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ANÁLISE-Governo Bolsonaro quer mais de Joaquim Levy além de presidir BNDES

12/11/2018 20h13

Por Aluisio Alves e Marcela Ayres

SÃO PAULO (Reuters) - Membros da atual equipe econômica e executivos do setor financeiro receberam a notícia da nomeação de Joaquim Levy para ser o futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com um misto de otimismo e surpresa.

Embora a função seja desejável para um servidor de carreira, a chefia de um banco de fomento parece uma função menor para ter convencido Levy a deixar o prestigioso posto de vice-presidente do Banco Mundial.

Especialmente porque, num governo pretensamente liberal do presidente eleito Jair Bolsonaro, o BNDES dificilmente reverterá a rota decadente dos últimos anos, devendo confirmar em 2018 o quinto ano consecutivo de queda nos desembolsos, para o menor nível em uma década.

"A competência do Joaquim Levy é indiscutível, mas o BNDES parece pouco para ele", disse um alto executivo do setor bancário, sob condição de anonimato.

Antes de ser ministro da Fazenda no governo de Dilma Rousseff, Levy já tinha vasta experiência da engrenagem econômica do governo federal nos governos anteriores, incluindo a chefia do Tesouro Nacional e do Ministério do Planejamento.

Esse é um atributo pelo qual o futuro chefe de Levy, o super ministro da economia, Paulo Guedes, tem mostrado especial interesse ao montar sua futura equipe.

Mais do que isso, Levy tem outro predicado cobiçado pela equipe do governo eleito, o alinhamento ideológico, condição ilustrada pelo doutorado na Universidade de Chicago, templo do liberalismo econômico, por onde Guedes também passou.

"Mais liberal do que Levy, só o Paulo Guedes", disse uma fonte da equipe econômica do atual governo. "Ou nem ele."

Uma fonte da equipe de transição do governo eleito disse à Reuters que, entre as principais missões para o futuro mandatário do BNDES estão ampliar investimentos em logística e infraestrutura, apoiar privatizações e desmobilização de ativos públicos, desenvolver inovação e novas tecnologias e liderar a reestruração financeira de Estados e municípios.

Nesse aspecto, seria uma oportunidade para Levy mostrar sua capacidade num ambiente mais favorável a suas ideias liberais do que a experiência amarga que teve no governo Dilma, do qual saiu com menos de um ano no cargo sob intensas críticas internas por ter levado adiante um pacote de rigor fiscal.

"Agora, ele vai ajudar a formulação das principais diretrizes econômicas do governo liberal", disse o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.

Para um executivo de um dos maiores fundos de pensão do país, além de emprestar seu prestígio à equipe do novo governo, Levy também terá a função de ficar disponível para ocupar outras posições, caso seja necessário.

"O governo eleito tem mostrado uma dificuldade muito grande de se comunicar com o legislativo, que receberá uma pauta extensa de propostas de reformas e isso pode criar ruídos", ponderou essa fonte, sob condição de anonimato.

"Se o governo Bolsonaro tiver alguma baixa do time econômico, o Levy poderia ser muito útil para tranquilizar o mercado", disse o executivo.

Mais cedo, Bolsonaro afirmou que a escolha de Levy para o BNDES foi feita por Guedes. "Ele (Levy) tem passado com Dilma e Cabral, mas não tem nada contra sua conduta profissional. Eu endosso (a escolha do) Paulo Guedes", disse Bolsonaro.