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Déficit primário em julho chega a R$10 bi, dívida bruta segue em ascensão

28/08/2015 14h35

BRASÍLIA (Reuters) - O setor público brasileiro teve déficit primário de 10,019 bilhões de reais em julho, acumulando em 12 meses rombo primário equivalente a 0,89 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), o pior da série histórica do Banco Central, retratando os percalços para o cumprimento da meta fiscal de 2015 diante da debilidade econômica e fraca arrecadação.

O BC também previu nesta sexta-feira que a dívida bruta como proporção do PIB ficará em agosto acima do patamar estimado pelo governo para o consolidado de 2015.

Segundo o BC, a métrica, que é acompanhada de perto pelas agências de classificação de risco, deverá encerrar este mês em 64,9 por cento contra 64,6 por cento em julho, dando prosseguimento a uma trajetória de alta que é reflexo da deterioração das finanças públicas. Em dezembro de 2014, o patamar era de 58,9 por cento.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, assumiu a pasta com a bandeira de baixar o indicador no médio prazo. Em julho, quando a meta fiscal para o ano foi drasticamente reduzida, o governo reconheceu que a dívida sobre o PIB em 2015 ficaria maior, em 64,7 por cento, subindo em 2016 e sendo estabilizada apenas em 2017.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima, a tarefa do governo de atingir o objetivo previsto em relação à dívida bruta é árdua num cenário fiscal como o atual, com baixo recolhimento de tributos.

"É difícil imaginar como evitar isso (um indicador maior que o estimado pelo governo no ano) sem receitas extraordinárias", afirmou.

Em julho, o resultado do superávit primário foi o mais fraco para o mês desde o início da série histórica, em dezembro de 2001, contribuindo para aumentar a dívida bruta sobre o PIB.

Ele foi arrastado pelo saldo negativo de 6,040 bilhões de reais obtido pelo governo central, também sendo influenciado pela contribuição negativa de 3,168 bilhões de reais de Estados e municípios e de 810 milhões de reais de empresas estatais.

O déficit primário veio muito acima das projeções de analistas, cuja mediana para julho apontava para saldo negativo de 7,2 bilhões de reais em pesquisa da Reuters.

O desempenho tem como pano de fundo uma retração real de 3,13 por cento no recolhimento de tributos em julho sobre um ano antes, no pior desempenho para o mês desde 2010.

Com isso, o déficit primário como proporção do PIB em 12 meses foi a 0,89 por cento, renovando mais uma vez o pior patamar da série e num percentual distante do superávit primário buscado pelo governo para o ano. O déficit nominal sobre o PIB, por sua vez, bateu em 8,81 por cento, também o maior da série histórica.

A meta fiscal foi reduzida pela equipe econômica no mês passado em meio à recorrente frustração com a arrecadação, passando a 8,747 bilhões de reais, ou 0,15 por cento do PIB, contra 66,3 bilhões de reais anteriormente, mas seu atingimento conta com receitas extras, algumas das quais dependentes de aprovação do Congresso num momento em que o Executivo conta com esfacelada base de apoio entre os parlamentares.

No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o superávit primário ficou em 6,205 bilhões de reais, inferior aos 24,665 bilhões de reais do mesmo período de 2014.

(Por Marcela Ayres)