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Produção industrial no Brasil cai 1,5% em julho, pior do ano, e reforça quadro de recessão

Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
Imagem: Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira

02/09/2015 11h30

Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial recuou em julho pelo segundo mês seguido, em ritmo acima do esperado e no pior resultado mensal neste ano, iniciando o terceiro trimestre com fraqueza generalizada entre os setores e reforçando o cenário de recessão pelo qual passa o país.

A atividade caiu 1,5 por cento em julho na comparação mensal, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira. É o pior resultado desde dezembro, quando a produção teve retração de 1,8 por cento.

Em mais um sinal da fraca situação do setor, o IBGE ainda revisou a queda da produção em junho para 0,9 por cento, sobre recuo de 0,3 por cento divulgado antes.

Em comparação com um ano antes, a produção industrial mostrou queda de 8,9 por cento, 17ª taxa negativa consecutiva. Os resultados foram bem piores do que os esperados em pesquisa da Reuters com economistas, que projetavam queda de 0,10 na variação mensal e de 6,20 por cento na anual.

"A queda na produção em julho se aprofundou e teve caráter mais generalizado", destacou o economista do IBGE André Macedo.

Segundo o IBGE, em julho o segmento de Bens de Consumo semiduráveis e não duráveis registrou perda de 3,4 por cento sobre o mês anterior, apagando a expansão de 3,1 por cento acumulada em maio e junho.

Já os setores de Bens Intermediários e Bens de capital --considerado uma medida de investimento-- registraram quedas na produção pelo sexto mês seguido, respectivamente de 2,1 e de 1,9 por cento. Sobre um ano antes, o segmento de Bens de capital despencou 27,8 por cento em julho.

O único resultado mensal positivo foi do setor de Bens de Consumo Duráveis, com alta de 9,6 por cento sobre junho, devido ao processo de retomada da produção nos setores de automóveis e eletrodomésticos, segundo o IBGE, após paralisações, reduções de jornada e férias coletivas em junho.

Entre os ramos pesquisados, 14 dos 24 mostraram queda em julho, com destaque para produtos alimentícios, com recuo de 6,2 por cento após alta de 4,3 por cento no mês anterior.

CÂMBIO

As condições da indústria brasileira não mostram sinais de melhora, com o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) apontando que o ritmo de contração do setor atingiu o pior nível em quatro anos em agosto.

Nem mesmo a valorização do dólar sobre o real --de 38,71 por cento neste ano até terça-feira-- deve ajudar o setor no curto prazo, segundo Macedo.

"Os efeitos do câmbio ainda são pequenos para estimular a produção industrial e são poucos percebidos. Se vier a ocorrer de forma mais intensa, será mais na frente", disse ele, destacando os setores de celulose, metalurgia e outros químicos como os que mais se favoreceriam.

"O câmbio é totalmente incapaz de reverter o movimento de queda da indústria. Ele favorece a indústria, sem dúvida mas não resolve o problema", completou.

No segundo trimestre, a indústria encolheu 4,3 por cento contra o período anterior, pior momento desde o primeiro trimestre de 2009, e economistas projetam contração de 5,57 por cento da indústria este ano.

A economia brasileira encolheu 1,9 por cento no segundo trimestre sobre os três meses anteriores e caiu 2,6 por cento na comparação anual, entrando em recessão técnica oficialmente. Para o ano, a expectativa de especialistas é de retração de 2,26 por cento.

"Sob qualquer prisma, em qualquer corte ou abertura, é um péssimo início de terceiro trimestre e coloca um viés de baixa sobre a nossa recém-revisada projeção de retração", avaliou a Rosenberg Consultores Associados em nota assinada pela economista-chefe Thaís Marzona Zara. A consultoria passou a projetar contração econômica em 2015 de 2,6 por cento, ante queda de 2,5 por cento, com recuo de 5,8 por cento da produção industrial.