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AngelUs: plataforma conecta mulheres à rede para crescimento profissional

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Renato Pezzotti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/03/2022 04h01

Um plano de carreira definido, com etapas a superar e um objetivo definido onde se quer chegar. Para a executiva Claudia Colaferro, esse é um dos grandes gargalos para que mais mulheres alcancem um sucesso profissional ainda maior.

Pensando nisso, ela criou, em março do ano passado, a Angelus: uma plataforma para mulheres que oferece o diagnóstico da carreira, traça um plano e auxilia na capacitação profissional de cada uma, com o apoio de uma rede de executivas de diferentes áreas.

Claudia, que já passou por multinacionais como Grupo Dentsu, Philips, Motorola, Coca-Cola, Unilever e Natura, teve o insight há cerca de 4 anos, enquanto morava nos Estados Unidos.

"Ao longo de 30 anos, vi muitas vezes como as mulheres simplesmente não ambicionam cargos e objetivos à sua altura. Infelizmente, muitas ainda acreditam que nunca chegarão ao topo porque o caminho, além de longo, é incerto. Com esse medo, acabam por deixar muito do seu potencial inexplorado", diz.

"O mercado norte-americano, como muitos outros, tem uma evasão muito grande das mulheres que querem ter filhos. Fiz uma palestra sobre os desafios de ir mais longe como mulher e percebi que poderia ajudá-las com uma entidade de voluntariado que tivesse uma causa", declara.

O network oferecido pela plataforma é gratuito -as áreas de autoconhecimento e de planejamento de carreira, entretanto, são pagas. Segundo Claudia, "isso faz a roda girar", com análises específicas, direcionamento e uma espécie de marketplace onde as participantes podem escolher produtos pagos ou gratuitos.

Atualmente, já são 130 as "guardians" do programa, com uma grande pluralidade de saberes, de financeiro a tecnologia, de marketing a negócios, para que as participantes consigam colocar na rua seus projetos. As "guardians" definem se querem cobrar ou não pela mentoria.

O UOL Mídia e Marketing conversou com a executiva. Confira:

Mídia e Marketing: Precisamos de ideias que possam impactar positivamente o mundo - mas nem sempre estas ideias têm investimento das empresas, principalmente no mundo de hoje. Como as companhias podem ajudar iniciativas que focam em diversidade, equidade e inclusão?

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Claudia Colaferro, CEO da plataforma AngelUs
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Claudia: Eu acredito que parte de um maior entendimento da diferença entre investimento assistencialista de investimento de impacto. Esses dois conceitos estão misturados e aqui no Brasil o primeiro é o predominante como destino dos esforços que empresas e pessoas fazem.

A grande diferença em impactar positivamente vem do segundo -o que faz com que haja um "halo effect" positivo a partir de quem recebe. Vemos isso no caso de iniciativas de preparo de mulheres para o mundo profissional.

Eu acredito muito em iniciativas de equidade como força motriz no impacto do mundo

Elas, ao se beneficiarem com uma melhoria em seu trabalham, destinam esse recurso a uma cadeia e multiplica assim outros com seus ganhos. E, quanto mais contínuo esse ganho for, mais consegue mudar o seu entorno (e além). Eu acredito muito em iniciativas de equidade como força motriz no impacto do mundo.

No ambiente empresarial, eu vejo que necessitamos de investimentos consistentes e duradouros, pois nossas crenças culturais estão enraizadas há milênios e temos que ser insistentes em educar novos hábitos nas empresas, tanto para homens quanto para mulheres.

Quais foram as lições que você pode contar deste tempo como empreendedora? O que estes quase dois anos poderiam ter mudado na sua carreira?

Escrevi outro dia sobre algo marcante em minha atual escolha pelo empreendedorismo. Estou empreendendo pela primeira vez e estou em salas de pitchs em reuniões de Fundos de Investimentos (VCs) frequentemente.

Escuto atenta, aprendendo essa nova maneira de fazer negócio. E tenho visto, em quase todos os casos, a ausência de empreendedoras. Me deparo com salas predominantemente masculinas e brancas, tanto do lado do empreendedor quanto do lado do investidor.

Eu, com uma experiência de grandes organizações, vi que a diversidade ainda está em fase inicial, mas fiquei muito espantada pela ainda menor diversidade nesse mundo tão mais jovem, "tão mais atual". Ele, pelo visto, está bem menos maduro. Esperava outro cenário.

Além disso, tem sido difícil entender esse jogo de pôquer. Chamo assim esse jogo que tenho visto: apostas de pessoas sem experiência e, muitas vezes pouco elaboradas, sendo cobertas por cheques gordos, em investidas quase que suicidas.

E, para esse jogo de pôquer, a mulher sai em desvantagens. Li esta frase outro dia e concordo plenamente: "Os fatores que levam a isso certamente são muitos, mas os culturais são os mais relevantes. Um deles é o nosso viés cultural. No momento em que estamos analisando homens e mulheres como empreendedores, utilizamos réguas de análise distintas".

Nós, mulheres, não "sabemos" blefar no jogo: a famosa síndrome de impostora nos ataca em situações diversas. E, quando tentamos, a audiência não nos vê capazes de entregar a promessa, resultante de tantos preconceitos culturais. Isso tudo sem mencionar a questão do etarismo nessa equação, já que o mercado de investidores é extremamente jovem.

Mulheres têm mais espaço no marketing? A comunicação pode ser a 'porta de entrada' para mulheres no alto comando das empresas?

Historicamente, áreas como marketing, RH e atendimento aos clientes têm uma maioria feminina no estágio inicial da carreira e, muitas vezes, são as únicas áreas onde encontramos líderes nas empresas, principalmente no mundo da comunicação. Por esse motivo, pode ser considerado um caminho a ser trilhado para alcançar posições de liderança.

Porém, desde que o mundo valoriza as ações de mercado nas bolsas, que tem como medição de resultados e valorização em ciclos trimestrais, o que vemos é uma busca incessante pelo aumento no curtíssimo prazo. Isso tem feito, na minha opinião, que o marketing perca papel de destaque nas organizações.

A natureza do marketing é a geração de estratégias que diferenciem uma empresa e seus produtos de outras, criando valor de marca e valorização das ações no longo prazo. Na minha opinião, e falo isso há um tempo, houve uma transferência de poder valorizando as lideranças oriundas de pessoas de área de finanças e, às vezes, área de vendas, onde há uma presença predominantemente masculina.

Eu acredito em buscar equidade em todas as áreas nas empresas para que o alto comando possa ser mais plural. Espero ainda poder ver uma melhora em alguns anos nessa representatividade. Sou uma pessoa otimista e trabalho duro para isso.