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Fitch tira selo de bom pagador do Brasil e indica que pode piorar, diante de recessão

16/12/2015 14h56

Por Patrícia Duarte

SÃO PAULO (Reuters) - A agência de classificação de risco Fitch retirou nesta quarta-feira o selo de bom pagador do Brasil citando a recessão mais profunda do que o antecipado, dificuldade no quadro fiscal e aumento das incertezas políticas, e indicou que pode levar o país ainda mais fundo no território especulativo.

A agência cortou o rating do país em um degrau, de "BBB-" para "BB+", com perspectiva negativa e foi a segunda de grande porte a tirar o grau de investimento do país, que deve levar a saídas de investidores. O movimento era esperado por especialistas e até por boa parte do governo, mas evidencia o que muitos chamam de desorganização e ausência de uma agenda para o país.

"É um duplo golpe porque tem o rebaixamento e a perspectiva negativa... O país está sem uma agenda econômica e não está conseguindo reagir a nada. Ter selo de grau de investimento pressupõe país mais arrumado do que o que a gente é hoje", afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

A decisão da Fitch veio um dia depois de o governo da presidente Dilma Rousseff ter alterado a meta de superávit primário para 2016, permitindo no limite zerar a economia para pagamento de juros da dívida, aumentando ainda mais a desconfiança em relação às contas públicas do país.

"O rebaixamento do Brasil reflete recessão mais profunda da economia do que o previsto antes, a contínua evolução adversa fiscal e o aumento da incerteza política, que poderiam prejudicar ainda mais a capacidade do governo de implementar efetivamente as medidas fiscais para estabilizar o crescente endividamento", explicou a Fitch por meio de nota.

"A perspectiva negativa permaneceu com a incerteza e deterioração dos riscos ligados à evolução da situação econômica, fiscal e política", acrescentou.

Além disso, a agência avalia que o processo de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff adiciona incertezas ao ambiente político.

"O processo de impeachment é um revés, especialmente na área fiscal..., atrasa a implementação das medidas fiscais", disse a diretora sênior da Ficth Ratings, Shelly Shetty.

Sobre o impacto de eventual saída de Dilma ela disse que não era possível afirmar o impacto no rating do Brasil. "Nós teríamos que olhar o novo cenário político para avaliarmos as condições."

SEGUNDA

Em setembro, a Standard & Poor's foi a primeira a rebaixar o Brasil para grau especulativo, ao cortar a nota para "BB+", além de manter a perspectiva negativa. A Fitch havia cortado a nota de crédito do país em outubro, mas manteve o grau de investimento, porém com perspectiva negativa para a nota.

Na semana passada, a Moody's sinalizou que fará o mesmo em até três meses, também citando a frágil situação fiscal do país, entre outros.

Os mercados reagiram com moderação à decisão da Fitch, com o dólar chegando a subir mais de 2 por cento sobre o real e a Bovespa recuando quase 2 por cento, mas num cenário que já estava afetado pela mudança da meta fiscal e eventual saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

"Não é uma grande surpresa. As agências estão dizendo que é daí para baixo", afirmou o economista-chefe do banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlo Kawall. "(A decisão da Fitch) significa alta de risco Brasil, encarecimento do crédito, fica mais difícil ter taxa de juros mais baixa, significa menos crescimento e maior dificuldade em retomar a credibilidade, restaurar a confiança e voltar a crescer."

O Ministério da Fazenda e o Banco Central reagiram rapidamente ao novo rebaixamento do país, destacando o que chamam de sólida posição externa do Brasil. [L1N1451D2]

Dentro do governo, já era esperada a nova nota. Segundo uma importante fonte da equipe econômica, apesar de ser uma notícia ruim, boa parte desse movimento já estava precificado nos mercados.

O banco Morgan Stanley estimou na segunda-feira que uma nova perda do grau de investimento pelo Brasil levaria a uma saída de 3 a 4 bilhões de dólares do país só com investidores em títulos soberanos brasileiros em dólares. Mas ressaltou que reduções nas posições já devem ter ocorrido.

(Reportagem adicional de Flavia Bohone e Camila Moreira)