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Casos de 'golpe da fruta' mudam Mercadão, mas ainda há confusão com preços

Vinícius de Oliveira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2022 17h41Atualizada em 18/02/2022 17h42

O clima no Mercado Municipal de São Paulo, o Mercadão, na tarde de quinta-feira (17), era mais tranquilo após as denúncias de 'golpe da fruta' feitas por clientes, que levaram à interdição de três boxes nesta semana. Mas a reportagem do UOL presenciou confusão com preços na hora de vender ao consumidor. Uma bandeja com atemoia prometida por R$ 50 ficou em mais de R$ 60.

Segundo as denúncias, os funcionários costumam oferecer frutas de graça para que visitantes experimentem. Na sequência, montam bandejas com os produtos e cobram valores muito altos. Também não informam os valores por quilo, e sim em gramas, o que confunde os compradores. Além disso, os vendedores também colocariam mais quantidade do que a combinada. Os usuários que se recusam a comprar dizem que são pressionados ou xingados. Na visita que o UOL fez, isso não foi verificado.

Antes os vendedores ficavam nos corredores oferecendo frutas. Agora tentaram atrair o consumidor para próximo da banca com uma conversa simpática. Já perto da barraca, você é convidado a experimentar somente a fruta que tem interesse — como numa feira de rua normal.

Mercadão - Vinícius de Oliveira/Colaboração para o UOL - Vinícius de Oliveira/Colaboração para o UOL
Comerciantes oferecem frutas no Mercado Municipal de São Paulo, o Mercadão
Imagem: Vinícius de Oliveira/Colaboração para o UOL

Após pedir para experimentar a fruta pinha, também conhecida como fruta-do-conde, a reportagem disse que voltaria mais tarde para comprar o produto. Nenhum vendedor mudou o tom de voz, ficou agressivo ou tentou nos coagir para levar a fruta na hora.

Um grupo de turistas de Sorocaba (SP) também disse ter se sentido à vontade para passear no Mercadão. O representante comercial Valdimir Souza, 48 anos, estava com duas amigas e disse que fez suas compras sem grandes perturbações. "Ninguém foi agressivo com a gente", disse.

Mercadão - Vinícius de Oliveira/Colaboração para o UOL - Vinícius de Oliveira/Colaboração para o UOL
Preços das frutas estão sob a mira da fiscalização do Procon no Mercadão
Imagem: Vinícius de Oliveira/Colaboração para o UOL

Morando em São Paulo há um ano, o capixaba Renato Dutra, 26 anos, aproveitou para visitar o ponto turístico pela primeira vez e também notou que os vendedores foram cordiais. "Gostei muito daqui e pretendo voltar em breve", garantiu.

Uma situação bem diferente da que foi vivida pela diretora pedagógica Claudia Moura, 52 anos. Natural de Brasília, ela visitou São Paulo no final de dezembro de 2021. "Era uma abordagem muito direta e invasiva. As frutas que eles ofereciam eram muito gostosas e você recebia um monte de degustações e, às vezes, você não conseguia sair dali", relembra.

"Eles praticamente já preparavam alguma coisa para você levar e, se você recusava, vinha uma fala muito agressiva ou mal educada. Como se a gente tivesse obrigação de levar aquilo ali. O tom ia mudando e você saia da banca quase sendo xingado", completa.

Fiscalização do Procon-SP

Apesar da cordialidade, o clima de tensão era visível no ar. Sem muitos clientes no fim de tarde, vários lojistas se reuniam em rodinhas para comentar a fiscalização do Procon-SP mais cedo, que atuou 11 locais por desrespeitarem a legislação. "Parece que eles querem acabar com o Mercadão", lamentou um vendedor que preferiu não se identificar.

De acordo com os fiscais do Procon-SP, as lojas foram autuadas por venda de frutas importadas com prazo de validade vencidos e sem conter dados do importador; pela falta de informação precisa e adequada dos preços dos produtos; e também por não disponibilizarem ao público de um exemplar do CDC (Código de Defesa do Consumidor). Também foram autuadas lojas que não emitiram notas fiscais ou que o comprovante de pagamento tinha um CNPJ diferente do informado.

Trabalhando há quatro anos em uma das bancas de frutas mais famosas do local, ele afirma que as práticas relatadas pela imprensa foram pontuais. "É uma ou outra loja que faz isso. Eles deveriam dar os nomes das bancas e dos vendedores, mas não generalizar o Mercadão como um todo", completou.

O jovem de 26 anos mostrou que o assunto que estava rendendo no grupo de WhatsApp dos lojistas da região naquela tarde era a denúncia do "golpe da mortadela", em que restaurantes estariam supostamente vendendo o produto de marca inferior à anunciada.

"Um dos problemas apontados é que a mortadela estava fatiada e embalada, sem comprovante de marca. Eles querem que fatie a mortadela na hora? Em cima do cliente? Tem fim de semana que são vendidos mais de 1 mil sanduíches", argumentou.

Preço bem mais alto que o estimado

Uma das denúncias fiscalizadas pelo Procon-SP era de que os vendedores estavam falando o preço em gramas dos produtos e não em quilos, para confundir os turistas. Nas três barracas visitadas pela reportagem, os produtos estavam expostos com plaquinhas visíveis, com o preço em quilogramas ou por unidade.

No entanto, não dá para dizer que os produtos sejam baratos (veja o comparativo no fim do texto). São preços que, de acordo com os lojistas, se justificam pelo aumento do aluguel do espaço e da conta de luz.

Mas uma prática que ainda persiste está em tentar enganar o consumidor sobre o preço final da compra. Ao experimentar a fruta-do-conde (R$ 39,90, o quilo), nos foi oferecida sua prima mais cara, a atemoia (R$ 49,90, o quilo). Depois de nos convencer a levar a fruta, o vendedor disse que cada item pesaria cerca de 300 gramas e insistiu para levarmos três unidades, o que daria aproximadamente um quilo.

Educadamente recusamos e pedimos apenas duas unidades de atemoia. Na balança, a surpresa desagradável: 1,23 kg e R$ 61,38 o preço final da compra. Diante do olhar de reprovação e da diferença de peso, o vendedor tentou se justificar. "Peguei as maiores frutas para você", justificou.

Se a expectativa era gastar em torno de R$ 50, o preço final ficou mais alto. Ainda assim, o vendedor tentou empurrar outros itens para faturar ainda mais na venda. "Não quer ver mais nada? A uva está uma delícia", disse apontando para as frutas mais próximas do caixa.

Preços abusivos

Outra reclamação recorrente são os preços "de turista" que são praticados nos boxes do Mercadão. Comparamos algumas das frutas mais comuns com os valores de dois mercados. Os preços foram consultados em delivery online na quarta-feira (17) às 20h58.

Veja a seguir quanto custa cada uma delas:

Maçã argentina

  • Mercadão: R$ 7,00 a unidade
  • St Marche: R$ 4,38 a unidade
  • Mambo: R$ 5,77 a unidade


Maracujá doce

  • Mercadão: R$ 39,90 o quilo
  • St Marche: R$ 43,90 o quilo
  • Mambo: R$ 46,90 o quilo

Pêssego importado

  • Mercadão: R$ 39,90 o quilo
  • St Marche: R$ 27,90 o quilo
  • Mambo: R$ 22,90 o quilo

Physalis

  • Mercadão: R$ 15,90 a bandeja
  • St Marche: R$ 13,59 a bandeja
  • Mambo: R$ 10,69 a bandeja


Melão amarelo-Rei

  • Mercadão: R$ 18,90 o quilo
  • St Marche: R$ 10,99 o quilo
  • Mambo: R$ 9,40 o quilo