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Golpistas criam perfis falsos de hotéis e pousadas para conseguir dinheiro

Gopistas criam páginas falsas da Pousada da Amendoeira, em São Miguel dos Milagres (AL) - Divulgação
Gopistas criam páginas falsas da Pousada da Amendoeira, em São Miguel dos Milagres (AL) Imagem: Divulgação

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, do Rio

28/03/2022 11h13

O avanço da vacinação e a redução dos casos de covid-19 no país reaqueceram não só o setor do turismo, mas também o de golpes na internet, como a criação de perfis falsos de pousadas e hotéis nas redes sociais.

Na maioria dos casos, criminosos reproduzem páginas oficiais dos hotéis e entram em contato com os seguidores do perfil oferecendo promoções e sorteio de diárias. Em troca, eles pedem os dados pessoais de cada um e tentam clonar o número de WhatsApp do futuro viajante. Em outros casos, disponibilizam links com vírus capazes de roubar senhas e dados dos usuários.

Pousada do AL já denunciou seis perfis falsos ao Instagram

A pousada da Amendoeira, em São Miguel dos Milagres (AL), é um dos estabelecimentos que vem sofrendo constantemente com a ação dos golpistas. O gerente do espaço, Dante Kiss Righetto, que chegou à pousada há 11 meses, já preencheu seis formulários de comunicação de perfis falsos no Instagram.

"A gente ficava sabendo através das pessoas que entravam em contato perguntando sobre promoções de diárias —só que não tínhamos promoção. Passavam até o print da informação. A gente denunciava, a página saia do ar, mas logo aparecida outra. O proprietário da pousada chegou a ser bloqueado pelos administradores das páginas falsas. Assim, ele não conseguia visualizar a página nem denunciar", disse ao UOL.

Dante afirma que as fotos da página da pousada eram copiadas e publicadas em um perfil semelhante. Uma troca de letra no nome ou o uso de um símbolo foram suficientes para confundir os internautas que acompanham as postagens da pousada. O golpe afeta a rotina da pousada.

"Acabamos tendo que atender essas pessoas interessadas nas promoções. Temos que parar tudo que estamos fazendo para denunciar as páginas. É ruim para todos os lados. Usamos a rede social para divulgar nosso produto, mas acabamos tendo a imagem afetada. É uma experiência negativa envolvendo nosso nome", diz.

A pousada da Amendoeira afirma que negocia com o Instagram o selo de verificação da página —que identifica os perfis oficiais no aplicativo.

Pousada - Divulgação - Divulgação
Pousada do Preto, em Ilha Grande (RJ): cinco páginas falsas usavam o nome e fotos do local
Imagem: Divulgação

Clientes com WhatsApp clonado

Quem enfrenta o mesmo problema desde o ano passado é a Pousada do Preto, em Ilha Grande (RJ). Dona da pousada, Roberta Nakamashi disse que, desde o ano passado, já identificou cinco páginas falsas com o nome e as fotos do local para aplicar golpes.

"Passamos a receber muitas mensagens perguntando sobre sorteio de estadias, que não fazíamos. Com isso, vimos pessoas que tiveram o WhatsApp clonado, e os golpistas ficaram pedindo dinheiro para os contatos", diz.

Roberta diz que, a partir dos golpes, precisou dedicar mais tempo para publicação de posts de alerta para os seguidores. O caso mais recente envolvendo a pousada ocorreu na semana passada.

Cliente perdeu conta da sua loja no Instagram

Uma das vítimas de uma página falsa da Pousada do Preto é Sonia Baruque, 58. O caso, ocorrido em 15 de março, foi registrado na Polícia Civil do Rio.

Ela foi adicionada ao perfil falso da hospedagem e comunicada via mensagem particular que havia ganhado três diárias grátis.

Para oficializar a estadia, o golpista solicitou um código de segurança enviado por SMS, que permitiu que as duas páginas do Instagram de Baruque fossem clonadas. Um dos perfis era da sua loja de bijuterias, com mais de 2.000 seguidores. Ela vendia peças para todo o Brasil por meio da página e precisou interromper o trabalho.

