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Tecnologia permite controlar gasto com luz em tempo real, mas ainda é cara

Distribuidoras têm projetos para levar novas tecnologias aos clientes, modernizando a conta de luz; o problema é o custo Imagem: Getty Images/iStock

Giulia Fontes

Do UOL, em São Paulo

26/01/2022 04h00

O avanço da tecnologia deve mudar a forma como você lida com a sua conta de luz. Novos equipamentos vão permitir acompanhar seu consumo de energia em tempo real, identificando, por exemplo, eletrodomésticos ou hábitos que gastam demais. A novidade também deve facilitar o religamento de energia após quedas, diminuindo o tempo de espera do cliente.

Essas funcionalidades são possibilitadas pelas redes inteligentes de energia elétrica, mas estão disponíveis em poucos lugares. São apenas projetos-piloto das distribuidoras em algumas casas. Mas a intenção dessas empresas é expandir o alcance dessas redes para levar a tecnologia a todos os consumidores no futuro.

O principal entrave é o custo: a instalação dos novos equipamentos envolve investimentos, que acabam incluídos na conta dos consumidores.

Menos tempo sem luz

As redes elétricas inteligentes têm a mesma estrutura das redes comuns de energia que abastecem os consumidores hoje. A diferença é que elas têm uma camada a mais, que adiciona ferramentas de comunicação, digitalização, controle e automação.

Um exemplo de aplicação dessa tecnologia é a instalação de sensores na rede de energia elétrica. Esses sensores permitem que a distribuidora identifique pontos em que houve queda de energia sem que o consumidor precise entrar em contato com a empresa.

A rede inteligente tem uma capacidade de se regenerar. Por exemplo, se uma árvore cair em cima da rede elétrica que abastece a sua região, a própria rede identifica o que houve e pode desviar o fluxo de energia, sem intervenção humana.
Delberis Lima, professor do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio

Com uma ação assim, o número de pessoas atingidas pela queda de energia pode diminuir, e a distribuidora ganha tempo para enviar uma equipe de funcionários até o local e resolver o problema físico.

"O próprio sistema identifica onde está a falta de energia e avalia qual circuito pode ser reenergizado, fazendo isso automaticamente, sem que uma equipe precise se deslocar até o ponto", afirma Marcos Madureira, presidente da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia).

Consumidor informado dos gastos

Outra aplicação afeta diretamente a forma como o consumidor lida com a sua conta de luz. A instalação de medidores inteligentes, que são digitais, permite que o cliente acompanhe o uso de energia na sua casa em tempo real.

Os novos equipamentos também dispensam a figura do leiturista, que vai até a casa das pessoas para registrar o consumo de energia.

Diogo Lisbona, pesquisador do Ceri (Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura) da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz que, no modelo atual, o cliente não consegue saber qual é o seu consumo instantâneo. Com isso, acaba se surpreendendo no final do mês, quando a conta chega.

Com esse novo modelo, o consumidor conseguiria saber não só quanto, mas de onde está vindo aquele consumo. Por exemplo, quanto gasta o ar condicionado, a geladeira etc. Com isso, poderia usar a energia de forma mais consciente.
Diogo Lisbona, da FGV

Cortes parciais de energia de devedores

As distribuidoras enxergam nessas funcionalidades a possibilidade de oferecer novos produtos aos clientes, como tarifas diferenciadas de acordo com o perfil de consumo.

Lisbona diz que os medidores inteligentes possibilitariam que as empresas garantissem um fornecimento mínimo, suficiente para o funcionamento de uma geladeira, por exemplo, nos casos em que o consumidor não pagou a conta.

"Se o consumidor que não pagou a conta ligar um ar condicionado, por exemplo, o fornecimento cai. É uma forma de punir a inadimplência sem cortar a energia toda", afirma.

Distribuidoras testam tecnologia

Madureira, da Abradee, diz que todas as distribuidoras que atuam no país têm usado as novas tecnologias, ainda que em fases iniciais. A Abradee não tem uma estimativa de quantos clientes já usufruem da modernização no Brasil todo.

Em São Paulo, a Enel tem como meta instalar 150 mil medidores inteligentes nos bairros de Perus e Pirituba até março deste ano; 130 mil já estão funcionando. O projeto todo prevê que 300 mil medidores analógicos sejam substituídos na capital.

Medidor inteligente instalado pela Copel. do Paraná Imagem: Divulgação/Copel

No Paraná, a Copel (Companhia Paranaense de Energia) já substituiu 200 mil medidores em um programa de modernização da rede.

Júlio Omori, superintendente de projetos especiais da Copel, diz que no projeto-piloto feito pela empresa, em Ipiranga (PR), o consumidor já tem acesso a um aplicativo que mostra o consumo diário da residência e a previsão de consumo mensal.

Desde o início do projeto, em 2016, o custo para a aplicação da tecnologia caiu de R$ 1.500 por casa para R$ 600. O valor não é pago pelo consumidor imediatamente: o gasto é computado como um investimento da distribuidora, que será dividido entre todos os clientes da Copel no momento da revisão da tarifa.

Até 2024, queremos chegar a 30% dos consumidores [do Paraná] atendidos por essa tecnologia. Nossa expectativa é ter tudo integrado até 2030.
Júlio Omori, da Copel

Custo barra avanço mais rápido

O problema principal está justamente no custo. Madureira, da Abradee, diz que o tamanho do país não permite que o avanço tecnológico ocorra na mesma velocidade em todos os lugares. Também não há uma estimativa de quando todas as regiões terão redes e medidores inteligentes.

"Temos que fazer isso da forma que cause menor impacto [na conta do consumidor]", diz.

Segundo Lisbona, da FGV, a digitalização do sistema é algo que vai acontecer de qualquer forma, mas é preciso descobrir qual é o ritmo ideal para as mudanças.

A realidade do brasileiro é de uma tarifa de energia que vem crescendo acima da inflação na última década. Não tem esse espaço [para os investimentos]. Por isso é preciso calibrar muito bem o ritmo [da digitalização da rede].
Diogo Lisbona, da FGV

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