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Presidente da B3: 'Brasil está barato. Perdeu relevância entre emergentes'

Gilson Finkelsztain, presidente da B3 - Danilo Verpa/Folhapress
Gilson Finkelsztain, presidente da B3 Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

14/04/2022 11h03

Gilson Finkelsztain, presidente da B3, a Bolsa de Valores do Brasil, disse, em entrevista à revista Veja, que o país está "muito barato" e, nos últimos anos, "perdeu relevância mesmo entre os emergentes".

A declaração foi dada ao ser questionado se o movimento de entrada do investidor estrangeiro na bolsa brasileira deve durar ou é uma questão de oportunismo para comprar ações baratas. Para ele, o movimento pode continuar por bastante tempo.

A verdade é que o Brasil estava e ainda está muito barato, por meio da combinação de ações com preços atraentes e uma taxa de câmbio depreciada. Nos últimos anos, o país perdeu relevância mesmo entre os emergentes. Os investidores estrangeiros procuram crescimento forte nesses países, e, dado o nosso baixo crescimento, eles deixaram o Brasil em segundo plano. Mas, com a bolsa barata e a atual busca por proteção contra a inflação por meio de ativos como os bancos e commodities, o Brasil voltou a atrair o fluxo internacional. A perspectiva é positiva, mas vale lembrar que o investidor estrangeiro busca estabilidade e crescimento. Precisamos fazer nosso dever de casa para que esse fluxo se mantenha Gilson Finkelsztain, presidente da B3, em entrevista à revista Veja

Engenheiro de produção que fez carreira no mercado financeiro, Finkelsztain, 49, ainda falou sobre suas expectativas para as eleições deste ano. Segundo ele, o pleito "sempre traz incerteza", mas avalia que os pré-candidatos apresentados até o momento são bastante conhecidos.

"Já estamos escolados nesse assunto. Passamos por várias experiências de transições políticas. Hoje, existe um certo amadurecimento de que, se forem feitas de forma cuidadosa, essas alterações não afetam a estabilidade do mercado. Eu acredito que vamos ter alguma volatilidade, mas ninguém espera que haja algum tipo de ruptura ou mudança dramática no cenário brasileiro", afirma.

Sobre o "boom" do número de investidores e a chegada de mais jovens à bolsa no período da pandemia da covid-19, o presidente da B3 cita uma "combinação de mudanças estruturais muito positivas", entre elas o fato de que a geração nascida nos anos 1990 "tem maior disposição para estudar o mercado e mais propensão a correr riscos, diferentemente da geração anterior, que convivia com um cenário econômico de inflação e juros elevadíssimos".

Ele diz ainda não acreditar que a inflação e os juros mais altos vão colocar fim à boa fase e fazer com que as pessoas se voltem aos produtos de renda fixa. "Hoje, o investidor está com maior maturidade, diferentemente de dez a vinte anos atrás, quando se tinha apego apenas a produtos de renda fixa. A renda variável ganhou espaço nas carteiras, assim como outros produtos. A dinâmica do mercado de capitais mudou no Brasil e não vai voltar a ser o que era."

Questionado sobre qual o risco das ingerências do presidente Jair Bolsonaro (PL) para a Petrobras, cujo desempenho tem forte impacto no Ibovespa, e, consequentemente, para o desempenho da bolsa, disse que a governança fez bem à estatal, que é controlada pelo Estado, mas tem acionistas privados.

"Talvez, se a gente não tivesse toda a evolução da discussão de governança pela qual a Petrobras passou nos últimos quatro anos, assim como a Lei das Estatais, a empresa estivesse neste momento sendo utilizada como instrumento político. Na conjuntura atual, a Petrobras demonstra que não há problema em ter uma empresa de economia mista listada em bolsa, desde que o acionista controlador entenda que ter sócios significa tratá-los com respeito, sem usar a companhia como se fosse 100% do governo", diz ele.

Sobre uma retomada das aberturas de capital na B3, Finkelsztain diz que este ano será um pouco mais restrito em razão de ajustes de inflação, juros mais altos e crescimento mais baixo. "Com a normalização das condições, essas empresas devem retomar seu movimento para abrir capital. É claro que nem todas chegarão a isso, mas, se analisarmos a indústria de investimento no Brasil, menos de 15% dos ativos estão alocados em ações. À medida que a economia se normalizar, a busca por bons ativos e boas oportunidades de renda variável será retomada."