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Disputa por Estácio esquenta com nova proposta de compra pela Kroton

Ricardo Lima/UOL
Imagem: Ricardo Lima/UOL

Por Juliana Schincariol e Tatiana Bautzer

21/06/2016 19h01

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A batalha pelo controle da Estácio Participações ganhou força nesta terça-feira (21) com o fracasso dos esforços da segunda maior empresa de ensino superior privado do Brasil em permanecer independente não sendo suficientes para evitar ofertas de concorrentes.

A Kroton Educacional melhorou em quase um terço sua oferta pelo controle da Estácio em relação ao plano divulgado em 2 de junho. A agência de notícias Reuters antecipou a intenção da Kroton em melhorar a proposta na semana passada.

Uma fonte a par dos planos da Kroton disse que a proposta de trocar 1,25 ação de emissão da Kroton por cada papel da Estácio já ganhou apoio de cerca de 40% dos acionistas da Estácio, e que é definitiva. 

A outra interessada é a Ser Educacional, que está disposta a rever os termos da oferta de fusão envolvendo dinheiro e ações encaminhada ao Conselho de Administração da Estácio em 5 de junho, disse o presidente-executivo da Ser, Jânyo Diniz, nesta terça. Ele não deu mais detalhes sobre quais seriam os novos termos.

A ofensiva de Kroton e Ser ocorrem em meio à oposição da segunda maior acionista da Estácio, a família Zaher, sobre a venda da companhia. Chaim Zaher foi nomeado presidente-executivo interino da Estácio na semana passado para ajudar a proteger a companhia das ofertas de aquisição, cortar custos e voltar a se expandir.

Estrutura inchada

A briga pela Estácio, uma companhia de cerca de 588 mil estudantes e receita anual de US$ 4,3 bilhões, coloca em cena o que pode se tornar a batalha mais feroz por uma aquisição não solicitada no setor educacional privado brasileiro, uma das indústrias de maior crescimento no país.

Analistas disseram que a Estácio inchou sua estrutura de custos, comparada à dos rivais, tornando-se um alvo sedutor: um comprador terá amplo espaço para cortar custos e fortalecer o foco do negócio em expansão geográfica e de segmentos.

Os Zaher querem ao menos 1,5 ação da Kroton por cada papel da Estácio, disse à Reuters uma fonte próxima à família.

A proposta mais recente da Kroton tem validade até 30 de junho e avalia a Estácio em um quarto de seu tamanho, apesar de ter quase metade do número de estudantes, adicionou essa fonte próxima aos Zaher.

Kroton e Estácio recusaram-se a comentar.

Apoio

O interesse na Estácio destaca a força de operadores privados do ensino superior mesmo quando uma recessão de dois anos pressiona o aumento da inadimplência e o governo reduz o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

A desaceleração do crescimento da receita levou as ações da Estácio, resultado de uma série de aquisições nos últimos anos, a uma queda de 21% no acumulado de 2016 até 1º de junho, um dia antes do anúncio da proposta da Kroton.

Em comparação, fortes resultados impulsionaram as ações da Kroton e da Ser a uma alta de 18% e de 51%, respectivamente, no mesmo período.

Desde que a disputa pela Estácio começou, as ações da companhia saltaram mais de 40%.

Acionistas divididos

A família Zaher, que detém 13% da Estácio, está tomando uma posição dura na negociação com a Kroton, vista por eles como predadora.

O presidente-executivo da Ser disse à Reuters por telefone que a "gente está preparado para levar uma proposta que gere valor para os dois acionistas, das duas companhias", caso os acionistas da Estácio se reúnam com a companhia para rediscutir os termos da proposta.

O voto dos Zaher, contudo, pode não ser suficiente para bloquear a proposta da Kroton, disseram analistas e investidores.

A primeira fonte, que falou em condições de anonimato, disse que acionistas com posições nas duas companhias e exclusivamente em Estácio prometeram apoio à proposta melhorada da Kroton, sem especificar nomes.

Entre os principais acionistas estão o Oppenheimer Funds, que detém 18% da Estácio e 5% da Kroton.

Barreiras competitivas

A eventual união entre Kroton e Estácio deve enfrentar obstáculos no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e em outras esferas.

Na semana passada, a OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro) apresentou denúncia no Cade contra o interesse da Kroton em adquirir a Estácio, dizendo que criaria um competidor com elevado poder de mercado.

Uma combinação Kroton-Estácio resultaria em uma empresa quase quatro vezes maior em número de estudantes do que a Ser Educacional.

(Reportagem adicional de Silvio Cascione em Brasília e Ana Mano e Brad Haynes em São Paulo)