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Lava Jato chega ao setor elétrico e prende presidente licenciado da Eletronuclear

Por Sergio Spagnuolo
Imagem: Por Sergio Spagnuolo

28/07/2015 16h45

Por Sergio Spagnuolo

CURITIBA (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira em nova etapa da Lava Jato o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, em ofensiva que marca a chegada formal da operação ao setor elétrico e expande ainda mais as investigações para além do esquema bilionário de corrupção na Petrobras.

A investigação da fase batizada como "Radioatividade" se concentra em contratos firmados por empresas já citadas na Lava Jato com a Eletronuclear, subsidiária da estatal federal Eletrobras, inclusive em licitação para as obras da usina nuclear de Angra 3.

O presidente licenciado da Eletronuclear é acusado de receber propina de 4,5 milhões de reais. Ele está afastado do cargo desde abril, quando surgiram denúncias de pagamento de propina a dirigentes da companhia. Flavio Barra, executivo responsável pela área de energia na Andrade Gutierrez, também foi preso nesta manhã.

Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, da força-tarefa da Lava Jato, o Ministério Público Federal acredita haver indícios de que as empresas Andrade Gutierrez e Engevix passaram valores de vantagens indevidas por meio de intermediárias para empresas de propriedade do presidente da Eletronuclear.

A Eletrobras se recusou a comentar a operação, enquanto que a Andrade Gutierrez disse em nota que sempre cooperou com as investigações. Em nota, a Engevix disse estar "prestando todos os esclarecimentos necessárias à Justiça".

A nova ofensiva marca a entrada da operação Lava Jato em contratos do setor elétrico, após investigadores terem afirmado que existiam indícios de irregularidades em contratos de outras estatais além da Petrobras.

Em abril, o MPF também já havia anunciado que a Caixa Econômica Federal e até mesmo o Ministério da Saúde eram alvo de investigação em relação a contratos de publicidade, mas ainda não estava claro o quão mais distantes iriam as apurações. 

Sem revelar detalhes, investigadores agora deram uma dimensão maior de até onde a força-tarefa poderia ir.

"A gente mostra que a corrupção não está restrita à Petrobras", disse o procurador Ribeiro Costa em entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentrados os trabalhos no âmbito da Lava Jato. "Há indicativos de que a corrupção se espalhou para muitos órgãos da administração e de entidades da administração pública." 

Investigadores não quiseram falar sobre o andamento das investigações, mas apontaram que o setor de eletricidade continuará sendo observado. "Tudo indica que vamos partir para outros setores também, e o setor de energia (elétrica) por si só já é gigantesco", disse o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula. 

O delegado notou, no entanto, que as investigações sobre a Petrobras vão continuar. "Tem muita coisa ainda para ser apurada na Petrobras."

ANGRA 3

A investigação mais recente da Lava Jato inclui o consórcio Angramon, contratado em setembro de 2014 pela Eletronuclear para executar a montagem eletromecânica da usina nuclear de Angra 3, e a Engevix, entre outras sociedades.

As companhias que integram a Angramon são UTC Engenharia (empresa líder), Construtora Norberto Odebrecht, Construtora Andrade Gutierrez, Construtora e Comércio Carmago Corrêa, Construtora Queiroz Galvão, Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e Techint Engenharia e Construção.

Angra 3 havia sido adiada há mais de duas décadas, durante um período de crise inflacionária que colocou em espera gastos em infraestrutura no país. Mas o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressuscitou o projeto, embora as obras tenham enfrentado atrasos e revisões de custo. 

O orçamento para a fase mais recente de Angra 3 subiu para 14 bilhões de reais, frente a 7,2 bilhões em 2008, de acordo com a Eletronuclear.

NOVA ETAPA

A nova etapa da operação acontece depois que o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse em delação premiada na semana passada no âmbito da Lava Jato que empreiteiras, incluindo sua empresa e a Odebrecht, fizeram reuniões para discutir o pagamento de propinas a dirigentes da Eletrobras em agosto de 2014, quando as investigações já estavam em andamento e eram públicas.

Perguntado se há envolvimento de políticos na mais recente investigação, o procurador Costa disse que a 16ª fase da Lava Jato esteve concentrada no presidente afastado da Eletronuclear. Ele se recusou a comentar sobre novos desdobramentos para o setor elétrico dentro da Lava Jato, quando questionado sobre suposta irregularidade na usina hidrelétrica Belo Monte.

Além das prisões temporárias dos dois executivos, a PF realizou cinco conduções coercitivas, de um total de 30 mandados judiciais da Lava Jato nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri.

(Reportagem adicional de Jeb Blount, no Rio de Janeiro)