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Acionistas da Vale propõem pulverizar controle da mineradora

20/02/2017 11h14

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO, 20 Fev (Reuters) - A mineradora Vale deverá se tornar uma companhia sem controle definido, a partir de um acordo histórico apresentado pelos principais acionistas nesta segunda-feira (20), que visa aumentar a transparência e a governança da empresa, afirmou o presidente da companhia, Murilo Ferreira.

Nesta manhã, a diretoria da Vale informou que os principais acionistas, agrupados sob a holding Valepar, concordaram em renovar um acordo, que os manterá ainda como um bloco de controle por mais três anos e meio.

Nesse período, eles irão preparar uma proposta para listar a Vale no segmento especial do Novo Mercado da Bovespa.

"Estamos diante de uma oportunidade histórica para a Vale, um marco que pode ser tão importante quanto a privatização foi há 20 anos", disse Ferreira, em uma teleconferência com analistas de mercado para comentar o acordo.

"Nosso julgamento é que a proposta é um convite que os acionistas controladores estendem ao mercado de capitais, para que ajudem a tornar a Vale uma empresa de classe mundial também em governança."

A proposta tem caráter vinculante para os acionistas e fica sujeita à aprovação pelos órgãos societários da companhia.

Nos termos do acordo, está prevista a conversão voluntária das ações preferenciais classe A da Vale em ações ordinárias, na relação de 0,9342 ação ordinária por ação preferencial classe A da empresa.

A precificação será definida com base no preço de fechamento das ações ordinárias e preferenciais apurado com base na média dos últimos 30 pregões na Bovespa anteriores a 17 de fevereiro, ponderada pelo volume de ações negociado nesses pregões.

Após esse passo, a Vale incorporará a Valepar, a holding de investimentos que a controla, e pagará aos proprietários da Valepar um prêmio de 10% por suas ações. Esse passo diluirá os acionistas minoritários em 3% e é uma condição prévia para o restante do processo de transformação da estrutura da Vale, que deixaria de existir em novembro de 2020.

Fontes familiarizadas com o assunto disseram à Reuters em janeiro que a Bradespar e o Previ, fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil, buscaram o plano para aumentar o apelo da Vale entre os investidores.

Uma vez que o acordo expirar, nenhum acionista poderá ter mais de 25% da Vale, sob pena de ter que realizar Oferta Pública de Aquisição (Opa) para os demais acionistas titulares de ações ordinárias.

As ações preferenciais da Vale operavam em alta de 5,4% por volta das 12h20, enquanto as ordinárias tinham alta de 5,69%.

Aprovação do mercado

O acordo de acionistas foi amplamente aprovado por analistas de mercado que acompanham os papéis da empresa.

"A transação parece ser uma vitória para os acionistas controladores e minoritários", disse Rodolfo de Angele, analista sênior de materiais básicos da JPMorgan Securities.

Atualmente, as American Depositary Shares (ADRs) da Vale são negociadas ao equivalente a 10,5 vezes o lucro estimado para este ano, abaixo das rivais Rio Tinto RIO.L, a 10,7 vezes, e da BHP Billiton BLT.L, a 15,9 vezes, de acordo com dados da Thomson Reuters.

O acordo também foi avaliado como muito positivo por analistas dos bancos BTG Pactual e Credit Suisse.

"No geral, mensagem é muito positiva para Vale e Bradespar", afirmaram em nota a clientes analistas do BTG Pactual, que destacaram o potencial de "mudança de governança brutal" para a companhia sob o novo acordo.

Segundo os analistas do BTG Pactual, as ações da Vale são negociadas atualmente a 6,6 vezes o Ebitda, ante 7,7 vezes o Ebitda de Rio Tinto.

"Assumindo a melhora de governança, é de se esperar que a Vale vá convergir para Rio Tinto, o que se traduziria em criação de valor de 21% para a Vale", escreveram os analistas. 

O plano também ajudará a limitar as interferências do governo na empresa. A melhoria da governança decorrente da mudança poderia ajudar as ações da Vale a reduzirem o "gap" de valorização em relação aos seus pares globais de mineração.

Os sócios da Valepar incluem a Previ, a Bradespar, a japonesa Mitsui 8031.T, BNDESpar e os fundos de pensão Petros, Funcef e Fundação Cesp.

O acordo de transição precisa de apoio do equivalente a 20% das ações com direito a voto da Vale, garantindo a governança necessária para implementar o plano de propriedade diluída, disse o comunicado.

O saldo do ágio de R$ 3,073 bilhões registrado nas demonstrações financeiras da Valepar, e a sua eventual e futura utilização pela Vale, não será objeto de capitalização em favor dos acionistas da Valepar, mas sim em proveito de todos os acionistas da Vale, segundo o comunicado.

(Por Marta Nogueira e Guillermo Parra-Bernal; reportagem adicional de Paula Arend Laier; edição de Roberto Samora)