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Alta do dólar enfraquece concorrentes da Petrobras na importação de gasolina

Marta Nogueira

23/03/2015 16h26

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A concorrência de empresas privadas com a Petrobras na importação de gasolina para fornecimento no Brasil observada no início deste ano deverá ter vida curta e arrefecer em março devido à desvalorização do real e a uma leve recuperação do preço do petróleo no mercado externo, disseram especialistas à agência de notícias Reuters.

As importações tornaram-se atrativas a partir do fim de 2014, quando pela primeira vez em cerca de quatro anos os preços internos do diesel e da gasolina ficaram mais altos do que no exterior.

Os preços domésticos praticados pela Petrobras são controlados pelo governo e balizam o mercado, enquanto no exterior seguem as cotações do petróleo.

O preço da gasolina no Brasil, na sexta-feira (20), ficou igual ao praticado no exterior, segundo a Tendências Consultoria, enquanto o diesel permaneceu 15,3% mais caro no mercado interno.

"A Petrobras é obrigada a importar para atender o mercado, mas para outras empresas já não compensa mais importar combustível, não faz sentido", afirmou o analista da Tendências Consultoria, Walter de Vitto. "Foi bem restrito àquele momento."

Na média de março até o dia 20, a gasolina ficou 4% mais cara no Brasil do que no exterior, enquanto o diesel ficou 14,5% mais caro, segundo dados da Tendências.

Os valores já são bem diferentes dos observados no fim do ano passado e início deste ano. Em janeiro, a gasolina e o diesel chegaram a ficar 37,8% e 35,5% mais caros no mercado doméstico do que no exterior, respectivamente.

Desde a virada do ano, o dólar acumula cerca de 20% de valorização ante o real. Já o petróleo Brent é negociado no mesmo patamar do início do ano, mas chegou a ter alta de quase 10% em meados de fevereiro na mesma comparação.

Predominância da Petrobras

Vitto explicou que, para importar combustíveis, as empresas precisam olhar outras variáveis além dos preços. Os custos de internação o produto, como frete, seguros e taxas aduaneiras, e as limitações logísticas no Brasil são pontos a considerar.

Na janela de oportunidades dos últimos meses, um total de oito empresas fizeram importações de diesel e gasolina A (pura), segundo o diretor de Abastecimento do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Luciano Libório.

Apesar do surgimento dos concorrentes, a realidade brasileira impediu que a Petrobras perdesse sua habitual dominância de mercado, destacou o diretor do Sindicom.

Além da logística de distribuição ser dominada pela estatal, concorrentes temem se expor demais a um cenário que depende muito de decisões repentinas do governo.

A gasolina importada por concorrentes da Petrobras respondeu, em janeiro, por 1,6% do total vendido no Brasil e, em fevereiro, a estimativa é de que tenha atingido 3,2%, segundo Libório.

Já o diesel importado não teve participação em janeiro e estima-se que tenha representado 9% das vendas em fevereiro.

Apesar do surgimento tímido de concorrentes, o cenário favoreceu a Petrobras, que por muitos anos amargou fortes prejuízos com as importações.