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Presidente da Caixa diz que vice de logística e mais 6 foram afastados

Daniella Marques, presidente da Caixa Econômica Federal - Reprodução/GloboNews
Daniella Marques, presidente da Caixa Econômica Federal Imagem: Reprodução/GloboNews

Do UOL, em São Paulo

04/07/2022 15h28Atualizada em 04/07/2022 21h14

A nova presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, afirmou hoje que o vice-presidente de logística, Antonio Carlos Ferreira, e seis funcionários vinculados à presidência do banco foram afastados dos cargos após denúncias de assédio sexual e moral.

"Existem os cargos de confiança da presidência, que aí houve uma recomendação de afastamento, pelo Conselho a mim, porque essa é uma responsabilidade e caneta minha. Então são chefe de gabinete, e cinco têm uma função que se chama consultor estratégico, que são as pessoas que estão no entorno da presidência", disse, em entrevista à GloboNews.

A nova presidente do banco explicou que, além de desejar "isolar esse episódio e a apuração", é natural que se leve pessoas de confiança para os cargos estratégicos e que deve afastar outros membros do conselho.

"A gente afastou cinco consultores estratégicos inicialmente. São 20 e possivelmente eu vou trocar os 20 porque quero criar núcleos temáticos no modelo de gestão que eu trabalho", disse.

Os sete de hoje se somam ao ex-presidente Pedro Guimarães, que deixou o cargo na última quarta-feira (29). O ex-vice-presidente de Negócios de Atacado Celso Leonardo Barbosa, apontado como quem acobertava os atos do ex-número 1 da instituição, também pediu demissão na última sexta-feira (1º).

Presidente anuncia canal de atendimento a mulheres

Daniella Marques disse que precisa ter muito cuidado na apuração, e que esta semana irá abrir um canal de atendimento para as mulheres. O objetivo, segundo ela, é entender as denúncias e recuperar danos.

"[Será criado] Um canal de diálogo direto comigo, exclusivo para mulheres nos próximos 30 dias, para que eu me aprofunde nesses casos e seja coerente e correta nas providências que vou tomar", explicou.

A nova presidente da Caixa também explicou que haverá um Colegiado especialmente designado para esclarecer os casos. O grupo terá a participação de um órgão independente de investigação, e contará com o apoio da CGU (Controladoria-Geral da União), além de órgãos internos da Caixa, como a ouvidoria, auditoria, corregedoria e jurídico.

"Vou reunir esse grupo, para trabalhar integrado, junto, de forma permanente, 24 horas por sete dias por semana. Para a gente entender e, se for o caso, punir e reparar os danos, principalmente nas pessoas afetadas, de tudo que aconteceu", disse.

Agora, eu preciso isolar isso e seguir o dia a dia, porque a gente tem que gerar negócios, a gente tem que dar assistência para os brasileiros, e a gente tem que gerar resultado para o banco. E o banco segue. E é meu papel também declarar que essa página está virada, que independente do sintoma da doença, a Caixa agora é o motor das mulheres e vai atuar vocacionada para proteger e promover mulheres na sociedade
Daniella Marques, presidente da Caixa Econômica Federal

Denúncias de assédio sexual e moral

Na semana passada, o site de notícias "Metrópoles" divulgou denúncias de funcionárias do banco, que incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis com a relação de trabalho supostamente praticadas por Pedro Guimarães.

Depois disso, outros relatos surgiram. Uma testemunha, que é assessora de diretoria do banco e trabalhava na matriz, mas não diretamente com Guimarães, disse que as funcionárias se escondiam no banheiro ao ouvir a voz do chefe no corredor. O relato foi mostrado pela GloboNews.

Hoje, uma funcionária da Caixa há 11 anos e gerente de agência há 7 anos em uma capital do país, Rosimara* (nome fictício), afirma que a entrada de Guimarães na chefia do banco trouxe com ela uma naturalização da cultura do assédio.

Existem Pedros Guimarães em cada uma dessas agências, gerenciando de uma maneira sórdida mulheres, que são mães, filhas, esposas, amigas e excelentes profissionais
Rosimara, funcionária há 11 anos da caixa e vítima de assédio

Rosimara relata que participou de reuniões de alto escalão em que as demais mulheres que não estavam presentes eram citadas como "aquela gostosa" e outras referências de cunho sexista.

Casos de assédio moral também foram denunciados. Áudios obtidos pela coluna de Rodrigo Rangel, no site Metrópoles, mostram o ex-presidente da Caixa ameaçando funcionários de demissão, além de uma rotina de xingamentos.

Caguei para a opinião de vocês porque eu que mando. Não estou perguntando. Isso aqui não é uma democracia, é a minha decisão
Ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, durante uma reunião

Em outro áudio, Guimarães insinua que pode demitir funcionários que tomarem decisões sem consultá-lo.

"Vocês são malucos. Vocês só têm a perder. Não tem que ligar para ninguém. Se eu não dei ok, não dei ok e acabou. Por que vocês vão tomar o risco de perder a função por uma coisa que eu não autorizei?", questiona Guimarães.

Em seu pedido de demissão, o ex-presidente da Caixa negou as acusações.