Análise: Prisão de Esteves expõe risco do BTG Pactual se apoiar em homem-chave
SÃO PAULO, 25 Nov (Reuters) - A dependência do BTG Pactual do seu sócio-fundador veio à tona de forma dramática nesta quarta-feira. A prisão de André Esteves, presidente-executivo e controlador da instituição financeira, fez as ações do BTG Pactual despencarem até 39% durante o pregão na Bovespa.
Além disso, levou o Banco Central a emitir um comunicado dizendo que o BTG Pactual "apresenta robustos indicadores de solidez financeira e continua atuando normalmente no mercado", mas afirmando também que a autoridade monetária monitora o impacto dos acontecimentos para o banco.
A agência de classificação de crédito Moody's alertou que a nota do maior banco de investimentos independente da América Latina pode estar em risco se a ausência Esteves do comando do grupo for prolongada.
Um fundo do BTG Pactual tem 5,9% das ações do UOL.
Esteves foi preso em sua casa no Rio de Janeiro, por suspeita de obstruir a operação Lava Jato, que investiga esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras. A prisão temporária de cinco dias pode ser estendida pelo mesmo prazo.
O advogado de Esteves, Antonio Carlos de Almeida Castro, disse a repórteres que o banqueiro "certamente" não agiu para obstruir a investigação. Mas o fato de o banqueiro ter sido alcançado pela Lava Jato já atingiu a imagem do banco.
O Conselho de Administração do grupo agiu rápido e nomeou Persio Arida, ex-presidente do BC e sócio do BTG Pactual, para substituir Esteves interinamente. O banco também anunciou uma recompra de até 10% das ações em circulação no mercado, o que atenuou as perdas vistas mais cedo, embora as units (conjunto de ações) ainda tenham terminado o dia em baixa de 21,01% na Bovespa.
Mais recentemente, Esteves, 47, tem dirigido o BTG Pactual durante a mais profunda recessão do Brasil em 25 anos. Ele comprou o banco suíço BSI no ano passado para reduzir a dependência da instituição financeira do Brasil, investiu fortemente na negociação em matérias-primas globais e manteve um controle rígido de custos.
Mas o poder do BTG Pactual para atravessar períodos difíceis do Brasil depende fortemente da habilidade de Esteves, incluindo sua capacidade de renegociar empréstimos e atrair investidores. O balanço do BTG Pactual pode sofrer se a situação legal de Esteves piorar, forçando o banco a reduzir ou a vender barato negócios ligados a empresas envolvidas na Lava Jato.
O banco perdeu R$ 900 milhões em investimentos em petróleo e gás no último trimestre. O futuro da Sete Brasil, fornecedora de plataformas de perfuração de petróleo que foi arrastada pelo escândalo, é incerto com a Petrobras se recusando a firmar um contrato de longo prazo de aluguel de embarcações. O BTG Pactual detém fatia de cerca de 27% na Sete Brasil.
O BTG Pactual é também o maior gestor de hedge funds do Brasil, com US$ 15,5 bilhões em ativos sob sua administração.
E como grande parte das receitas do banco é gerada pelo braço de "trading", a reputação entre contrapartes é fundamental.
"Esteves é um nome-chave no BTG e uma ausência prolongada poderia ser negativa para a nota de crédito do banco", disse o analista sênior Alcir Freitas, da agência de classificação de risco Moody's.
Conexões poderosas
As poderosas conexões financeiras e políticas de Esteves ajudaram o BTG Pactual a figurar entre os três maiores assessores em fusões e emissões de ações da América Latina nos últimos anos.
Desde que fundou o BTG Pactual, em 2009, Esteves se tornou símbolo do crescente poderio econômico do Brasil, competindo ombro a ombro com rivais globais no país e na América Latina em banco de investimento, gestão de recursos e concessão de empréstimos para algumas das empresas mais importantes do mundo.
Mas os negócios do banco com a Petrobras têm atraído a atenção de investigadores. Além do investimento na Sete Brasil, o BTG Pactual comprou uma fatia na unidade da Petrobras na África em 2013.
Não é a primeira vez que Esteves tem problemas com a justiça. Em 2012, o regulador financeiro da Itália o multou em 350 mil euros por negociar com uso de informação privilegiada quando ele era executivo do suíço UBS. O BTG Pactual e Esteves recorreram e a multa foi mais tarde reduzida à metade.
Oriundo da classe média no Rio de Janeiro, Esteves começou como técnico em computação no então Pactual, quando tinha 21 anos.
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