"Não estou vendendo mais nada. Estou com material parado, vendendo só para parentes e amigos. Meu medo é alguém ter caído nesse golpe e não ter me avisado. Passei a madrugada toda acordada mandando mensagens, criando perfil novo só para avisar que a página foi clonada", afirma.

Baruque disse ainda que o golpista publicou anúncios de venda de eletrodomésticos nas páginas dela. Entrou em contato, e o golpista chegou a pedir R$ 500 para devolver a conta.

Empresas dizem que oferecem recursos de segurança

Procurado, o Instagram informou "que possui recursos como Autenticação de Dois Fatores e Solicitações de Login, que, quando acionados, são capazes de barrar a invasão de contas, além de caminhos disponíveis na Central de Ajuda do Instagram para auxiliar na recuperação. Recomendamos que as pessoas façam uso das ferramentas de segurança disponíveis, não compartilhem os códigos de autenticação recebidos e denunciem publicações e contas que considerarem suspeitas ou que finjam se passar por outra pessoa, marca ou negócio. Manter nossa comunidade segura é uma das nossas prioridades e uma área em que buscamos melhorar constantemente", afirmou em nota.

O WhatsApp afirmou que "a empresa oferece mecanismos para que seus usuários se protejam de golpes na plataforma e recomenda a ativação da confirmação em duas etapas, que funciona como uma camada extra de segurança para as contas".

O aplicativo explicou que esse recurso possibilita o cadastro de um e-mail (opcional) e de uma senha (PIN) de seis dígitos (obrigatório), solicitado periodicamente para o usuário e necessário para confirmar o número no WhatsApp.

"Este PIN, assim como o código de verificação enviado por SMS, não deve ser compartilhado com outras pessoas, nem mesmo amigos próximos ou familiares. Também é importante ressaltar que o WhatsApp não entra em contato proativamente com nenhum usuário por telefone para solicitar qualquer tipo de recadastramento de senha ou da confirmação em duas etapas".

Como se proteger?

Os dois golpes mais praticados na internet atualmente são o de ofertas de produtos e serviços inexistentes e o contato direto com parentes e amigos da vítima solicitando dinheiro via Pix, de acordo com especialistas ouvidos pelo UOL.

Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Segurança Digital, recomenda que os internautas não tenham pressa ao fechar negócios e se certifiquem, por meio de outros canais de comunicação, que as informações publicadas são verdadeiras.

"É aquela velha dica: consulte o canal oficial do estabelecimento, ligue, desconfie de perfil com comentário desabilitado e tome cuidado com links enviados", diz.

Igreja explica que repassar dados pessoais pode abrir brecha para que golpistas obtenham senhas e abordem parentes e amigos da vítima para a prática de estelionato.

Em caso de golpe, o usuário deve registrar o caso na delegacia, para que as autoridades entendam como os golpistas estão agindo, além de tentar identificá-los.

Para as empresas, o especialista em marketing digital Lemuel Gonçalves recomenda usar mais de uma plataforma.

"Aconselho as pousadas a trabalharem a comunicação com seus clientes em mais de uma plataforma, como ter e-mail de marketing, aplicativos de mensagens e anúncios patrocinados nas redes sociais. Se informarem aos clientes toda vez que descobrirem um novo golpe, certamente eles ficarão mais atentos, e o prejuízo será bem menor", afirma.

Gonçalves alerta ainda para outra modalidade comum de golpe, que acontece quando uma pessoa liga já informando os dados pessoais de um cliente e, depois, pede um código e senhas pessoais.

"Hoje é possível comprar dados pessoais no submundo da internet, como telefone de contato e até mesmo endereços. Por isso, alguns consumidores recebem ligações em que o golpista informa parte dos nossos dados pessoais. Mas, só com esses dados, não é possível acessar nossas contas bancárias e redes sociais. Então eles costumam ligar e pedir códigos que a gente recebe por SMS ou e-mail. A dica é não compartilhar códigos e senhas", afirma.