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Ucrânia quer Rússia fora do Swift, sistema internacional de bancos; entenda

Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, pede sanção contra a Rússia - Francisco Secco/Pool/AFP
Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, pede sanção contra a Rússia Imagem: Francisco Secco/Pool/AFP

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

24/02/2022 15h35Atualizada em 24/02/2022 17h48

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fez um apelo nesta quinta-feira (24) para que a Rússia seja banida do Swift — o sistema de transferências internacionais que conecta bancos ao redor do mundo.

A medida, que já estava sendo discutida por países aliados à Ucrânia antes mesmo da invasão russa, pode representar um duro golpe na economia da Rússia.

Em meio às ações do exército russo em território ucraniano, Kuleba foi às redes sociais.

Não serei diplomático quanto a isso. Todos os que têm dúvidas sobre se a Rússia deve ser banida do Swift têm que entender que o sangue de homens, mulheres, crianças ucranianas inocentes estará em suas mãos também. [É preciso] proibir a Rússia no Swift.
Dmytro Kuleba, ministro de Relações Exteriores da Ucrânia

Mas, o que é o Swift?

O Swift --ou Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, na sigla em inglês-- é uma cooperativa criada pelos países para permitir a padronização de informações financeiras e transferências de recursos entre bancos ao redor do mundo.
O sistema permite conexão e pagamentos entre mais de 11 mil instituições financeiras, em mais de 200 países --a Rússia, inclusive.

Em transações de importação e exportação de mercadorias, por exemplo, o Swift é o meio mais utilizado no mundo para transferência de valores entre comprador e vendedor. O banco do comprador se comunica com o do vendedor e faz transferências por meio do Swift.

Por este motivo, a exclusão da Rússia do sistema seria um duro golpe econômico para o país comandado por Vladimir Putin.

Durante a tarde desta quinta-feira (24), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou a jornalistas que o Swift é uma opção entre as medidas de sanção contra a Rússia. No entanto, ele sinalizou que os países ligados ao sistema ainda não partirão, neste momento, para a exclusão da Rússia.

Impactos para a Rússia

Especialista em Economia Internacional, o professor Simão Davi Silber, da USP (Universidade de São Paulo), afirma que a exclusão seria um retrocesso para a economia russa.

"Sem o Swift, a Rússia teria que usar um sistema quase de 'escambo'. Teria que acertar diretamente com o parceiro comercial o sistema de pagamento", explica Silber.

O professor cita, como exemplo, o comércio de carne entre o Brasil e a Rússia. "A Rússia compra carne da gente. Então, sem o Swift, eles teriam que fazer pagamentos de banco a banco. Seria muito mais difícil, considerando eventuais sanções."

Silber lembra ainda dos impactos comerciais para a Rússia frente às restrições que vêm sendo discutidas entre os países que apoiam a Ucrânia.

Da noite para o dia, sumiu o mercado da Europa, das Américas, da Oceania - já que Austrália e Nova Zelândia entraram nas retaliações. Sobrou para a Rússia apenas um grande aliado, que é a China. O grande perdedor vai ser a Rússia.
Simão Davi Silber, especialista em Economia Internacional

Desde 2014, porém, a Rússia vem desenvolvendo seu próprio sistema de transferências internacionais, o SPFS (Sistema para Transferência de Mensagens Financeiras, na sigla em inglês).

Ele funcionaria como um concorrente do Swift, só que controlado por Moscou. Apesar dos esforços para uso em outros países, como China, Turquia e Irã, o sistema russo ainda tem abrangência limitada.