Brasil está pior do que países com mesmo rating, diz Fitch
SÃO PAULO (Reuters) - A intensificação dos desequilíbrios macroeconômicos recentes levou o Brasil a ter indicadores muito abaixo dos de países com nota de crédito semelhante, disse nesta quarta-feira (27) o diretor-geral da Fitch no país, Rafael Guedes.
"Há atualmente uma tentativa de estabilizar a deterioração, mas vemos que alguns indicadores devem piorar ainda", disse Guedes durante evento da Amcham em São Paulo.
Um dos exemplos citados pelo executivo é a dívida pública brasileira que, como proporção do PIB, está em cerca de 62%, ante média de 40% de outros países com nota similar.
Além disso, pontuou, o Brasil deve ter um ritmo de crescimento médio da economia nos próximos anos ao redor de 2%, o que é considerado baixo pela Fitch. Por fim, fatores que sempre foram considerados como fortalezas do rating brasileiro, como as contas externas, também pioraram.
"Esse conjunto mostra que a piora não é temporária, mas um problema estrutural muito sério", disse a jornalistas.
Em abril, a Fitch manteve a nota de crédito do Brasil em "BBB", dois níveis acima da faixa considerada especulativa, mas alterou a perspectiva de estável para negativa.
De acordo com Guedes, a agência tem de 12 a 18 meses para decidir se a nota será rebaixada, mas historicamente no caso brasileiro tem feito isso com prazo inferior.
O que surpreendeu a Fitch foi o movimento do governo brasileiro em 2014 de "crescer a qualquer custo", disse Guedes, o que acelerou bastante a deterioração dos principais indicadores da economia. Ele citou como exemplo a injeção de mais R$ 30 bilhões do Tesouro Nacional no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no fim de 2014.
Para o diretor da Fitch, o país ainda tem fatores positivos, como a atração de volumes expressivos de investimento direto estrangeiro e um ambiente político relativamente estável, apesar da turbulência atual, além de reservas internacionais de cerca de US$ 380 bilhões.
(Reportagem de Aluisio Alves)
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