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BC mantém ritmo e eleva Selic a 12,75%, maior patamar em 6 anos

04/03/2015 20h42

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve o ritmo de aperto monetário e elevou nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,75 por cento ao ano, em decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado, deixando em aberto os próximos passos ao não dar indicações em um curto comunicado.

Com a decisão anunciada nesta quarta-feira, a Selic volta ao mesmo patamar de janeiro de 2009, diante de preocupações inflacionárias, apesar de temores com uma recessão.

"Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 12,75 por cento a.a., sem viés.", informou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em comunicado.

Pesquisa Reuters mostrou que as expectativas dos analistas eram praticamente unânimes de alta de 0,5 ponto da taxa básica de juros, diante do cenário de inflação elevada. Apenas cinco dos 48 economistas consultados esperavam um aumento menor, de 0,25 ponto percentual, principalmente devido ao risco de que os juros altos desacelerem ainda mais a economia.

"Essa manutenção do comunicado vai levar o mercado a precificar outra alta de 50 pontos para a próxima reunião. A manutenção do comunicado deixa o Copom... bastante livre para tomar qualquer decisão em função dos dados que surgirem ao longo do caminho", disse o economista-chefe do Santander, Mauricio Molan.

Ele prevê esta alta, no entanto, como a última do atual ciclo de aperto monetário e estima que Selic começará a cair a partir do quarto trimestre.

No fim de outubro, o Copom deu início ao atual ciclo de aperto monetário ao elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, em decisão surpreendente e que contou com apoio de todos os membros do comitê. No encontro de dezembro, o Copom acelerou o ritmo e elevou a taxa em 0,5 ponto percentual, elevando novamente a Selic em 0,5 ponto percentual na reunião de janeiro.

O comunicado conciso da decisão desta quarta-feira, assim como o da última decisão, deixa a porta aberta para os próximos passos e não compromete o BC com a próxima decisão sobre a taxa básica de juros.

"O anúncio veio exatamente o que a gente esperava: curto, sem maiores explicações e com unanimidade... Não dá para saber se o BC vai ser mais duro ou menos duro. Vai ser duro quando necessário e o necessário depende do que vai acontecer ao longo de 45 dias", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

O BC tem repetido que vai fazer o que for necessário para conter o avanço dos preços, com a inflação ultrapassando o teto da meta oficial --de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,24 por cento em janeiro, chegando a 7,14 por cento em 12 meses encerrados no primeiro mês do ano. O dado referente ao mês passado será divulgado na sexta-feira --pesquisa Reuters mostra que a inflação deve ter subido 1,08 por cento em fevereiro e 7,54 por cento nos 12 meses até fevereiro.

DÓLAR PRESSIONA

A recente alta do dólar tem pressionado os preços e é um dos fatores observados pelo BC. Em fevereiro, a moeda norte-americana subiu 6,19 por cento, acumulando alta de 27,56 por cento em seis meses.

Algumas das recentes medidas de ajuste fiscal adotadas pelo governo também tendem a pressionar a inflação no curto prazo, por incluírem aumento de tributos.

No entanto, essas ações têm sido bem recebidas pelos agentes econômicos porque visam colocar as contas públicas em ordem e resgatar a confiança no país.

O BC tem reforçado que a recente alta do dólar e dos preços administrados são os principais fatores que continuam pressionando a inflação. Mas coloca muitas fichas na nova política fiscal e vê a inflação começando a convergir para o centro da meta em 2016.

Economistas de instituições financeiras preveem que a taxa de juros vai subir mais 0,25 ponto percentual em abril, ficando em 13 por cento até o fim do ano, segundo pesquisa Focus do BC. Para 2016, a estimativa é que a Selic encerre o ano em 11,5 por cento.

(Reportagem de Luciana Otoni, Marcela Ayres e Silvio Cascione)