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Adélio agiu sozinho no momento do atentado contra Bolsonaro, diz delegado da PF

28/09/2018 19h21

BRASÍLIA (Reuters) - Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho no dia e no momento em que esfaqueou o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, concluiu inquérito da Polícia Federal, mas outra investigação busca verificar se há mais envolvidos no atentado, disse nesta sexta-feira o delegado Rodrigo Morais.

Em entrevista coletiva, Morais afirmou, no entanto, que até agora a Polícia Federal não tem informações que apontem envolvimento de outras pessoas no atentado.

“O que nós concluímos é que no dia da execução do atentado em si ele estava sozinho”, disse o delegado regional de Combate ao Crime Organizado em Minas Gerais Rodrigo Morais Fernandez, acrescentando que foram analisadas, inclusive, imagens de câmeras de segurança e também as veiculadas em redes sociais, e não se confirmou a participação de terceiros.

“A partir da confirmação que a atuação do senhor Adélio naquele dia foi uma ação isolada, cindimos o inquérito para um poder ser concluído hoje”, explicou o delegado.

“E continuamos --o (outro) inquérito já foi instaurado há alguns dias-- a linha investigatória para identificar se há mais envolvidos.”

Morais ressaltou que não restam dúvidas de que a motivação política levou Adélio a praticar o crime. Segundo ele, o acusado se apresenta como uma pessoa identificada com os ideais de esquerda tanto no depoimento que prestou, quanto em postagens em redes sociais e em documentos apreendidos, além de relatos de conhecidos confirmarem seu posicionamento, motivo pelo qual discordava diametralmente das posições e declarações de Bolsonaro, considerado um representante da extrema-direita.

“Não restam dúvidas na investigação que o motivo que levou o senhor Adélio a praticar o crime foi o componente político”, afirmou o delegado, acrescentando que eventual doença mental do acusado, tese encampada pela defesa, é irrelevante para a investigação neste momento.

“Ficou claro que havia essa discordância em relação aos projetos políticos em relação ao discurso do candidato. Dessa forma, se configurou o crime de segurançca nacional”, disse.

Adélio foi preso em flagrante e autuado com base na Lei de Segurança Nacional, no dia 6 de setembro, logo após esfaquear Bolsonaro em evento de campanha em Juiz de Fora (MG). O candidato foi submetido a uma cirurgia de emergência na Santa Casa de Misericórdia da cidade mineira antes de ser transferido para São Paulo.

No hospital Albert Einstein, na capital paulista, passou por uma segunda cirurgia para resolver uma aderência na parede intestinal e uma obstrução no órgão. Apesar de aumento isolado na temperatura, há previsão de alta médica ainda neste fim de semana, informo boletim médico nesta sexta-feira.

O delegado explicou que ainda há dados colhidos na primeira investigação que ainda necessitam ser analisados, de forma a identificar se alguém, de alguma forma, teve participação no ato.

“O envolvimento de um terceiro ou de um grupo pode se dar de diversas formas, pode ser um mandante, alguém que tenha instigado, alguém que tenha fornecido meio”, afirmou.

Por ora, garante o investigador, não há, nas informações colhidas pela PF, nenhum indício de um contato político de Adélio, assim como não foi identificada, a partir da quebra do sigilo bancário do acusado, qualquer operação financeira suspeita.

Na segunda investigação, Morais acredita ser necessário ouvir tanto o próprio Bolsoanro quanto familiares, e também deve centrar seus esforços nas pessoas em torno de Adélio.

Sobre a insinuação de Bolsonaro segundo a qual o PF estaria atuando para “abafar” as investigações, Morais argumentou que o trabalho conduzido pela PF é “técnico”.

“Esse tipo de comentário é de certa forma irrelevante.”

MAIS GÁS

Em entrevista concedida à TV Band nesta sexta-feira, ao referir-se ao atentado, Bolsonaro disse que não foi atingido o objetivo de matá-lo e que isso só lhe deu mais gás para continuar na disputa. E aproveitou para novamente lançar suspeitas sobre o trabalho da PF no caso.

Mais cedo, em entrevista à Rádio Jovem Pan, o presidenciável já havia dito que a PF parece agir para abafar o caso e que a Polícia Civil de Minas Gerais, que também investiga o atentado, estaria mais adiantada em suas apurações.

O candidato do PSL sustentou, na fala à Band, que o delegado responsável pelo caso trabalhou por dois anos como assessor do governador de Minas Gerais, o petista Fernando Pimentel, tendo sido até condecorado por ele, ainda que tenha afirmado não ter a intenção de fazer “pré-julgamento” e apesar de não ter citado nominalmente o delegado Rodrigo Morais.

Por outro lado, Bolsoanro disse saber que na equipe de investigação do atentado há pessoas que gostam dele, ainda que não tenha tido contato com qualquer um deles. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidenciável, é integrante da PF. "Tem gente (da PF) que quer realmente a verdade", disse o presidenciável.

(Por Maria Carolina Marcello; Reportagem adicional de Ricardo Brito)