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Garrafas verdes, energia verde: Heineken mira 100% de renováveis no Brasil até 2023

Luciano Costa

09/05/2019 11h23

SÃO PAULO (Reuters) - Famosa por suas garrafas verdes, a cervejaria holandesa Heineken decidiu apostar também em energia verde, com uma meta global de usar geração renovável em suas operações que deverá ser antecipada pela unidade da companhia no Brasil, disseram executivas do grupo à agência Reuters.

O movimento rumo a esse objetivo passa pela inauguração nesta quinta-feira de um parque eólico em Acaraú, no Ceará, que recebeu cerca de R$ 40 milhões em investimentos da Heineken Brasil e produzirá energia suficiente para abastecer cerca de 30% do consumo das 15 cervejarias da marca no país.

"Temos uma meta global da companhia de até 2030 ter 70% da energia utilizada nas cervejarias de fontes renováveis. Aqui no Brasil, acreditamos que vamos gerar com renováveis o equivalente a 100% do consumo de nossas cervejarias até 2023, ou seja, muito antes da meta global", afirmou a vice-presidente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Heineken Brasil, Nelcina Tropardi.

A estratégia da Heineken de apostar em energia limpa segue uma nova tendência global no mundo corporativo, com cada vez mais empresas mirando fontes renováveis por questões de sustentabilidade e marketing ou até mesmo para redução de custos.

Além do parque eólico, a Heineken pretende instalar caldeiras movidas a biomassa de madeira em todas suas cervejarias no Brasil para atender a meta. Até o momento, quatro unidades já utilizam a tecnologia, e mais duas iniciarão a geração de energia própria ainda em 2019.

"A ideia é que até 2023 todas as cervejarias tenham caldeiras de biomassa, que utilizarão cavaco de madeira, e portanto energia renovável", disse a gerente sênior de sustentabilidade da Heineken Brasil, Ornella Vilardo.

Os investimentos em energia renovável vêm em momento em que a Heineken tem ampliado as vendas no Brasil e reduzido a distância para a líder de mercado Ambev após ter fechado em 2017 a aquisição das operações no país da japonesa Kirin Holdings por US$ 1,2 bilhão. Na época, a operação dobrou a participação da empresa no mercado brasileiro, para quase 20%.

O parque eólico no Ceará, inclusive, é um legado desse negócio --o projeto começou a ser desenvolvido pela Brasil Kirin e estava com praticamente metade das obras concluídas na época da aquisição.

"A Heineken resolveu fazer um investimento para terminar o parque e colocá-lo em funcionamento porque isso está totalmente alinhado com nossa estratégia de sustentabilidade", afirmou Nelcina.

O parque não abastece diretamente as cervejarias, porque possui contratos de longo prazo já fechados anteriormente para a venda de sua produção, mas sua geração atende o objetivo da política de sustentabilidade da Heineken de compensar suas emissões de carbono.

Nova tendência

Corporações assinaram contratos para comprar mais de 32 gigawatts em energia limpa desde 2008, um montante comparável à capacidade de geração da Holanda, com 86% dos negócios a partir de 2015 e mais de 40% só em 2018, apontou estudo da Bloomberg New Energy Finance em janeiro.

Até o momento, no entanto, os negócios estão concentrados principalmente nos Estados Unidos, que respondeu por mais de 60% dos contratos privados renováveis em 2018, com 8,5 gigawatts, o triplo do registrado em 2017.

"Cada vez mais os consumidores se preocupam em saber sobre a empresa que fabrica o que eles estão consumindo. Nunca vivemos uma era em que a reputação de uma empresa é tão importante como hoje em dia", afirmou Nelcina, da Heineken.

Além da cervejaria, outras empresas têm perseguido o uso de energia limpa no Brasil. A mineradora Vale, por exemplo, quer ter 100 por cento de renováveis já em meados da próxima década, meta que segue válida mesmo após o desastre do rompimento de uma barragem da companhia em Brunadinho (MG) em janeiro.

Dias antes a companhia havia anunciado um contrato para comprar energia de um parque eólico da desenvolvedora Casa dos Ventos, em negócio que inclui uma opção de aquisição do empreendimento de geração no futuro.

"A Vale mantém o seu plano de ter 100% de autoprodução de energia elétrica até 2025 por meio do uso de fontes renováveis e, para tanto, vem pesquisando soluções no mercado para atingir este objetivo", afirmou a companhia em nota à Reuters.

Um fator que ajuda a atrair os investimentos nesses contratos e em geração própria com renováveis é a redução nos custos de implementação de parques eólicos e solares nos últimos anos, que pode permitir às empresas acessar energia limpa a preços competitivos frente ao cobrado por distribuidoras de eletricidade, disse o sócio especialista em energia do Cascione Pulino Boulos Advogados, Daniel Engel.

"No Brasil, a energia elétrica é muito tributada e tem subsídios cruzados, então faz sentido esse mercado, tem potencial para se desenvolver mais rápido que em outros países", apontou ele, ressaltando que o nicho ainda pode ganhar algum impulso adicional caso sejam feitos ajustes na regulação.

"É um tema que discutimos muito com clientes e eles mostram muito interesse em conhecer o produto... é uma coisa recente, mas tem bastante movimento", acrescentou.