamos crescer ano que vem de novo. A conversinha é sempre essa. Primeiro, que ia cair... Ia ficar lá embaixo, não ia voltar. Aí volta em V", disse o ministro da Economia. Segundo Guedes, o PIB vai crescer de novo e "cada um vai fazer o seu trabalho".

Pessimismo no mercado

A declaração de Guedes foi horas depois de o Itaú Unibanco publicar relatório em que passa a prever queda de 0,5% no PIB de 2022. Na semana passada, a XP havia corrigido as previsões de crescimento do ano que vem de 1,3% para 0,8%.

Dados do Boletim Focus, do Banco Central, projetam taxa de crescimento abaixo de 5% neste ano. A mediana das projeções do PIB deste ano passou de 5,01%, na semana passada, para 4,97%, nesta semana. Já a mediana para a expansão do PIB no ano que vem foi reduzida de 1,5% para 1,4% na mesma base de comparação.

Chumbo trocado

Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes, no domingo, criticou Henrique Meirelles. "Ele trabalha para qualquer partido, a qualquer momento, em qualquer lugar e a qualquer hora. Ele não fez a reforma da previdência, não fez a reforma tributária, não fez nada. Só botou o teto e saiu correndo", disse Guedes sobre o antecessor. As declarações de Guedes são em reação à enxurrada de críticas das quais o governo tem sido alvo depois de propor manobras para furar o teto de gastos.

Sobre Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda de 1988 a 1990, no governo de José Sarney, Guedes disse o seguinte: "Ele levou o Brasil para 5.000% de inflação, com a política do feijão com arroz dele. Então, ele levou o governo brasileiro ao caos, à hiperinflação".

Na ocasião, Guedes disse ainda que o ex-presidente do Banco Central Affonso Pastore deveria "ficar quieto e ter uma velhice digna", destacando o papel do economista no órgão durante a ditadura militar. "Era um bom amigo, era um economista com um passado razoável. Não tem um bom treinamento... Fica me xingando, me atacando. Ele serviu a um governo militar. Bolsonaro é um presidente democraticamente eleito. [Pastore] ajudou um governo que não foi democraticamente eleito. Tinha que ficar quieto e ter uma velhice digna", disse Guedes.

Pastore esteve à frente da autoridade monetária de 1983 a 1985, no governo militar de João Figueiredo.

Leia abaixo a íntegra do que disse Henrique Meirelles sobre a política econômica de Guedes no governo Bolsonaro.

"Os resultados da atual política econômica são negativos. É possível que o ministro da Economia esteja até conseguindo fazer o melhor possível dentro da confusão que virou este governo e a área econômica, mas o resultado é ruim.

O governo teria que dar uma sinalização muito séria de que vai respeitar o teto de gastos. Se quiser fazer despesa social para ajudar a população, muito bem. Mas é preciso cortar outras despesas.

Para cortar essas despesas, seria fundamental fazer uma reforma administrativa, como fizemos em São Paulo. Ninguém é contra o auxílio. Mas ele precisa ser feito com responsabilidade, se não torna-se apenas mais uma política eleitoreira causando problemas sérios na economia.

A melhor política social é a criação de empregos. Claro que isso é só parte do que precisamos fazer para recolocar a economia do país nos eixos. Estamos sofrendo consequências sérias na imagem do país por conta de posicionamentos equivocados.

A questão ambiental é um exemplo disso. O governo propagou que a preocupação em preservar o meio ambiente não era necessária e que o negócio era desmatar para produzir mais. Isso gerou preocupação de toda ordem, no mundo inteiro. Temos um preço a pagar por isso.

Outro ponto é o relacionamento com a China. O Brasil fez uma política hostil a eles e, recentemente, eles vetaram a compra da nossa carne. Não há dúvida de que estamos enfrentando uma consequência grave do comportamento do nosso governo.

Ou seja: precisamos arrumar a casa, do ponto de vista fiscal, para voltar a crescer. Mas isso é só o início do desafio que temos pela frente."