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BC supreende e eleva juros a 11,25%, em primeira reunião após eleição

Por Luciana Otoni
Imagem: Por Luciana Otoni

29/10/2014 20h31

Por Luciana Otoni

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - Três dias depois de a presidente Dilma Rousseff ser reeleita, o Banco Central surpreendeu e decidiu elevar a taxa básica de juros para 11,25 por cento, numa decisão dividida, alegando que aumentaram os riscos para a inflação.

A alta foi bem recebida por agentes econômicos, que viram no movimento desta quarta-feira um sinal de mudança na política monetária no segundo mandato da petista. A expectativa é que os mercados reajam positivamente à decisão na quinta-feira.

"É uma surpresa para o mercado, mas é surpresa boa. É sinal de que é decisão restabelecer a confiança no compromisso com a redução da inflação ao longo do tempo", disse o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.

A presidente, durante a campanha e após o pleito de domingo, prometeu mudanças na condução da política econômica, bastante criticada pelo mercado por ser pouco transparente e muito frouxa pelo lado fiscal, e de ter levado a um cenário de inflação alta e baixo crescimento econômico.

"Essa alteração na política monetária talvez seja vista como uma possibilidade de alteração na política econômica de uma maneira geral. Aparentemente, a mudança da política econômica é de verdade", disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos.

Em comunicado, o Comitê de Política Monetária disse que a "intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável" desde a última reunião no início de setembro.

"À vista disso, o comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016", acrescentou.

Cinco membros do Copom, entre eles o presidente do BC, Alexandre Tombini, votaram pela elevação, enquanto três pela manutenção da taxa de juros. Em pesquisa Reuters realizada na segunda-feira, todos os 43 analistas consultados esperavam manutenção da Selic em 11 por cento. (Full Story)

A expectativa agora é que a Selic suba nas próximas reuniões, em um novo ciclo de aperto monetário.

"É possível aumentar o ritmo de alta para 0,5 ponto percentual em dezembro, 0,5 ponto percentual em janeiro e 0,25 ponto percentual na reunião seguinte", disse o economista-chefe do banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, para quem o quadro inflacionário é "desafiador".

Desde abril deste ano, quando a taxa passou de 10,75 por cento para 11 por cento, o BC não elevava a taxa de juros, apesar da inflação ter rompido o teto da meta em vários momentos. Muitos entendiam que o BC estava evitando elevar os juros para não comprometer ainda mais o crescimento econômico.

A expectativa era de que a taxa de juro seria mantida em 11 por cento neste ano, e depois subiria para 11,50 por cento em 2015, de acordo com a mais recente pesquisa Focus do BC.

"A alta de 0,25 ponto percentual por si só não representa nada. Mas como sinalização, se vier acompanhada de mudança na conduta de política fiscal... pode representar melhora do ambiente econômico. Por ora, é cedo para dizer, é sinal positivo, mas por enquanto fica nisso", disse o especialista em conta públicas da consultoria Tendências, Felipe Salto.

A curva de juros futuros embutia nesta quarta-feira apostas de alta de 1 ponto percentual da Selic no próximo ano. (Full Story)

"Essa decisão vai ser importante para a queda dos juros futuros, vai dar reação boa no dólar e um sinal importante para o mercado. Esse ajuste na política monetária também permitirá ao BC revisar sua projeção para a inflação", disse Eduardo Velho.

O mais recente relatório Focus estimou inflação de 6,45 por cento neste ano e de 6,30 por cento no próximo, enquanto a autoridade monetária, em seu último relatório de inflação, apontou para alta do IPCA de 6,3 e 5,8 por cento, respectivamente.

INFLAÇÃO

Recentemente, o BC deu alguns sinais de que poderia elevar os juros, mas os agentes econômicos entenderam que a mudança ocorreria apenas em 2015. No final de setembro, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, foi um pouco mais longe e abriu a fresta para elevações na Selic. "O Banco Central disse implicitamente e eu repeti explicitamente que isso (alta dos juros) não está descartado", disse o diretor a jornalistas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,75 por cento em 12 meses até setembro, maior nível em quase três anos, acima do teto da meta do governo, de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Soma-se a esse cenário alta de cerca de 10 por cento do dólar de setembro para cá. (Full Story)

Dentro do BC, a avaliação é de que essas duas variáveis aumentaram ainda mais o riscos para a inflação, o que poderia prejudicar as expectativas.

A alta inesperada da Selic agora também foi interpretada por alguns especialistas como uma abertura para o esperado aumento nos preços de combustíveis neste ano.

"Abre caminho para alta nos preços dos combustíveis, pois neutraliza parte do impacto da inflação", afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, para quem a decisão também é um sinal de que Tombini continuará à frente do BC no segundo mandato de Dilma.

(Reportagem adicional de Alonso Soto em Brasília e Flavia Bohone, em São Paulo)