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Fraudadores de azeite colocam até óleo de acender lamparina no produto

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/12/2021 04h00

Na semana passada, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspendeu 24 marcas de azeite de oliva no Brasil (veja a lista no final do texto), e um total de 151.449 garrafas foram retiradas de circulação. Segundo o Mapa, os produtos, em sua maioria, estavam adulterados com outros tipos de óleo, como de soja, corantes e até azeites impróprios para o consumo, como o lampante, produto que também é derivado da azeitona, mas indicado para acender lamparinas.

De acordo com o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), do Mapa, Glauco Bertoldo, na operação da semana passada todas as garrafas eram rotuladas como importadas. A grande maioria delas tinha adição de óleos, como o de soja e outras substâncias. "São adicionados óleos de soja, milho e outros, corantes e aromatizantes para ganhar volume", disse.

Outro produto utilizado para fraudar o azeite de oliva, segundo ele, é o óleo vegetal com azeite lampante, que tem cheiro forte e acidez elevada. O produto, conforme o Conselho Oleícola Internacional (IOC), é extraído de azeitonas deterioradas ou fermentadas, é impróprio para o consumo, devido a sua acidez, superior a 3,3%, e, antigamente, era usado para acender lamparinas.

Soja, corantes e aromatizantes

Bertoldo disse que, até 2017, quando o Dipov ainda não realizava as operações de fiscalização (duas por ano), os azeites de oliva extravirgem tinham até 66% de fraudes.

"As empresas importavam azeites de baixa qualidade para vender no Brasil como produtos de alta qualidade. Depois da fiscalização, essas importações cessaram, e os fraudadores começaram a utilizar outros óleos vegetais, de soja, milho, lampante, corantes e aromatizantes, rotular como azeite extravirgem importado e vender a redes de supermercado menores ou até diretamente a restaurantes, como azeite extravirgem", declarou.

Segundo ele, um dos grupos de fraudadores presos na semana passada, no Rio de Janeiro, já havia sido flagrado em operações anteriores, mas no Espírito Santo.

"A operação tem levado especialistas sensoriais para identificar a fraude nos supermercados porque, antes, até que saíssem os resultados em laboratório, o produto já tinha acabado, não era possível apreender, e os fraudadores já estavam em outro estado", disse.

Especialistas provam azeites para descobrir fraudes

Nas operações, os especialistas em azeites, filiados ao IOC, analisam sensorialmente os produtos: cor, aroma e gosto. Assim, conseguem identificar a fraude. "Essas adulterações mais refinadas muitas vezes não são detectadas nem em laboratório", afirmou Bertoldo.

O conteúdo apreendido na semana passada também passará por testes laboratoriais, segundo o Dipov, e os resultados devem sair em breve.

Especialista do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/SP), a engenheira Ana Maria Rauen de Oliveira Miguel disse que, entre as misturas mais comuns utilizadas nas fraudes, estão óleo de soja, milho, girassol alto oleico (produto com características similares às do azeite de oliva), azeites refinados, lampante misturado a óleo de soja ou de avelã e óleos minerais.

Consumo e produção

O Brasil é o terceiro maior importador de azeite de oliva do mundo (perde para EUA e União Europeia). De acordo com o IOC, em 2020, foram importadas 104.179 toneladas de azeite de oliva e bagaço de oliva, 20% a mais que em 2019.

Em cinco meses de 2021, o dado mais recente divulgado, as importações já eram 11% maiores que no mesmo período do ano anterior.

Estatísticas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mostram que, anualmente, o consumo nacional do produto é de 70 milhões de litros.

Azeite nacional sem fraudes

Conforme Bertoldo, a operação de fiscalização também detectou que nenhuma marca nacional tinha adulterações. "O azeite nacional, produzido a partir de oliveiras cultivadas aqui e envasados no país, não mostra nenhum tipo de fraude e aponta para uma qualidade excelente", disse o diretor do Dipov.

No Brasil, o Rio Grande do Sul concentra 75% da produção de azeites. O restante é produzido em regiões como São Paulo e Minas Gerais.

Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, neste ano devem ser produzidos, só naquele estado, 202 mil litros do produto, processado por 15 indústrias em 11 cidades.

O volume é quatro vezes maior que o produzido no ano passado, 48 mil litros e tende a crescer, já que os olivais (plantações de oliveiras) atingem seu ponto máximo de produção em torno de oito anos —as primeiras lavouras foram implantadas no país em 2012. Até o final do ano passado, havia no estado 6,2 mil hectares plantados com oliveiras.

Segundo informações do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), como os olivais nacionais são novos, a expectativa é encerrar 2021 com 10 mil hectares plantados e, até 2025, chegar a 20 mil hectares. Em 2019, a produção de azeitonas no país foi de 1,4 milhão de quilos e, em 2020, 1,6 milhão de quilos.

Veja as 24 marcas de azeite com venda suspensa pelo governo:

  • Alcazar
  • Alentejano
  • Anna
  • Barcelona
  • Barcelona Vitrais
  • Castelo dos Mouros
  • Coroa Real
  • Da Oliva
  • Del Toro
  • Do Chefe
  • Épico
  • Fazenda Herdade
  • Figueira do Foz
  • llha da Madeira
  • Monsanto
  • Monte Ruivo
  • Porto Galo
  • Porto Real
  • Quinta da Beira
  • Quinta da Regaleira
  • Torre Galiza
  • Tradição
  • Tradição Brasileira
  • Valle Viejo