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CTNBio libera plantio comercial de eucalipto geneticamente modificado da Suzano

09/04/2015 20h38

Por Priscila Jordão

SÃO PAULO (Reuters) - A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou nesta quinta-feira a liberação do eucalipto geneticamente modificado da FuturaGene, empresa de biotecnologia da Suzano Papel e Celulose, tornando o Brasil o primeiro país do mundo a aprovar o plantio de eucalipto transgênico para fins comerciais.

A FuturaGene afirma que o eucalipto geneticamente modificado traz ganhos de produtividade da ordem de 20 por cento em relação ao eucalipto convencional devido ao maior crescimento da planta. Mas a tecnologia é questionada por movimentos sociais e pela indústria de mel.

A liberação, que ainda está sujeita a eventuais recursos, foi aprovada pela comissão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação por 18 votos favoráveis e três contrários.

A aprovação acontece após a votação na CTNBio, inicialmente agendada para o começo de março, ter sido adiada por conta de protestos de manifestantes contrários à tecnologia e que alegaram riscos de possíveis problemas ambientais e à saúde.

Na época, cerca de 1 mil mulheres integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram a sede da FuturaGene em Itapetininga (SP), enquanto manifestantes protestaram no prédio da Agência Espacial Brasileira (AEB), em Brasília, onde ocorreria a votação.

Segundo a CTNBio e a FuturaGene, não foram registrados protestos nesta quinta-feira na AEB ou na sede da companhia.

A aliança internacional de organizações "Campanha para acabar com árvores geneticamente modificadas", coordenada pelo Global Justice Ecology Project, disse nesta quinta que medidas legais estão sendo exploradas para impedir o lançamento comercial do eucalipto modificado, enquanto o brasileiro Fórum de Combate aos Agrotóxicos disse que a decisão viola a Política Nacional de Biossegurança.

Em audiência pública sobre o tema, a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel) também se mostrou contrária à liberação, afirmando que a introdução do eucalipto geneticamente modificado praticamente exterminará áreas de certificação de mel orgânico, levando a perdas nas exportações de mel e própolis.

O diretor da Néctar Farmacêutica, associada da Abemel, José Alexandre Silva de Abreu, disse à Reuters que pretende entrar com uma ação judicial cautelar contra a decisão da CTNBio. "Não sabemos o que isso pode acarretar ao longo das gerações de abelhas que se alimentarem do pólen do eucalipto nem com pessoas que consumirem o pólen", afirmou.

Ele ressaltou que os testes da FuturaGene com abelhas teriam sido feitos em condições de laboratório, e não de campo.

PRODUTIVIDADE

A Suzano, que é a segunda maior produtora mundial de celulose de eucalipto, argumentou em conjunto com a FuturaGene que a planta geneticamente modificada vem sendo desenvolvida desde 2001 e passou por "inúmeros estudos de biossegurança" até ser submetida à aprovação comercial.

"Com a aprovação, Suzano e FuturaGene ampliarão os testes de campo do eucalipto geneticamente modificado com aumento de produtividade de forma gradual e responsável", disseram.

Segundo o presidente da Suzano, Walter Schalka, a companhia ainda não definiu um prazo para o início do plantio comercial do eucalipto aprovado.

O executivo comentou em teleconferência com jornalistas que a intenção da Suzano é fazer um plantio de "no máximo" 1 por cento da área plantada da companhia no primeiro ano, após decisão para início do plantio.

"Tenho convicção absoluta que a transgenia na questão do eucalipto é boa para empresa e muito boa para a sociedade", disse Schalka, que ressaltou ter sido um dos fundadores da organização não-governamental Fundação SOS Mata Atlântica.

Ele afirmou ainda que a Suzano está desenvolvendo "vários outros produtos com outras características transgênicas". Os produtos são todos baseados no eucalipto e incluem variedades que tenham melhor desempenho em regiões fora de São Paulo e Bahia, foco da planta aprovada nesta quinta-feira.

Segundo ele, o "mel produzido a partir de eucalipto transgênico não tem problema nenhum (...) O risco foi analisado com profundidade pela CTNBio. É zero impactante na questão do mel".

A fabricante de celulose vem afirmando que o eucalipto modificado aumentará a competitividade do setor florestal brasileiro e poderá reduzir a distância entre florestas e fábricas, diminuindo a emissão de gás carbônico pelo transporte da matéria-prima.

As ações da Suzano fecharam em alta de 2,6 por cento, a 14,52 reais, enquanto o Ibovespa teve variação positiva de 0,26 por cento.

Em nota a clientes, o Itaú BBA disse que embora a liberação do plantio comercial do eucalipto modificado seja positiva, a notícia não deve influenciar o preço da ação da Suzano no curto prazo, já que só terá efeito sobre os resultados operacionais da empresa no longo prazo.