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CPFL, Eletropaulo e Ampla pedem reajuste extra em tarifa

Luciano Costa

27/11/2015 16h19

SÃO PAULO (Reuters) - As distribuidoras de eletricidade do Grupo CPFL, a Eletropaulo, da AES Brasil, e a Ampla, que pertence à italiana Enel, pediram ao órgão regulador um reajuste extraordinário nas tarifas que podem cobrar dos consumidores, mesmo após altas tarifárias neste ano que chegaram a superar 50%.

As empresas confirmaram à Reuters os pedidos feitos à Aneel e disseram que têm enfrentado custos maiores que os cobertos pelas tarifas, como uma alta na energia da hidrelétrica de Itaipu, cotada em dólar, apesar dos elevados reajustes e da arrecadação de R$ 11 bilhões  pelas "bandeiras tarifárias" --mecanismo implementado neste ano que autoriza cobrança extra nas contas quando há termelétricas com custo elevado em operação-- rateado entre todas as distribuidoras.

Nenhuma das empresas revelou o tamanho do reajuste solicitado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A CPFL pediu o reajuste para seis subsidiárias e afirmou à Reuters que o descompasso entre tarifas e custos, que pelas regras deveria começar a ser quitado somente nos próximos reajustes regulares, em 2016, acumula deficit de R$ 1,9 bilhão até o final do terceiro trimestre.

"O pedido de revisão extraordinária tem como objetivo mitigar o impacto financeiro desse saldo nas concessionárias", disse em nota a companhia, que pediu reajustes para cinco unidades de São Paulo e uma no Rio Grande do Sul.

A Enel, que tem atuação no Rio de Janeiro, disse que apresentou seu pedido "diante do atual cenário do setor elétrico e da pressão financeira por que passam as distribuidoras de energia brasileiras", e que o objetivo é "cobrir os custos extras que não estavam previstos no reajuste ordinário".

Em nota, o grupo italiano também listou entre os fatores que pesam sobre seu caixa os custos maiores com a compra de energia da hidrelétrica de Itaipu, além de encargos setoriais.

A Eletropaulo, que atua na região metropolitana de São Paulo, disse que há "descasamento financeiro dos custos... em especial pela alta do dólar".

As tarifas da Ampla subiram 42% neste ano, enquanto as da Eletropaulo tiveram dois reajustes, um de 32% e outro de 15%.

Já as concessionárias da CPFL tiveram reajustes de até 45%, além de uma elevação extraordinária já autorizada de até 35% aplicada no início do ano.

As distribuidoras de energia contam com um reajuste anual, segundo as normas do setor elétrico, além de revisões periódicas das tarifas, em média a cada quatro anos. Mas, neste ano, dada a elevação dos custos, a Aneel já garantiu um reajuste extraordinário às empresas, aplicado no final de fevereiro.

"Quando o ambiente regulatório está dentro de uma normalidade e as diferenças não são tão expressivas, as concessionárias procuram evitar entrar com pleitos extraordinários, porque o resultado é incerto e cria, digamos assim, um certo desconforto com o regulador", explicou à Reuters o consultor Eduardo Bernini, da Tempo Giusto.

Ele acredita, no entanto, que as empresas têm sofrido mais com o descompasso neste ano até devido à alta da inflação, que deve fechar o ano acima de 10%.

Já a alta dos preços da energia elétrica, segundo a última ata disponível do Comitê de Política Monetária do Banco Central, deve fechar o ano em 51,7%.

Peso na alavancagem

A defasagem na tarifa tem pesado também sobre a alavancagem das empresas.

A holding CPFL, por exemplo, está com relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 3,46 vezes, ante teto de 3,75 vezes negociado com credores. A empresa calcula que o indicador seria 2,98 se não houvesse o descompasso.

Já a AES Eletropaulo tem a relação dívida líquida/Ebitda em 3,4 vezes, ante limite de 3,5 vezes negociado com credores.

Bernini, que já foi presidente da AES Eletropaulo, disse que o problema de caixa das distribuidoras é agravado pelo ambiente econômico do país, que torna o crédito mais caro e dificulta a gestão do caixa pelas empresas.

"Os comitês de crédito (de bancos) estão muito mais rigorosos diante desse quadro de riscos que o cenário macroeconômico apresenta, sem contar que o setor financeiro ficou muito exposto ao setor elétrico", apontou.

Um pool de bancos já realizou empréstimos de R$ 21,75 bilhões à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para cobrir custos extraordinários das distribuidoras de energia com a compra de energia mais cara ao longo de 2014 e 2015.