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Inflação de alimentos em SP é 10% mais alta para pobres, mostra novo índice

Luis Alvarez/Getty Images
Imagem: Luis Alvarez/Getty Images

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

10/11/2021 06h00

A inflação dos alimentos na cidade de São Paulo é quase 10% mais alta entre as classes com renda familiar mais baixa, apontam dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Nos 12 meses até outubro deste ano, os preços dos alimentos entre famílias com renda de 1 a 3 salários mínimos (R$ 1.100 a R$ 3.300) subiram 14,26%. Na faixa de renda superior a 8 salários mínimos (R$ 8.800), a inflação dos alimentos foi de 12,98% no período.

Esta diferença de 1,28 ponto porcentual — equivalente a cerca de 10% — foi captada pelo IPC FX, novo indicador de inflação calculado pela Fipe a partir do Índice de Preços ao Consumidor do Município de São Paulo, para três faixas de renda: 1 a 3 salários mínimos, 3 a 8 salários e mais de 8 salários.

Como os alimentos possuem mais peso no orçamento das classes baixas, a inflação geral também foi maior para este grupo. O IPC FX subiu 10,63% nos 12 meses até outubro deste ano para as famílias com renda de 1 a 3 salários mínimos. No caso das famílias com renda acima de 8 salários, a alta foi de 9,67%. Para faixa de renda intermediária, de 3 a 8 mínimos, o porcentual em 12 meses foi de 10,38%.

Carnes pressionam orçamentos

Um dos motivos para a inflação estar mais elevada é a alta recente nos preços das carnes, conforme o economista Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe.

Há alguns itens específicos que tiveram comportamentos acentuados. Em especial, no grupo de semielaborados, as carnes chamaram atenção. As proteínas têm um peso grande neste grupo de 1 a 3 salários mínimos. A carne bovina subiu muito, mas também a carne de frango
Guilherme Moreira, economista da Fipe

Os dados da Fipe mostram que a alta nos preços das carnes nos 12 meses até outubro impactou as três faixas de renda:

1 a 3 salários mínimos

  • Carnes bovinas: +21,61%
  • Carnes suínas: +0,08%
  • Aves: +38,45%

3 a 8 salários mínimos

  • Carnes bovinas: +21,28%
  • Carnes suínas: +0,30%
  • Aves: +37,65%

Mais de 8 salários mínimos

  • Carnes bovinas: +21,47%
  • Carnes suínas: +0,67%
  • Aves: +38,12%

Peso maior no orçamento da baixa renda

O problema é que, apesar de os aumentos nos preços das carnes afetarem todas as famílias, o impacto sobre as de baixa renda é maior.

A Fipe lembra que, enquanto os gastos com alimentação correspondem a 28,78% do orçamento das famílias que ganham entre 1 e 3 salários mínimos, eles abarcam apenas 17,63% das despesas de quem ganha mais de 8 salários mínimos. Para a faixa intermediária, de 3 a 8 mínimos, o peso é de 23,62%.

"Quando você fala que a inflação geral foi de 10%, significa que esta família de baixa renda teria que ganhar 10% a mais para conseguir consumir a mesma coisa", afirma Moreira. "Ter que reduzir o consumo, nesta circunstância, representa uma perda brutal de qualidade de vida."

O coordenador do IPC explica que, entre as classes mais altas, os gastos com despesas pessoais e educação são mais elevados. Por isso, quando a inflação de alimentos está maior, as famílias conseguem cortar despesas na outra ponta, com viagens e cursos, por exemplo. Assim, o impacto na qualidade de vida é menor.

Pressão vai continuar

Embora as projeções do mercado financeiro indiquem índices de inflação mais acomodados em 2022, Moreira afirma que as famílias de baixa renda continuarão pressionadas nos próximos meses em função dos preços dos alimentos.

"Energia, outra fonte de pressão, deve se acomodar um pouco no início do próximo ano, mas a alimentação continuará em alta. O alívio deve ser pequeno", diz o economista. "As carnes continuarão subindo", alerta.

Na alta renda, pressão está nos transportes

Os dados da Fipe revelam ainda que, enquanto as famílias de renda menor são pressionadas pelos custos de alimentos, a alta renda está pagando mais caro para se transportar.

O IPC FX mostra que a inflação de transportes foi de 16,19% entre famílias que ganham mais de 8 salários mínimos e de 16,40% entre aquelas com renda entre 3 e 8 salários.

Na faixa entre 1 e 3 salários, o porcentual foi bem menor, de 9,24%.

"O aumento do combustível pesa mais para as famílias de mais alta renda, que têm carro", diz Guilherme Moreira, da Fipe. Nos 12 meses até outubro, o preço da gasolina subiu 41,55% na cidade de São Paulo, de acordo com a fundação.