IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Entrada de Abilio Diniz no Carrefour Brasil reacende discussão sobre conflito de interesses

Ana Paula Paiva/Valor
Imagem: Ana Paula Paiva/Valor

Marcela Ayres

18/12/2014 13h02Atualizada em 18/12/2014 17h29

SÃO PAULO (Reuters) - A entrada de Abilio Diniz no Conselho de Administração da unidade brasileira do Carrefour traz novamente à tona a questão de possível conflito de interesses, uma vez que o empresário também comanda o Conselho de Administração da BRF, importante fornecedora da segunda maior varejista do país.

O assunto já havia acirrado ânimos em 2013, ano em que Abilio, ainda presidente do Conselho do Grupo Pão de Açúcar, foi nomeado para a presidência do Conselho da fabricante de alimentos BRF.

Na época, o francês Casino, controlador do GPA, cobrou a renúncia de Abilio do conselho da companhia fundada por seu pai, apontando "evidente conflito de interesses, decorrente das intensas e relevantes relações entre as duas empresas".

O assunto foi resolvido com a saída definitiva de Abilio do GPA em setembro do ano passado, quando abriu mão de todos os direitos políticos na companhia após intensa troca de farpas com o sócio francês, sendo liberado da cláusula que estabelecia não competição com a empresa.

O retorno do empresário ao varejo de supermercados, agora ao lado do maior rival do GPA no Brasil, abre caminho para o mesmo questionamento: com operações de varejo alimentar semelhantes em termos de receita, tanto Carrefour quanto GPA têm a BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão, entre seus principais fornecedores.

Em 2013, as vendas do Carrefour no país somaram R$ 34 bilhões, ao passo que o faturamento bruto da divisão alimentar do GPA --que compete diretamente com o Carrefour por meio das bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Assaí-- chegou a R$ 34,6 bilhões.

Da mesma forma que na época do conflito com o GPA, Abilio também possui ações nas duas empresas. O empresário é dono de participação próxima a 3% da BRF, segundo fonte próxima ao empresário. Nesta quinta-feira, ele anunciou a compra de 10% da subsidiária brasileira do Carrefour por R$ 1,8 bilhão, divulgando que passará a ser membro do Conselho de Administração e dos comitês de Estratégia e Recursos Humanos da varejista.

Segundo a fonte, o empresário não abrirá mão do comando do Conselho da BRF nem tampouco de um assento no Conselho do Carrefour no Brasil, defendendo os mesmos pontos de vista que apresentou ao Casino em 2013.

A avaliação de Abilio e sua equipe de advogados é que não haveria relação de dependência expressiva entre as partes, sendo que, por não exercer a posição de controlador de nenhuma das empresas, ele não teria voz para alterar decisões executivas.

Em suas demonstrações financeiras de 2013, a BRF afirma que "nenhum cliente individualmente ou de forma agregada (grupo econômico) foi responsável por mais de 5% das receitas líquidas de vendas" no ano.

Na época da briga com o GPA no ano passado, Abilio chegou a afirmar, em documento apresentado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que a importância para a varejista da BRF era comparável "a de qualquer outro fornecedor", citando como exemplo empresas como Nestlé, Ambev e Unilever.

O empresário também defendeu no documento que não caberia aos Conselhos discutir ou implementar políticas comerciais, por ficarem os processos de negociação restritos, via de regra, ao trabalho de gerentes e diretores.

A tendência, segundo a fonte, é que Abilio mantenha o mesmo discurso agora no Carrefour, reforçando que a legislação brasileira já determina a declaração de impedimento de voto em eventuais situações de conflito de interesses.

Procurada pela Reuters, a BRF preferiu não comentar o assunto de imediato e o GPA disse que não vai se pronunciar a respeito. Abilio participará de teleconferência com a imprensa junto com o presidente do Grupo Carrefour, Georges Plassat, às 13h desta quinta-feira.

Truques do comércio

As técnicas usadas pelo comércio para "enganar o cérebro" e fazer o cliente gastar mais.

Veja