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Mercado Livre exclui anúncio de produtos nazistas e suspende vendedor do RS

Mercado Livre excluiu itens nazistas e suspendeu vendedor após denúncia do vereador Leonel Radde (PT-RS) - Reprodução
Mercado Livre excluiu itens nazistas e suspendeu vendedor após denúncia do vereador Leonel Radde (PT-RS) Imagem: Reprodução

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em Maceió

15/02/2022 14h36

O Mercado Livre afirmou que excluiu de seu site o anúncio de produtos que fazem apologia ao nazismo, que estavam sendo comercializados por um vendedor de Gravataí, no Rio Grande do Sul. O responsável, cuja identidade não foi revelada, está suspenso da plataforma.

A ação do Mercado Livre foi motivada por uma denúncia feita pelo vereador de Porto Alegre, Leonel Radde (PT-RS), que também é policial civil e faz parte do grupo de "Policiais Antifascistas".

Por meio de seu perfil no Twitter, Leonel Radde disse ter identificado patches inspirados em símbolos nazistas, com artes que fazem referência à SS, a polícia nazista durante o governo de Adolf Hitler na Alemanha. No anúncio da venda do item no site, que custava cerca de R$ 16, a descrição diz: "Patch Bordado Schutzstaffel Divisão Panzer SS 8x8 Mlt226".

"O Mercado Livre compactua com o nazismo? Esses produtos estão sendo vendidos de forma aberta no site, produzidos aqui na cidade de Gravataí/RS, pela Toca do Bordado. As medidas judiciais já foram tomadas. Fascistas, não passarão!", escreveu Radde, que reportou o caso à DPCI (Delegacia de Polícia Civil de Combate à Intolerância) do Rio Grande do Sul, no âmbito da Operação Bastardos Inglórias, que combate o nazismo no estado.

Conforme a descrição do produto, a Toca dos Bordados, responsável pela fabricação, comercializava no Mercado Livre desde 2010. Nesse período, a empresa realizou mais de cem mil vendas.

Em comunicado ao UOL, o Mercado Livre informou que suspendeu o vendedor e afirmou que proíbe "a venda de produtos que pregam a violência e a discriminação e isso inclui itens não informativos, relacionados ou que fazem apologia ao nazismo", sob a penalidade de que "tais anúncios são excluídos e o vendedor, notificado".

A empresa afirma que mantém convênio com a organização World Jewish Congress para combater o "discurso de ódio racial e antissemitismo a partir da troca de informações, monitoramento, análise e exclusão de anúncios considerados proibidos nos 18 países em que opera".

O UOL entrou em contato com a DPCI, mas ainda não obteve retorno. Quando a resposta for enviada, esta matéria será atualizada.

Fazer apologia ao nazismo é crime previsto por lei no Brasil, com pena de reclusão que pode variar entre um a três anos, além de multa, conforme prevê o artigo 1º da Lei 7.716/89. É considerado apologia fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação nazistas.

Nazismo virou assunto no Brasil após defesa de partido nazista

A discussão sobre o nazismo no país ficou em evidência nos últimos dias após o influenciador digital Bruno Aiub, conhecido como Monark, ser demitido do podcast "Flow" por defender a descriminalização do partido nazista no território nacional.

Ontem, viralizou nas redes sociais o caso de um torcedor do Brasil de Pelotas, time do Rio Grande do Sul, que foi expulso do estádio Bento Freitas no último domingo (13) por exibir uma tatuagem com o título da autobiografia do líder nazista Adolf Hitler, "Mein Kampf" ("Minha Luta"). A obra inspirou o movimento nazista na Alemanha no século XX, que levou o assassinato de milhões de judeus no Holocausto.

Outro caso que ganhou repercussão aconteceu em Mossoró, no Rio Grande do Norte, quando moradores de um condomínio se revoltaram após um vizinho colocar, no terraço de sua casa, uma placa contendo uma suástica nazista.

Grupos neonazistas se espalham pelo país

No mês passado, a antropóloga Adriana Dias divulgou um mapa que apontou o espalhamento de células neonazistas pelo país, com crescimento de 270,6% entre janeiro de 2019 e maio de 2021. Os grupos circulam por todas as regiões, impulsionados pelos discursos de ódio e extremistas contra as minorias representativas.

Em outubro do ano passado, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu um homem de 58 anos, identificado como Aylson Proença Doyle Linhares, suspeito de estupro de vulnerável contra um menino de 12 anos. No entanto, em seu apartamento, localizado na Vargem Grande, na zona oeste da cidade, os agentes encontraram uma vasta coleção com material nazista, avaliada em R$ 19 milhões de reais.

Entre os itens encontrados com Linhares, havia 12 fardas originais, bandeiras, um quadro de Adolf Hitler, recortes de jornal dos anos 1950 sobre o nazismo e fascismo, medalhas do Terceiro Reich, capacete militar, e um documento da SS (Schutzstaffel) - organização paramilitar ligada ao partido nazista, com a foto do suspeito.

Na época, o delegado Maurício Armond informou ao UOL que aquela foi a primeira vez que a Polícia Civil encontrou "um material nazista com todo esse volume, itens, valor material e histórico".

"É algo impressionante e jamais visto por aqui. Não só pela quantidade apreendida, mas pela preciosidade. Obras de arte, fardas e armas originais da Alemanha nazista e muito, mas muito mais. Ele é de uma família de posses. Os pais eram investidores e ele usava parte da herança para essa coleção nazista", acrescentou Armond.