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Telefónica enfrenta oposição a planos envolvendo Telecom Italia

25/09/2013 20h18

ROMA/MILÃO, 25 Set (Reuters) - O presidente do conselho da Telecom Italia, os diretores independentes da companhia e políticos italianos se manifestaram nesta quarta-feira contra a possibilidade de a Telefónica vender alguns dos ativos mais valiosos da companhia assim que assumir o controle da empresa.

As críticas vieram um dia depois de a Telefónica anunciar acordo com três investidores da Telecom Italia para gradualmente assumir o controle sobre a rival e seus lucrativos ativos na América do Sul, sem ter que fazer uma oferta ao restante dos acionistas da companhia.

A insatisfação aponta para uma turbulenta reunião do conselho da Telecom Italia, que ocorrerá em 3 de outubro, quando diferentes facções interessadas na empresa vão debater como a Telecom Italia deverá reduzir sua dívida de quase 29 bilhões de euros e ser reestruturada.

O acordo poderá também colocar pressão sobre o governo italiano para agir, após um representante do Ministério da Economia, Antonio Catricala, excluir uma intervenção na empresa para manter o ex-monopólio estatal sob controle italiano.

Um sinal de como as tensões estão crescendo foi o encontro do presidente italiano, Giorgio Napolitano, com o presidente do conselho da Telecom Italia, Franco Bernabé, nesta quarta-feira.

Bernabé, que está à frente da empresa desde 2008, afirmou que a melhor opção para a operadora é levantar dinheiro junto a investidores para evitar o corte na nota de crédito da companhia para patamar especulativo. Vendas de ativos podem demorar muito tempo, disse ele.

"Há muita liquidez, há condições favoráveis para um aumento de capital", afirmou Bernabè durante audiência no Senado italiano. Ele adicionou o movimento pode ser aberto a novos e atuais investidores, sem especificar o montante necessário.

Um representante sindical disse à Reuters que Bernabè está preparando um ambicioso plano de investimento na Itália, que, se aprovado, poderá exigir injeção de capital na Telecom Italia. Uma fonte com conhecimento do assunto disse que um montante realista para a captação de recursos é de 3 bilhões a 5 bilhões de euros.

Porém, com a Telefónica sobrecarregada com uma dívida de cerca de 50 bilhões de euros e com sua divisão alemã envolvida em uma cara aquisição, a empresa é vista como mais inclinada a apoiar a venda de ativos da Telecom Italia em vez da injeção de mais dinheiro na empresa.

CONTROVÉRSIA

Uma venda da totalidade ou de partes da TIM Participações, operadora brasileira controlada pela Telecom Italia, que compete diretamente com a operadora da Telefónica, a Vivo, ou de suas operações na Argentina podem ser opções para levantar recursos, afirmaram analistas.

Mas os cinco diretores independentes da Telecom Italia manifestaram-se contra a venda das operações nos mercados emergentes.

"Este é o caso da Telefónica, uma competidora direta da Telecom Italia na Argentina e no Brasil e que arrisca forçar a Telecom Italia a vender ativos que são preciosos para a reestruturação da empresa", disse o membro do conselho Luigi Zingales.

Os diretores também criticaram o acordo ao afirmarem que ele trará benefícios apenas para alguns acionistas da empresa.

A Telefónica, junto dos investidores italianos Generali, Intesa Sanpaolo e Mediobanca, controla a Telecom Italia por meio da holding Telco, que tem apenas 22 por cento do grupo.

A Telefónica, cujo acordo anunciado na terça-feira depende de aprovação de autoridades de defesa da concorrência, não comentou sobre os planos para a Telecom Italia.

Analistas e pessoas familiares com a questão disseram ser mais provável uma venda de ativos que um aumento de capital, que poderia custar mais dinheiro ou diminuir sua influência na Telecom Italia.

O conselho da Telecom Italia já rejeitou propostas de compra do magnata egípcio Naguib Sawiris e de Hutchison Whampoa, que foram apoiadas por Bernabé.

Fontes próximas ao tema disseram que AT&T e outras empresas estariam interessadas em assumir a Telecom Italia em maio a um processo de consolidação da indústria.

Enquanto isso, políticos italianos e sindicatos de trabalhadores pediram para a coalizão do governo do premiê, Enrico Letta, intervir na empresa.

O político de esquerda Matteo Colaninno afirmou que o Partido Democrático, ao qual Letta pertence, acredita que "interesses nacionais vitais" que afetam empregos e infraestrutura estão em risco depois do acordo da Telefónica com os acionistas italianos da Telco.

As ações da Telecom Italia fecharam em queda de 4,7 por cento, para 0,572 euro.

(Por Stefano Rebaudo)