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Produção industrial do Brasil cai 1,4% em junho, afetada pela Copa

01/08/2014 12h22

Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial brasileira recuou 1,4 por cento em junho, marcando o quarto mês seguido de queda na pior série de perdas desde 2010, embora a contração tenha sido menor do que o esperado.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial caiu 6,9 por cento em junho, também quarta taxa negativa seguida, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.

Neste cenário, as perspectivas para o setor continuam negativas, com reflexos para a economia como um todo. Há temores, segundo especialistas, até mesmo de que o país amargou recessão técnica na primeira metade do ano.

"A magnitude da queda (da produção industrial) tem relação direta com menos dias de trabalho por conta da Copa (do Mundo) e com redução da jornada de trabalho e férias dadas nas montadoras", afirmou o economista do IBGE André Macedo.

Pesquisa da Reuters com economistas mostrou que as medianas apontavam queda da atividade de 2,25 por cento na base mensal e de 7,65 por cento sobre um ano antes. Como o resultado veio melhor do que o esperado, o mercado de juros futuros operava em alta nesta sessão.

Nos quatro meses até junho, a queda acumulada da produção foi de 3,4 por cento, segundo o IBGE. A última vez que a produção caiu por quatro meses seguidos foi entre maio e agosto de 2010, quando recuou 1,9 por cento ao todo.

A produção mostrou fraqueza generalizada entre os segmentos de produção, fechando o segundo trimestre com retração de 2 por cento sobre os três meses anteriores e de 5,4 por cento sobre igual período de 2013.

"O ano está perdido para indústria. As perspectivas não são boas uma vez que a Argentina não ajuda, as expectativas do consumidor e do empresariado estão em níveis muito baixos e, por enquanto, não se vê reversão do sentimento ruim", avaliou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal.

A indústria não tem conseguido se desvencilhar do baixo de nível de confiança, que em julho chegou ao menor patamar desde abril de 2009. As constantes quedas de produção também têm provocado cortes de empregos e, somente em junho, custaram cerca de 28,5 mil empregos, segundo dados do Ministério do Trabalho.

INVESTIMENTO E VEÍCULOS

O IBGE informou que a categoria Bens de Capital, medida de investimento, registrou recuo de 9,7 por cento em junho sobre maio e de 21,1 por cento na comparação com um ano antes.

Os Bens de Consumo Duráveis tiveram o pior resultado mensal desde o início da série histórica, com queda de 24,9 por cento em junho, recuando 34,3 por cento sobre junho de 2013.

Entre os ramos de atividade, o IBGE destacou que 18 dos 24 pesquisados apresentaram perda em junho, sendo as principais influências negativas veículos automotores, reboques e carrocerias (-12,1 por cento) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-29,6 por cento).

A indústria é um dos principais pesos sobre a economia brasileira, e já há sinais de que a Copa do Mundo continuou pesando sobre o setor em julho. O Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) mostrou que a atividade da indústria teve contração mais uma vez em julho.

Diante desse cenário, a contração da indústria neste ano já é dada como certa. Economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central veem retração de 1,15 por cento.

Para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, a expectativa no Focus é de expansão de apenas 0,9 por cento, muito aquém dos 2,5 por cento vistos em 2013. Há quem não descarte a possibilidade de recessão técnica no semestre passado, com dois trimestres seguidos de queda.

Para a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, o PIB no segundo trimestre deve ter encolhido 0,4 por cento sobre o período anterior, com possibilidade de o primeiro trimestre ser revisado para queda de 0,1 por cento, ante alta de 0,2 por cento.

"Não dá para descartar a recessão técnica", afirmou ele, que vê a economia crescendo apenas 0,6 por cento neste ano.

(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro)