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Análise: Bancos públicos devem liderar cortes de vagas no setor financeiro em 2015

Por Aluísio Alves

30/07/2015 11h38

SÃO PAULO, 30 Jul (Reuters) - O efeito da retração da economia sobre o mercado bancário está fazendo bancos estatais deixarem de lado a agenda de crescimento dos últimos anos e implementarem programas de aposentadoria incentivada, movimento que deve liderar a redução de postos de trabalho no setor financeiro no Brasil em 2015.

Juntos, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banrisul e Banco do Brasília (BRB) devem aposentar prematuramente pelo menos 8,5 mil funcionários até dezembro, em meio aos esforços para reduzir custos e ganhar eficiência, como há anos já vêm fazendo seus principais concorrentes privados.

No caso do BB, sua última edição do Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI), lançado em junho, teve adesão de 5.023 empregados, segundo dados da Contraf-CUT, que representa empregados de instituições financeiras. O banco pretendia alcançar até 7,1 mil pessoas no programa. Os alvos principais foram funcionários com mais de 18 anos de casa, que gozam de um pacote de benefícios maior, incluindo anuênios e férias de 35 dias.

Mesmo considerando as novas admissões de concursados, o BB deve manter a tendência de redução líquida de pessoal que vem trilhando desde o final de 2012, quando chegou a ter 114,2 mil funcionários. Em março último o número era de 112,6 mil.

"Com a dificuldade maior de gerar receita, o foco passa a ser redução de custos", disse à Reuters uma fonte familiarizada com o BB. De forma geral, o banco planeja uma redução de custos administrativos da ordem de 15% ante 2014, disse a fonte, que pediu anonimato.

A Caixa, cuja folha cresceu 30% de 2008 a 2014, chegando a 101,5 mil empregados, obteve adesão de 3,4 mil deles para seu Plano de Apoio à Aposentadoria (PAA) concluído em maio.

Com isso, o banco, único dentre os grandes que vinha aumentando seu quadro de pessoal desde 2012, respondeu por quase três quartos da redução líquida de 2.795 postos de trabalho no sistema financeiro do país no primeiro semestre, segundo a Contraf-CUT. As adesões ao plano do BB ainda não foram formalizadas, de modo que não entraram nos números desse período.

Temendo que uma nova fase do PAA aconteça antes do final do ano, a Contraf-CUT fará uma manifestação nacional contra a Caixa.

Consultada pela Reuters, a Caixa afirmou que faz "gestão do seu quadro de pessoas de acordo com a disponibilização estratégica e orçamentária", mas não existe indicação de nova abertura de PAA.

O gaúcho Banrisul anunciou na segunda-feira plano para apressar a aposentadoria de parte de seus 11,6 mil funcionários, sem mencionar números. O BRB, controlado pelo governo brasiliense, foi o mais recente a seguir esse caminho. O banco anunciou programa de aposentadoria incentivada que abrange cerca de 10% de seus 3,4 mil empregados.

Consultado pela Reuters, a área de relações com investidores do BRB afirmou que "precisamos manter a competitividade, reduzindo custos". BB e Banrisul não comentaram até a publicação desta reportagem.

Desde 2008, o BB elevou sua fatia no crédito do sistema financeiro em aproximadamente um terço, a 21%. A Caixa foi além, triplicando para 19,5% sua participação.

A partir de 2012, com a orientação federal para que os bancos ampliassem a oferta de crédito para tentar aquecer a economia, os bancos privados preferiram evitar competir com as taxas mais agressivas de BB e Caixa, apostando em ganho de eficiência, o que invariavelmente resultou em redução de funcionários.

Como resultado, a diferença de rentabilidade entre bancos privados e estatais tem crescido, com Itaú Unibanco e Bradesco ostentando retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) acima de 20%, enquanto BB e Caixa amargam índices inferiores a 15%.